Mazda3 HB – O charme do design Kodo
Independentemente do motor que o equipe ou do nível de equipamento em que se apresente, há no Mazda3 HB um factor que o distingue das demais propostas do seu segmento: o impacto visual decorrente da assinatura Kodo. Se pintado num cativante Soul Red Crystal, aqui e ali entrecortado por elementos em Piano Black, juntando-se-lhe as bonitas jantes de 18 polegadas, de 5 raios duplos, em cinza maquinado, com pneus 215/45 R18, temos o chamado “charme em 4 rodas”!
Foi constante o virar de cabeças na sua direcção sempre que parava num semáforo ou quando o estacionava num parque de um qualquer shopping. Então se fosse num lugar ao sol… ui… alguns, mais envergonhados, davam-lhe aquele olhar “de quem não quer a coisa mas afinal…”, enquanto outros, mais atrevidos, até nos interpelaram sobre a cor, derretendo-se a mirar um automóvel que até parado parece ter vida própria. Tal resulta de uma carroçaria praticamente limpa de arestas, espelho da simplicidade da estética nipónica, permitindo que a luz nela se passeie livremente, levando à criação de diferente padrões/reflexos, visíveis de acordo com o ângulo de visão de cada um. Lá em Hiroshima chamam a esse design “A Alma do Movimento”, expressão que lhe dá até alguma sensualidade adicional.
Foi uma experiência que vivi amiúde, durante o tempo em que tive oportunidade de conduzir este Mazda3, aqui retratado na carroçaria hatchback (HB) e equipado com um motor Diesel Skyactiv-D de 1,8 litros e 116 cv, associado a uma caixa automática de 6 relações, tudo isto embrulhado no nível de equipamento de topo, Excellence. É um brinquedo que, por tudo – e não é pouco – o acima, está à venda por € 37.542 (sem despesas associadas ao processo de aquisição), sendo, neste caso em particular, necessário desembolsar 700 € adicionais para vir com aquela pintura tão especial. Sim, a exclusividade sempre teve o seu preço mas nem por isso os clientes se têm coibido de abrir as carteiras.
Claro que se quiser optar por uma versão mais em conta, os preços da vertente Diesel do Mazda3 HB iniciam-se mais abaixo, no limiar dos € 30.000, variando entre versões Evolve, com e sem packs adicionais, até a um Excellence de caixa manual, também de 6 velocidades. Também o há noutras cores, do sólido branco (sem custos) ao Machine Gray (€ 550), passando pelos 400 € da restante palete de mais 6 tons. Em alternativa há uma complementar e igualmente elegante carroçaria sedan de 4 portas (vulgo CS).
Então… e conduzi-lo? ‘Bora lá!
Vamos, assim, para uma viagem do quotidiano, igual à de tantos mortais. Ou será que… até não? Isto porque sair de casa de manhã, ainda meio ensonado, e ver este Mazda3 HB ali parado à porta dá-nos aquele extra kick, tipo chapada de cafeína, mas no bom sentido do termo, diferenciando-se dos carros dos vizinhos. Até há outras propostas mais in ali nas imediações, mas este produto “made in Japan” mostra-se em toda uma outra essência.
Abdicando da chave com comando, que pode ficar bolso, basta um (quase) toque no puxador da porta e estas desbloqueiam-se, dando acesso a um habitáculo high-end, onde imperam os estofos em pele, com aquecimento possível (cena que não é nada a minha onda), revestimentos granulados mas suaves ao toque, ar condicionado bi-zona, etc, tudo incorporado num design que coloca o Mazda3 praticamente a par com as equivalentes propostas de outras marcas mais premium e bem mais caras. Também há buraquinhos para tudo pelo que, uma vez arrumados, com espaço a todos os níveis e confortavelmente, os potenciais passageiros e respectivos pertences, e após regular o banco a gosto e electricamente e colocar o cinto, havia apenas que pisar o pedal travão (a caixa automática oblige), pressionar o botão de Start, e partir para a estrada.
Se o teu destino é o trabalho dá até quase para fazer karaoke, aproveitando o potente sistema de som premium Bose (são 12 altifalantes, estrategicamente colocados, mais os woofers e subwoofers), ou apenas relaxar e rir, às vezes à gargalhada, com as parvoeiras dos diferentes animadores de rádio das nossas múltiplas estações. Se, por outro lado, as notas na carteira nos pedem para mudar de mãos, é o carro ideal para ir ao supermercado, pois poder-se-á trazer este mundo e o outro, em face de uma generosa bagageira de 358 litros em modo standard (para um máximo de 1.026 litros), tal como levar bastante bagagem em viagens de férias ou escapadinhas de fim-de-semana. Independentemente do objectivo, o conjunto é bastante equilibrado, fruto de um chassis bem nascido.
Automático? Hummm… “n… im”!
Digamos que nunca fui muito adepto de caixas automáticas, preferindo aquela rotina do uma acima/uma abaixo, mas vendo bem a coisa, estas até dão um jeitaço, nomeadamente em urbes cada vez mais apinhadas de trânsito a toda a hora, lá dentro como nos respectivos acessos, levando a que a expressão “hora de ponta” seja algo do passado.
Assim, seja em modo 100% automático “D” no pára/arranca das cidades, ou no semi-manual – recorrendo-nos da manete na consola central ou das patilhas do volante – os 116 cv deste bloco Diesel até tornam o Mazda3 despachadinho q.b. Já uma maior exigência no pedal do acelerador, somando-lhe algumas passagens de caixa, com as rotações lá em cima, faz com que as médias se ressintam um bocadinho, mas em viagens sem grandes pressas, é perfeitamente alcançável algo no intervalo dos 7,0 a 7,5 l/100 km. Os processo pode ser acompanhado quase em tempo real no ecrã central TFT de 8,8 polegadas, com referências às médias instantâneas e outras das deslocações anteriores, entre diversas informações pertinentes! Pena é que o preço por litro do gasóleo já ultrapasse o euro e meio – a expressão “ouro negro” faz cada vez mais sentido – e ninguém pareça dar por isso. Quase que nos obriga a andar com o carro ao colo, sendo que a única vantagem é a de que mais cabeças têm tempo de o contemplar…!
Fruto do elevado conteúdo tecnológico associado a esta versão que a ‘Garagem’ testou, nomeadamente no domínio das ajudas à condução e de segurança, houve a necessária habituação aos inerentes “bling bling bling”, trepideira do volante e/ou outros alertas acústico/visuais que integra no abrangente pacote i-Activsense, contemplando desde os desvios das faixas de rodagem, aos excessos de velocidade face à sinalização na via, a aproximação a outros veículos, na estrada ou nas entradas e saídas de estacionamento, a iluminação adaptável automaticamente dos máximos, delimitando secções de acordo com o tráfego, etc, etc. Todo este interface entre o homem e a máquina é configurável a partir do comando rotativo na consola entre os bancos, tendo o utilizador apenas de escolher que alertas pretende receber e/ou optar por desactivar os restantes.
Esse comando também opera o sistema áudio, a navegação e a ponte para as comunicações móveis, com ligações Apple Car Play e Android Auto via sistema multimédia MZD Connect, complementando-se o leque com estes e outros comandos no volante. As informações ao condutor dividem-se, assim, por esse ecrã, pelo painel configurável à sua frente e nas projecções feitas no pára-brisas. Informação não falta, portanto!
Ah, é verdade, os números…!
Para os amantes dos números e afins, o bloco Diesel sobrealimentado de 4 cilindros em linha tem 1.759 cm3 e desenvolve os tais 116 cv às 4.000 rpm, ou um binário máximo de 270 Nm, disponível entre as 1.600 e as 2.600 rpm. Segundo a marca – não as medimos – esta versão emite 151 g/km de CO2. Já a velocidade máxima é de 192 km/h, mas também não a comprovei porque em nenhuma altura tive de ir tirar o pai da forca, nem me apeteceu perder pontos na carta, se bem que o ponteiro do velocímetro suba sempre que tal se lhe exija, levando consigo este conjunto de 1.320 kg em 12,1 segundos, na reprise dos 0 aos 100 km/h. Já agora, tirei-lhe as medidas e são 4,46 metros de comprimento de viatura, para 2,028 metros de largura (com espelhos) e 1,435 de altura.
Fruto das câmaras a 360o no seu perímetro, mais os sensores que avaliam as distâncias e o tráfego cruzado, à frente e atrás, é muito fácil estacioná-lo. Como diz o outro, “é só seguir as instruções”, neste caso as linhas coloridas que surgem no ecrã e estar atentos ao que nos rodeia, ajudados pelos “pim pim pins”(para trás) e “pom pom pons” (para a frente) para se evitarem os indesejáveis “crashhhh… já foste!”. Não, este Mazda3 ainda não se estaciona sem mãos, mas ainda assim é fácil fácil!
Voltando à bagageira, o único senão – para mim que sou algo antigo – é o recurso ao equipamento anti-furo, solução hoje quase transversal à indústria auto, que substitui a roda de socorro. Sim, permite-se ganhar uns litrinhos de espaço adicional mas não entendo, não acho que seja prático e, muito menos, saia barata a brincadeira no caso de um furo (já para não falar da impossibilidade de o usar se o estrago for maior), a não ser para os fornecedores dos pneus e destes sistemas de enchimento. Também ainda não abre/fecha sem mãos… a rever, nomeadamente neste patamar!
Prémios para todos os gostos e em múltiplas vertentes
Resta-me acrescentar que, só nestes últimos meses, o Mazda3 viu-se agraciado com diversas distinções, como os títulos de ‘Carro do Ano’ na Escócia, na Tailândia e até na China, troféus nacionais que complementam o galardão de “Vencedor Supremo” do ‘2019 Woman World Car of The Year’, avaliação feita por um painel feminino (inclui uma jurada lusa), vertente que tantas vezes e em tantas casas tem uma ENORME palavra a dizer aquando da compra de um automóvel. O modelo está, ainda e também, em avaliação nos ‘2020 World Car Awards’, acção que só termina em Abril próximo (também há um jurado português).
Mas não só, pois em termos de design – as tais linhas Kodo a que me referi no início deste texto – o Mazda3 HB foi certificado “Best of the Best” nos conceituados ‘2019 Red Dot Awards’, atribuídos a produtos de design verdadeiramente inovadores e visionários. Mais importante, no domínio da segurança esteve em alta nos dois lados do Atlântico, ao alcançar na Europa as cobiçadas “5 estrelas” da Euro NCAP (entre outras notas obteve, uns impressionantes 98% na avaliação de protecção de adultos), mais a avaliação “Top Safety Pick” do norte-americano Insurance Institute for Highway Safety (IIHS).
Como se vê por tudo o acima, ser, no presente, proprietário de um Mazda traduz todo um outro status, o mesmo que era impossível de alcançar quando a marca japonesa era semi-detida pela Ford Motor Company. Isto porque o terço do capital que esta última teve até 2015, somado ao poder que detinha na sua administração, impunha aos japoneses inúmeras restrições. Entretanto livre dessa gaiola, a Mazda abriu asas e lançou-se nos ares, hoje respirando uma invejável saúde financeira e, quer se queira, quer não, bate-se de igual para igual com muitos dos seus anteriores detractores, ganhando, gradualmente, uma visibilidade e, mais importante, valor no mercado. Ainda não está lá, mas já faltou bem mais!
E este Mazda3 HB, o primeiro exemplar de toda uma nova geração de modelos, é, sem sombra de dúvida, uma das suas ferramentas de excelência, numa real alternativa à presente enchente de propostas SUV do mercado, carroçaria que a própria marca também tem no seu catálogo. A escolha é sua, de seguir a maré ou optar pela diferenciação. Eu sei o que faria…!