Porsche 911, música para os meus ouvidos
Consumindo o máximo de informação sobre automóveis ao longo dos anos, sempre admirei o Porsche 911 pela sua pureza, pela sua história e sucesso, nas pistas e fora delas. Embora sempre o tenha visto como uma referência nos desportivos, um carro de sonho, rápido, eficaz e de construção sólida, nunca me deixei absorver pela aura 911, nunca entrei em modo “nine eleven”, nunca vivi nesse submundo, mas sabia que existia e sempre o respeitei. Claro que, em tempos idos, as piadas acumulavam-se à volta da mesa do café, graças à sua peculiar distribuição de peso, equivalente à do martelo que tenho na mala de ferramentas, o qual vou usar para colocar o prego em que vou pendurar a “moldura sueca”, ainda não comprada, onde vou colocar o meu poster comemorativo da vitória da Porsche em Le Mans em 2015. Pois bem, os anos passam, o cabelo já não cresce como outrora e as piadas já estão gastas, mas o espírito do “martelo” continua vivo e recomenda-se.
A importância do 911 na história do automóvel é simplesmente inquestionável. Um produto da engenharia de evolução, um carro nascido, desenvolvido e jamais substituído. O verdadeiro clássico do presente, se tal contradição faz algum sentido para vós. Viver e trabalhar na zona do Estoril tem as suas vantagens. Vejo quase tantos 911 como novos utilitários cinzentos, conduzidos por jovens turistas, atulhados até ao tecto com as suas pranchas, mochilas, pranchas, óculos de sol e pranchas, também. Vejo-os novos, vejo-os restaurados, vejo-os relativamente acessíveis e absurdamente caros, vejo-os de seguida, uns atrás dos outros, com o seu trabalhar inconfundível, completando duras provas desportivas, após horas de maus tratos. Que ferramenta esta!, projectada há décadas, trabalhada, evoluída, aperfeiçoada. Apaixonante.
E as várias dimensões “nine eleven” existentes? Já pensaram, um pouco, nessa questão? O trabalhador que juntou uma “larga nota” no banco bom, e que, ao fim de um polegar e duas hérnias, conseguiu comprar o seu carro de sonho. O projecto de restauro, ao fundo da garagem, em que pai e filho trazem de volta o brilho do velho Porsche do avô. O belo 911 RSR “Jägermeister” a curvar forte, com a roda no ar. E os fabulosos 911 da Singer Vehicle Design? Steve McQueen e Robert Redford? O épico GT3 RS? Haverá carro mais fotogénico que o 911, nas suas várias gerações? Se em tempos fotografava uns quantos e, de seguida, desviava a minha atenção para outro lado, hoje em dia, nenhum escapa à minha objectiva. Será um sinal de que “vi a luz”? Uma coisa admito, compreendo ainda melhor todo o fanatismo em redor do mítico modelo de Estugarda. Escrevo estas palavras enquanto o meu amigo Gilmour saca um tremendo solo de guitarra para milhares de fãs, ao vivo, no meu computador. Os Pink Floyd são, para mim, essenciais, obrigatórios no meu mundo musical, no meu quotidiano. Assim como o 911, num futuro não muito longínquo, espero. Até lá, contento-me com o sublime “Coming back to life”, do álbum Division Bell. Melhor carro do mundo? Se não o é, para mim, está muito perto da perfeição dos Pink Floyd.