“I’m Blue… da ba dee da ba die… da ba dee… da ba die…”
Sucesso musical dos Eiffel 65, grupo italiano de eurodance do final dos anos 90, o tema “Blue (Da Ba Dee)” retratava um mundo em que tudo era azul, da pequena janela à casa do personagem, da sua namorada às pessoas com quem se cruzava na rua, da roupa usada ao Corvette que tinha parado à porta e, em boa verdade, de tudo em geral.
E a que se deve este devaneio? Tudo porque a cor Azul – em particular o ‘Classic Blue’ – foi há dias anunciada como a “Color of the Year 2020”, tendência que é há 57 anos definida pela Pantone, entidade referencial no mundo das cores e tons derivados. Mas será prática a sua aplicação no sector automóvel? Pergunto isto porque, nos últimos anos, se elegeram os tons alternativos ‘Living Coral’ (2019), ‘Ultra Violet’, ‘Greenery’. ‘Serenity/Rose Quartz’ e até ‘Marsala’ (2015) e, nem por isso a oferta de carros novos se metamorfoseou nesse leque de visual mais etéreo!
Mas agora parece que até podem acertar na mouche, já que este é um Azul bem mais forte e vincado, numa quase dedicatória ambiental direccionada ao nosso planeta – “O” tema do momento – à sua cor mais representativa quando visto do espaço ou ponte com o céu que se nos apresenta visto cá de baixo. Depois, porque não há marca automóvel que, hoje em dia, não aposte no lançamento de novos modelos recorrendo a exemplares nesta cor: há propostas eléctricas (exemplo é o novo Peugeot 208), de cariz mais desportivo (muitos dos BMW M) ou ainda no domínio SUV (o novo Mustang Mach-E). Também não há mercado que não a tenha no seu catálogo, embora em vendas algo marginais, realidade que já teve bastante mais expressão há uns bons anitos, quando os tons neutros não eram tão apreciados como no presente. Será que vamos assistir a 2020 como o ano da “Revolução Azul”?
De “frigorífico com rodas” a “must have”!
Todos sabemos, quanto mais não seja por experiência própria, aquando da compra de um carrito novo, que a cor escolhida depende de inúmeros factores, a começar pelo incontornável gosto pessoal, estendendo-se depois ao clima e/ou região, à facilidade de venda e, também, de revenda, mais tarde, como usado, etc etc. E, nestes eteceteras há o factor “moda” ou a invejosa q.b tendência de “se ele/ela tem, eu também quero um”. É assim um bocado como no caso dos SUV, estão a ver? Adiante…!
Há mercados (e segmentos) em que o Azul, nas suas várias declinações, mantém uma presença visível, embora menos significativa do que no passado, fruto da crescente ameaça vinda de outras cores que, ultimamente, têm sido reis e senhores do reino da palete. Falo dos tons Cinza/Prata que ainda hoje tornam por demais monótona a paisagem automóvel das nossas urbes, alternativos ao mais vincado Preto e ao totalmente oposto Branco, cor que no presente ano de 2019 continua a ser “A” cor automóvel por excelência a nível mundial, fazendo-o – pasme-se!!! – pelo 9º ano consecutivo!!!
Outrora com estatuto de “patinho feio”, pela sua natural associação aos veículos comerciais e da inerente tipificação de “frigorífico com rodas”, o Branco ascendeu, no início da presente década, ao olimpo colorido – em variantes metalizadas, peroladas ou brilhantes – numa (re)nova(da) moda que ainda hoje impera na grande maioria dos mercados. Isto até porque também os próprios dos electrodomésticos começaram a assumir outras cores, evoluindo das outrora mais tradicionais e estanques cozinhas. Ou seja, hoje ninguém pensa estar ao volante de uma simples “máquina branca”, mas antes aos comandos de uma viatura 100% fashion!
De acordo com o “Global Automotive – 2019 Color Popularity Report” da Axalta, uma das entidades supremas do mundo da cor nesta nossa indústria, numa perspectiva global e em termos de automóveis de passageiros, os Brancos(38%), puros e perolados, constituíram o tom preferido dos clientes, num ano em os Pretos (19%), sólidos ou brilhantes, ocupam o 2º lugar de um pódio que tem no seu degrau mais baixo os Cinzas (13%). Seguem-se os tons Prata(10%) e só depois surgem as cores primárias – que, recorde-se, servem de base a (quase) todas as restantes – com os Azuis (7%), Vermelhos (6%) e Amarelos (2%), estes últimos batidos pelos Castanhos (3%), mas à frente dos Verdes(1%), ficando o remanescente 1% para o conjunto de todas as restantes.
Ou seja, o mundo automóvel mantém-se, basicamente Neutro, pouco ou mesmo nada colorido, pois a soma dos Brancos, Pretos, Cinza e Prata atinge uns impressionantes 80% de viaturas, ficando as cores mais vivas ou garridas com apenas o restante quinto do bolo total! Traz à lembrança a célebre frase expressa por Henry Ford, quando do lançamento em 1909 do Ford T – “Qualquer cliente pode ter um automóvel pintado em qualquer cor, desde que seja em preto” – embora as razões de tal decisão fossem, na altura, outras.
E é igual em todo o planeta? Não, mas quase!
Com poderão ver nos slides abaixo, o Cinza é um surpreendente líder na Europa em 2019, destronando, pela margem mínima de 1%, o até aqui (quase) imbatível Branco. O Preto surge em 3º e o nosso amigo Azul em 5º, atrás do Prata. Do lado de lá do Atântico, na América do Norte, a ordem é diferente, com o Branco a deter uma margem considerável sobre os o Preto e o Cinza. Depois, a ordem é idêntica e as percentagens semelhantes. Curiosamente, o Azul chegou a liderar as preferências norte-americanas em 1961, com 25% do mercado (hoje tem 10%), altura em que o tal tom “frigorífico” era apenas marginal, ou reservado para outro tipo de veículos. Também na América do Sul é o Branco o líder, com praticamente metade das preferências, enquanto o Prata, Cinza, Preto e Vermelho absorvem o restante balde de tinta, ficando as restantes cores com… as borras.
A tendência alva estende-se à Ásia e África, muito semelhantes em termos de liderança, baralhando-se entre si as restantes cores do top-4. Isto porque é sabido que, em alguns mercados, os vendedores não fazem questão de mostrar (disponibilizar) toda a palete de cores, facilitando-lhes os processos de importação e o escoamento dos stocks, até adoptando discursos do tipo “ah… nessa cor ‘X’ o carro vai demorar uns quantos meses a chegar! Porque não o leva em ‘Y’ ou ‘Z’ que, curiosamente, até temos aqui no stand? Isto para além de que, quando o quiser vender, vai perder dinheiro, pois o ‘X’ não é uma cor muito valorizada no mercado…” levando a que, muitas vezes, o cliente saia do concessionário com um carro cuja cor era a sua 2ª ou 3ª opção… ou até nem era! Estranhamente, da Oceânia, nada se refere neste report!
E na nossa Tugalândia?
Por cá, infelizmente, não encontrei nenhum relatório que sumarize as cores escolhidas pelos nossos conterrâneos aquando da compra de carro, mas em face do actual parque circulante, parece haver uma tendência para inverter o que era hábito – os Cinzas, Prateados, Pretos e até Azuis Escuros – vendo-se muitos carros novos Brancos ou com cores mais garridas/diferentes, fruto do que as marcas estão a lançar, com especial incidência entre os SUV, o no crescente segmento da moda, que tem apresentado uma palete mais… alternativa!
Ao contrário do que se possa pensar, a oferta de Azul no nosso mercado é imensa, havendo alguns referenciais na história automóvel. Assim, por mim, optava entre um Alpine A110S em ‘Azul Alpine’, cor incontornável desta icónica marca francesa de modelos desportivos, ou pelo recém-lançado tom ‘Azul Vertigo’ aplicado no também novo Peugeot 208, ou até o cativante ‘Azul Magnetic’ que pode ser escolhido na restante gama da marca. Nos desportivos e havendo pilim para tal, claro que ia para os tons azuis ‘Yas Marina’, ‘Portimão’ ou ‘Estoril’ propostos em muitos modelos da BMW,ou então apostava na dupla ‘Performance Blue’ e ‘Nitrous Blue’ da Ford. Também não dizia “não” ao ‘Bursting Blue’ da Volvo ou ao ‘Blue Lagoon’ da Hyundai!
E desse lado? Quais são as cores da sua preferência? Não quer contribuir para uma mudança na actual realidade, adquirindo outra cor que dê algum colorido extra ao futuro parque automóvel da nossa Lusitânia? Um Azul, por exemplo… quiçá inspirando-se na temática do seguinte vídeo, com que encerro este texto tão “I’m Blue… da ba dee da ba die…”.
“Jota Pê”