SEAT & Cupra on Tour: a união do passado com o futuro que me fez desfrutar do presente
E que presente! Ser convidado pela SEAT Portugal para um evento como este só podia resultar num dia cheio de boas memórias e experiências inesquecíveis. A Garagem chegou cedo à zona do Guincho e por ali passou algumas horas para ficar a conhecer junto dos principais responsáveis da SEAT e da Cupra o que lhes reserva o futuro e também para conduzir os seus SUV – SEAT Urban Vehicle, atenção! – bem como alguns históricos que trocaram o seu lugar na nave A122, em Martorell, pela nossa Costa do Sol.
Antes de nos lançarmos para o alcatrão e para fora dele, também, foi tempo de ficar a conhecer ao pormenor o plano traçado para os próximos anos de ambas as marcas. E neste aspecto, nada melhor do que ficar por dentro das novidades ouvindo-as directamente das melhores fontes de informação interna: Alejandro Mesonero-Romanos, director de design da SEAT e Cupra e Antonino Labate, director de estratégia e operações da Cupra, dois dos principais intervenientes na comunicação daquilo que está para vir e que ansiamos conhecer de perto.
Electrões, electrões por todo o lado…
A eletrificação é uma das, se não mesmo “a” palavra de ordem. E nem podia ser de outra forma. Mas se o futuro eléctrico que nos mostraram se confirmar, então vai ser um esticão dos grandes, daqueles que nos deixam agarrados! A quarta geração do Leon vai já ser um dos alvos desta abordagem eléctrica pois quer o cinco portas, quer a ST vão ter versões híbridas plug-in. E nem os Cupra Leon vão escapar à energia dos electrões, juntando-se ao Formentor na família dos “enchufables de alto rendimiento” como dizem os “nuestros hermanos”.
Também o Tarraco FR e, plug-in com 245 cavalos e autonomia eléctrica de 50 quilómetros marcou presença – e que presença! – na etapa portuguesa do Seat & Cupra on Tour. Para a maior sensação de robustez e o não menos impressionante “efeito monolítico” referido por Mesonero-Romanos contribuem a nova cor de carroçaria, bem como elementos como os redesenhados faróis de nevoeiro, as jantes mais aerodinâmicas, os novos spoilers e as luzes traseiras agora em formato coast-to-coast.
Passando aos modelos 100% eléctricos, é impossível ficar indiferente ao Cupra Tavascan, concept que ocupava um lugar de destaque no salão do restaurante Arriba, a base deste evento que já passou também por cidades como Oslo e Liverpool. Este concept totalmente elétrico utiliza dois motores, um por cada eixo, para uma potência total superior a 300 cavalos que o leva dos 0 aos 100 km/h em apenas 6,5 segundos. A autonomia declarada para este impressionante protótipo é de 450 quilómetros. No entanto, não foram os números que nos deixaram de água na boca. Foi o design, claramente. Se em fotografia resulta, ao vivo é outra coisa. Ao vivo, é um hino ao design automóvel e à criatividade e qualidade do trabalho da equipa de design. Gostámos muito!
O novo SEAT el-Born não faltou também à chamada. Mais discreto que o Tavascan, mas tão ou mais importante para as ambições electrificadas da casa espanhola. O primeiro carro desenhado de raiz para ser um eléctrico mas que a marca não quer que se pareça com um. “Desenhamo-lo para ser apelativo como os nossos modelos com motor de combustão interna. Não é por ser um eléctrico que deve ser aborrecido”, referiu Alejandro Mesonero-Romanos. E não é que “usted” acertou novamente? Se a versão final de produção se aproximar do que vimos, o “ID.3 da SEAT” tem no design um arma muito forte para lutar com o ID.3 da Volkswagen.
Assente sobre a plataforma MEB do grupo, o el-Born trouxe desafios mas também uma oportunidade de alterar por completo a abordagem da equipa de design que pôde assim, por exemplo, redesenhar a consola central tornando o habitáculo mais prático e funcional. O motor está colocado na traseira e produz 204 cavalos. A autonomia WLTP é de 420 quilómetros, um valor mais do que ajustado à utilização típica de um familiar compacto como o el-Born.
Largando o que aí vem e passando ao que já cá está, a SEAT levou até ao Guincho toda a sua oferta SUV. E há um que lhe serve de certeza, pois vêm em todos os tamanhos. O Tarraco para as grandes famílias, o Ateca para aqueles que ainda não precisam do espaço do Tarraco e o Arona para aqueles que não precisam ainda do espaço do Ateca. Ainda assim, espaço não falta ao Arona, gama que foi reforçada pela chegada da versão GNC, alimentada a gás natural, e que a marca disponibiliza em todos os níveis de acabamento. O motor 1.0 TSI produz nesta variante 90 cavalos e a SEAT promete uma condução em tudo igual à das versões convencionais, com as vantagens dos baixos custos de manutenção e das emissões reduzidas.
“No pasa nada”
Saímos para a estrada (e para fora dela…) com o primeiro modelo da Cupra, o Ateca, e ficámos, mais uma vez, rendidos à performance deste muito especial super SUV. Apesar de 10 milímetros mais baixo, a posição de condução do Cupra continuará a agradar a quem valoriza a boa visibilidade de uma proposta como o Ateca, mas deixará de boca aberta quem se sentar ao volante a pensar que é “all show and no go”, pois este sucesso de vendas cola-nos ao banco como poucos. Já em plena Serra de Sintra, atirámo-lo para as curvas sem pedir licença enquanto ele, impávido e sereno, se manteve entre as linhas, sem qualquer desvio de trajetória, sem vestígios de perdas de tracção ao puxar pelos 300 cavalos do motor dois litros turbo. Apertem com ele e o Ateca responde: “ No pasa nada”. E nada passa por ele…
A decisão de “separar” a Cupra da SEAT está já a dar os seus frutos. Os números não enganam, tendo a marca crescido 75% este ano, relativamente a 2018. São já 236 concessionários especializados onde 240 Cupra Masters transmitem os principais valores da marca aos clientes. Este sucesso vai conduzir não só à inauguração de espaços “flagship”, como por exemplo, no México, um dos mercados mais importantes para a marca e onde um em cada três Leon vendidos é um Cupra, como também à introdução da série especial Cupra Ateca Limited Edition. Este Ateca vai distinguir-se pela cor específica, pelos vários componentes em carbono e pela sonoridade do escape Akrapovic, 7 kg mais leve. Sim, ele já se mexia mal e fazia pouco barulho…
O melhor ainda estava para vir…
Nunca a expressão “verdadeiras peças de museu” fez tanto sentido. A nave A122 nas instalações da SEAT em Martorell é território sagrado para os fãs da marca pois é lá que renascem e repousam os mais importantes automóveis da sua história, iniciada em 1950. O património que a SEAT protege neste espaço inclui largas dezenas de exemplares recuperados à condição de novo mas que são depois expostos e conduzidos em eventos desportivos ou acções como esta em que tivemos o prazer de estar presentes. Se vê-los ao vivo é excelente, conduzi-los é especial. Muito especial.
Sair de um automóvel como o Cupra Ateca para um SEAT 850 do final da década de 60 é algo bastante difícil de colocar em palavras. Este pequeno roadster com linhas Bertone equipado com um motor de 903 cc e 52 cavalos – que chegou a equipar o Ibiza – é uma máquina de sensações. Incomparáveis às do Ateca mas não menos recompensadoras. Foi o primeiro e único descapotável produzido em série pela SEAT. A condução a céu aberto, a caixa de velocidades com curso longo mas com tacto justo, a estranha e apertada posição de condução, tudo contribui para uma experiência de condução extremamente nostálgica e gratificante. Várias foram as buzinas e acenos que o cumprimentaram no seu desfile à beira-mar. Apertado debaixo de um cinto de dois pontos, desfrutei como nunca de uma experiência que muito provavelmente não voltarei a ter. O som sempre presente, o cheiro a carro antigo e a falta de confiança nos travões foram essenciais para este ter sido o momento alto do dia, mesmo conduzindo a um palmo do chão.
Regresso à base para o devolver e despedir-me dos bons amigos da SEAT Portugal quando surge uma nova oportunidade, em dose dupla, de regressar ao passado. Uma pequena janela de tempo para conduzir as outras duas relíquias que viajaram de Martorell juntamente com o 850 Sport Spider. Deixei o azulinho onde o tinha tirado e saltei para o 1430 Familiar de 1970. Um restauro exímio, até ao último parafuso, de um carro extremamente relevante para a marca. Basicamente, conduzi um carro novo com 50 anos. O conta-quilómetros não deixava margem para dúvidas com apenas 1000 quilómetros rodados. Muito mais espaço e conforto do que no simpático 850, o que, diga-se, não é difícil, mas acima de tudo, um motor de 70 cavalos “cheio”, com força a baixa rotação. O 1430 nasceu também em 1969 e deriva do 124, distinguindo-se facilmente pelos quatro faróis quadrados. Serviu como carro de bombeiros, ambulância e patrulhou algumas das principais autoestradas espanholas com a Guardia Civil. Nestas versões, era um automóvel a evitar. Nas civis, um marco na história da mobilidade espanhola.
Para terminar em grande, o mítico Bocanegra. Não, não estou a falar de um Ibiza FR ou Cupra. Mas sim do 1200 Sport produzido entre 1976 e 1979. O primeiro SEAT com desenho específico desenvolvido no centro técnico de Martorell e que ficou famoso pelo pára-choques dianteiro negro que lhe garantiu a alcunha. O pequeno coupé de duas portas até pode só ter 67 cavalos, mas com um peso de apenas 805 kg e como me transmitiu o meu co-piloto, Oriol, colaborador do Museo SEAT, “va muy bien”. E se ia! E quem ia outra vez era eu! O dia terminou com um aperto de mão e um enorme “gracias”a Isidre Lopez, o líder da equipa que mantém a história da SEAT a rolar por essa Europa fora. Que dia!