A Abarth faz 70 anos!
O 70º aniversário da Abarth pareceu-nos a desculpa perfeita para conduzir, “de uma só vez”, um 595C esseesse e um 124 Spider. Só precisávamos do palco ideal para este nosso primeiro trabalho duplo e o kartódromo de Odivelas abriu-nos as portas para uma manhã, no mínimo, diferente. Autênticas balas em estrada, ambos nasceram, no entanto, para serem espremidos em pista. Como não gostamos de desiludir ninguém, muito menos desrespeitar o trabalho de Karl Abarth, foi exactamente isso que fizemos. Não procurámos o mais rápido, nem o mais eficaz ou divertido. Este trabalho nunca foi planeado para ser um ensaio como os outros. O objectivo sempre foi viver a experiência por dentro. Sentir a Abarth do melhor lugar de sempre: ao volante.
Karl Abarth nasceu na Áustria mas foi em Itália que viveu o seu sonho. Piloto de automóveis, sidecars e motos, Abarth transformou a sua paixão no seu próprio negócio em 1949, ano de fundação da marca do escorpião. Os seus feitos nunca passaram despercebidos. Um bom exemplo disso foi o desafio a que se propôs a bordo de um sidecar, o de bater o comboio Expresso do Oriente, no percurso de 1370 quilómetros entre Viena e Ostende.
Na Abarth, a sua primeira criação foi o Cisitalia 204 A Roadster, um modelo que utilizava como base um FIAT 1100 e que Tazio Nuvolari conduziu à primeira vitória da Abarth em 1950. Seguiram-se as conquistas dos campeonatos de Fórmula 2 e de 1100 Sport, mas a década de 50 ficou marcada pelo fabrico dos míticos sistemas de escape desenvolvidos especificamente para os modelos da marca de Turim. A Abarth cresceu e empregando quase quatro centenas de pessoas produzia cerca de 300 mil escapes por ano. O negócio rapidamente evoluiu para a produção de kits completos de preparação, bem como para o desenvolvimento de automóveis.
O ano de 1956 trouxe os primeiros recordes à Abarth quando um Fiat Abarth 750 quebrou seis registos de velocidade e distância no traçado de Monza. Em 1960 eram já dez os recordes mundiais, 133 internacionais e a Abarth tinha já alcançado mais de 10 mil vitórias. A década de 70 arrancou com mais um marco histórico para o escorpião, altura em que a Abarth passou a ser a equipa oficial de competição da FIAT. O ano de 1977 ficou marcado pela vitória no título de construtores do mundial de ralis, mas o ano seguinte consagrou Markku Alén como campeão do mundo. Ambos os títulos foram atingidos com o mítico FIAT 131 Abarth. A entrada nos loucos 80 manteve a Abarth ligada aos ralis, primeiro com o Lancia 037 e mais tarde com o inesquecível Delta HF.
Actualmente, os Abarth são mais do que versões picantes dos modelos FIAT. Continuam a usá-los como base e ainda bem, pois esta é uma ligação que queremos que perdure por muito mais do que 70 anos. Porém, um Abarth, hoje em dia, é isso mesmo. Um Abarth. É esse o símbolo que é colocado onde outrora estava o da FIAT. É este o resultado da motivação, da paixão, do engenho e da qualidade do trabalho de Karl Abarth. Ao longo da sua vida sentiu, de certeza, muito orgulho no seu trabalho e no que alcançou. Por outro lado, o que diria Abarth se se cruzasse com qualquer um dos modelos actuais, que visualmente tanto têm em comum com os originais com que trabalhou? Como gostávamos de assistir a esse momento! Abarth faleceu com 70 anos, a mesma idade que o seu legado agora atingiu. No entanto, se os primeiros 70 foram assim, mal podemos esperar pelo que nos reserva o futuro da Abarth. O espírito de Karl está bem vivo e recomenda-se!
Fotografia: Pedro Francisco
Agradecimento: Lisboa Kart