SEAT Ibiza: o carro que salvou e transformou a marca fez 35 anos
Desde 1991 que há pelo menos um Ibiza em “minha casa”. No total foram quatro. O primeiro, um 1.2 GLX de cinco portas num belíssimo verde junco, chegou nesse ano como substituto do Austin Allegro dos meus Avós. Quase 30 anos depois, respira saúde e emana estilo como poucos. Adoro-o! Sim, é o das fotografias. Sim, eu sei que não tem valor comercial, mas nem 100 mil euros cobrem o valor que tem para mim. As memórias não têm preço.
Do carburador para a injecção eletrónica
O segundo juntou-se ao “XL-25-80” em 1993, um Ibiza 1.3 GLXi, já da nova geração, “Rojo Tornado”, e também já um produto Volkswagen, para o lugar do Marbella Special do meu Pai. Este Ibiza foi o carro de família durante anos, utilizado para tudo e por todos, tendo percorrido Portugal de uma ponta à outra e carregado móveis e electrodomésticos pré-IKEA um monte de vezes sempre sem se queixar. Foi também o companheiro das minhas primeiras noitadas, da liberdade que tão bem nos sabe na adolescência e das habituais parvoíces dos dezoito anos, muitas vezes com mais travão de mão à mistura do que se aconselha. Correu sempre tudo bem. O Ibiza protegeu-me.
O terceiro a integrar a família foi também o primeiro comprado usado, em 1996. Um 1.2 GL de 1987, branco, de três portas, utilizado diariamente pela minha Mãe. Foi também nele que, com catorze anos, comecei a conduzir mais do que cinco metros de cada vez, pelo menos para a frente. Isto porque com o Ibiza do meu Pai, após algumas tentativas sem sucesso, eu teimava em não atinar com a embraiagem, deixando constantemente o motor “ir abaixo”…excepto de marcha-atrás. Não me perguntem o porquê. Felizmente, a coisa resolveu-se e hoje em dia consigo ensaiar automóveis a andar para a frente. Dá bastante jeito, diga-se.
Da gasolina para o gasóleo
Depois desta breve apresentação da minha experiência com o Ibiza, já não é muito difícil perceber o porquê de, quando surgiu oportunidade de comprar um carro para mim, ter comprado um Ibiza. Um 1.9 Tdi de 2001, cinzento e também usado, com quase 200 mil quilómetros. Foi um fiel amigo durante dez anos, durante mais 200 mil quilómetros de inesquecíveis aventuras numa das melhores fases da minha vida. O que este carro me proporcionou, jamais esquecerei. Foi épico e tenho a certeza que continuaria a ser caso ainda partilhássemos a estrada.
Até à chegada da actual geração, lançada em 2017, o Ibiza contou ainda com outras duas de grande sucesso e com linhas assinadas, respectivamente, por Walter de Silva e Luc Donckerwolke. Nunca tive um só meu, mas convivi de perto com ambas. Isto porque no caso de um “bestseller” como o Ibiza, é fácil conhecer alguém próximo que conduza um diariamente. No entanto, não é fácil ser-se um “bestseller”. É preciso, antes de qualquer outra coisa, cativar pelo design, apelar às emoções dos clientes ainda antes de estes se tornarem condutores. Neste aspecto, o trabalho da SEAT tem sido exemplar.
Do 021A ao actual, 35 anos de diferenças ou parecenças?
O Ibiza é apresentado em 1984, no salão de Paris, numa fase de extrema importância para a SEAT, de transição entre a separação da FIAT, com a parceria a terminar em 1980, mas ainda antes da chegada em força do gigante alemão a Barcelona. Foi o primeiro automóvel projectado e desenvolvido inteiramente pela SEAT, marca que, até àquela altura, não detinha qualquer tecnologia desenvolvida em casa nem experiência ou capacidade de estratégia de produção.
A primeira geração do Ibiza, designada internamente por 021A, juntou as linhas Italdesign, nascidas do lápis de Giorgetto Giugiaro a nomes como a Karmann e a Porsche e foi a responsável pelas primeiras exportações da marca. Com pouco mais de 3,5 metros de comprimento, destacou-se, por exemplo, pela habitabilidade, concorrendo directamente com modelos do segmento acima. Esta abordagem ao mercado reflecte-se no Ibiza actual, desenhado por Alejandro Mesonero-Romanos.
Este mais recente Ibiza da história, aqui representado num belíssimo Magenta Mystic, não é meu mas tem sido, felizmente, uma presença regular nesta minha vida dos automóveis. E cada vez que me reencontro com um, ao volante, sinto-me como “em casa”. As memórias voltam todas. É imediato. As viagens, as experiências e as aventuras, os momentos especiais e, acima de tudo, as pessoas com quem tive e tenho o prazer de as partilhar. O Ibiza fez 35 anos e dos meus recentemente celebrados 34, esteve comigo, de uma maneira ou de outra, durante os últimos 28.
O tempo não pára e nada dura para sempre, por muito bom e estimado que seja. Infelizmente, nunca tive espaço na garagem e recheio na carteira para manter por perto todos os Ibiza que tive ao longo dos anos. Mas depois de ter aprendido a conduzir num, ter crescido noutro e ter passado os últimos dez anos num terceiro, é óbvio que mantenho e manterei aquele que herdei. O primeiro a chegar à residência Isaac. Mais do que ter começado como um carro da família, é agora um membro dela. Sim, 35 anos depois, o Ibiza até pode estar muito diferente, mas para mim, está igual ao que sempre foi. O carro que me fez gostar de carros. Parabéns e obrigado por esta viagem que está longe de terminar.
Fotografia: Tiago Costa