Especial Estugarda: Museu Porsche, Zuffenhausen
Pelo sim, pelo não, na noite anterior pus o despertador para as 7:30. O plano era chegar ao museu da Porsche bem cedo, pelo que sono não foi coisa que tenha tido, muito menos preguiça para me levantar da cama. Nessa manhã, o termómetro indicava 2 graus negativos e não tenho a menor dúvida de que não estaria longe da verdade, pois assim que saí pela porta e levei com o ar gélido matinal, apercebi-me que o gorro, as luvas e o cachecol, que ponderei deixar em Portugal, iam dar um enorme jeito. A ti, que sabes bem quem és, obrigado por me pores juízo na cabeça.
Com um estranho sotaque luso-anglo-germânico, perguntei ao motorista: “Porscheplatz?”
Já em plena estação de Bad Cannstatt, de café bem quente na mão, comprámos os bilhetes de autocarro que nos levariam até Zuffenhausen. Com um estranho sotaque luso-anglo-germânico, perguntei ao motorista: “Porscheplatz?” – Depois da confirmação dada pelo simpático senhor, entrámos no autocarro, mas apesar dos imensos lugares vazios, não consegui sair da zona da porta, procurando insistentemente através das janelas pela singular silhueta do museu da Porsche que há tanto tempo ansiava por visitar.
Após cerca de 25 minutos do trajecto, deixando o centro da cidade para trás, e com cada vez mais neve na berma da estrada, distinguí-o finalmente ao longe. Já fora do autocarro, Porsche à esquerda, Porsche à direita e ao fundo, o museu. No meio da rotunda estavam ”estacionados” três 911, colocados no topo de umas altíssimas estruturas que marcam aquele sítio como território sagrado para todos os petrolheads e fãs da marca. Quando finalmente me acalmei, depois de ter tirado umas 30 fotografias (praticamente todas iguais) à impressionante obra de arte, dirigimo-nos à entrada do museu.
Aqui, uma fiel reprodução do espectacular 919 Hybrid, vencedor das últimas três edições das 24 Horas de Le Mans, fazia as delícias de quem por ali estava. Foi neste primeiro carro, ainda na rua, que me apercebi do quão difícil ia ser tirar umas fotografias decentes dentro do museu tal era o número de disparos das várias máquinas fotográficas. Ainda antes de passar a porta rotativa, “perdemos” alguns momentos a observar o edifício que protege algumas das máquinas mais emblemáticas da Porsche.
Todos os exemplares expostos estão estacionados com uma precisão quase milimétrica, em linha com o rigor de construção da marca.
Acreditem, vale a pena. Com o check-in feito e já com o indispensável guia áudio na mão, começámos a visita pela oficina do museu onde alguns exemplares aguardam a sua vez para voltarem a brilhar como outrora. Ao canto, um belíssimo 356 verde restaurado de A a Z não passava despercebido e num dos elevadores repousava a carroçaria de um 911 despido de todos os seus componentes. Se neste o trabalho já ia avançado, outros aguardam, pacientemente, por uma vaga nos elevadores junto das bancadas de trabalho para o restauro que, mais tarde, lhes garantirá um lugar de destaque na área de exposição.
Na escada rolante, digna da dimensão do edifício do museu, a caminho do início da exposição, apercebi-me, uma vez mais, de que não gosto de alturas, mas claramente, esta não é, também, uma boa altura para pensar nisso. Que venham os primeiros Porsche. O circuito da exposição está delineado de uma forma muito original. Uma enorme sala comum, mas com os caminhos a percorrer bem definidos, permite dispor os carros por ordem cronológica para melhor entender como foi escrita a história da Porsche ao longo dos anos. Todos os exemplares expostos estão estacionados com uma precisão quase milimétrica, em linha com o rigor de construção da marca.
Não descreverei individualmente os modelos expostos. Nem apenas os mais emblemáticos. Não seria justo para aqueles que ficariam de fora dado o número de automóveis da colecção. Todos eles importantes e especiais, merecedores do seu espaço no museu, mas acima de tudo porque não seria feita justiça sobre tudo o que merecia ser dito sobre cada um deles.
Do 356 ao 918 Spyder, de todos os modelos que integram a família transaxle até todas as gerações e versões do 911, dos modelos de competição àqueles que nunca passaram da fase de projecto, dizer tudo sobre todos seria dizer pouco. O museu da Porsche é um ponto de paragem obrigatório, não só e em particular para os fãs da marca de Estugarda, como também, e no geral, para qualquer fã de automóveis. Na verdade, gostar de automóveis, é quase obrigatoriamente gostar da Porsche. O meu regresso a Estugarda é inevitável.