Nomes que vão e raramente voltam
Ainda não é certo, mas quase. No entanto, não importa. Só o rumor assusta-me. Não dar continuidade ao Giulietta é mais do que perder um familiar compacto. É, de uma forma compacta, como perder um familiar. Sim, isto porque comprei um cá para casa. A meu ver, é triste perder outro nome icónico da história do automóvel. Mais um SUV para o seu lugar, muito provavelmente. E mais uma vez, a culpa não é da marca, neste caso a Alfa Romeo. Não. É do mercado, dos clientes, das modas, das cenas. Da Greta também não é porque tenho a certeza que ela não é fã de SUV. Escusam de pegar por aí.
No entanto, começo a ficar deprimido. Começo também a pensar que sou caso único no país. Sim, ao ter trocado um Ibiza por um Giulietta, troquei de carro. Um comportamento ultrapassado, fora de moda. Não troquei para um SUV, crossover, CUV, outdoor freak, forest hunter, adventure friend. Comprei um carro. Lindo de morrer, mas um carro. Como os outros. Isso mesmo, o tipo que viu esta semana a circular por aí num carro, esse hipster da posição de condução baixa, era eu. Outra crónica a falar mal de SUV, pensam vocês. Mas não. Volto a dizer, não tenho nada contra eles. Mas não entendo a febre. A quase vergonha de não ter um. O encostar à parede, com aquele olhar mortífero: “Então, Isaac, trocaste de carro? E um SUV, não?” – “Não, pah. Vais sozinho ou queres que te mande?”
Já a Toyota decidiu, no passado, abandonar o nome Corolla e trazer-nos o Auris. Há, certamente uma explicação lógica para isso. Mas agora não me apetece, Toyota. Obrigado, mas já se faz tarde e já nos deste o que sempre quisemos. Um Corolla. Isto porque, depois, numa aura de arrependimento (viram? Aura…Auris. Sim, se tenho de explicar a piada, vai-se a piada, eu sei…), aperceberam-se que não estavam bem da carola (outra! E esta? Toparam?) e voltaram atrás. E ainda bem. Não tenho nada contra o Auris, atenção, mas tenho muito a favor do Corolla.
Outro exemplo. No final da década de 90 foi a vez da Ford perder o “focus” ao trazê-lo para o lugar do Escort. Eu sei que o Focus é um sucesso e que não perderam foco nenhum. Mas tinha de usar o trocadilho ou isto voltaria a não ter piada. Que não fiquem dúvidas. O Focus é um produto cheio de qualidades e um nome consagradíssimo no mercado. Eu também sou fã. E muito. Mas tenho pena do nome Escort. Deu tanto e teria ainda tanto para dar. Vou ao autódromo: Escort. Vou a um rally: Escort. Vou ao Youtube: Escort. Vou às memórias: Escort do meu Avô. Vou aos anúncios de carros clássicos: Escort a 50 mil euros. Vou… parar. Já perceberam a ideia. Gosto do Escort.
Epá, mas agora também o Giulietta? A minha esperança é que a Alfa Romeo, caso decida não dar continuidade ao modelo, faça apenas uma pausa. O primeiro Giulietta, um poema, um quadro, uma ária com rodas, surge em 1954 e é vendido até 1962. Segue-se uma pausa de 15 anos até que em 1977 o nome Giulietta regressa com a sua configuração transaxle. É comercializado até 1985, ano em que eu chego ao mercado automóvel e “a Giulietta” volta a fugir. Passa-se um quarto de século e os nossos queridos amigos italianos colocam-no novamente no mercado sob o modelo 940, ainda em comercialização. Lindo à brava, mas sou suspeito neste aspecto, admito, e ainda muito competente quando comparado com a feroz concorrência graças às duas actualizações de que foi alvo nos seus quase 10 anos de vida.
Ainda assim, não me parece que a minha querida Giulietta vá ter sucessora e tudo indica que o seu fim está para breve. Isto considerando o que Mike Manley, responsável máximo da FCA, avançou como uma redução significativa do portfólio. Que dor, ó Mike! Ainda bem que tenho um Giulietta só para mim. Isto porque depois de pausas de 15 e 25 anos, diria que só lá para 2055 o teremos de volta. Man up, Manley! Dá-nos um novo Alfa Romeo Giulietta. Prego!
Fotografia: Pedro Francisco