WRC 2020: Uma questão de números
Pelo segundo ano consecutivo, os pilotos do Campeonato do Mundo de Ralis – vulgo WRC – puderam escolher os números que apresentam nos seus bólides nas diferentes provas que compõem o calendário de 2020. Se há uns que escolhem o dia de anos ou o número de títulos já conquistados, outros optam por números menos – digamos… – conservadores!
Esteve recentemente na estrada a 88ª edição do icónico Rallye Monte-Carlo, jornada onde a Hyundai e os belgas Thierry Neuville/Nicolas Gilsoul conquistaram, pela primeira vez para ambos os casos, uma vitória, inscrevendo, assim e em estreia, os seus nomes no já gigante palmarés de um rali que é visto como o mais icónico de todo o calendário, fruto das suas características peculiares, decorrentes de Invernos mais ou menos rigorosos que dão todo um glamour e indefinição a uma prova que tem como base um dos mais ricos principados europeus.
Deixando de lado a vertente competitiva do rali – a vossa ‘Garagem’ ainda não está a fazer coberturas mediáticas a resultados de eventos desportivos – vamos falar de coisas mais peculiares, nomeadamente os números que os carros das equipas de fábrica – este ano Ford, Hyundai, Toyota – apresentam nas portas.
As opções do Campeão em título e dos seus companheiros na Hyundai
Campeão na época passada do WRC, o estónio Ott Tanak teria, por essa razão, direito a usar em 2020 o ambicionado número “1” nas portas do seu Hyundai i20 WRC, mas, algo surpreendentemente, preferiu abdicar desse estatuto e manter o “8” que o tem acompanhado nos anos anteriores. Razão? Um taxativo “Tenho tido o nº 8 nos últimos dois anos e não vi razão para mudar”. É assim, à Campeão!
Por falar em Campeões, Sébastien Loeb é outro piloto a quem o nº “1” não é, de todo, estranho, habituando-se a tê-lo – e nós a vê-lo – em temporadas consecutivas nas portas da grande maioria dos modelos que conduziu no WRC, em defesa das cores da agora ausente (leia-se no patamar mais alto) Citroën. Com 9 títulos de Campeão do Mundo de Ralis no bolso, o gaulês de sangue germânico optou este ano, e por essa razão, pelo nº “9”, claro, deixando de lado o “19” que teve há um ano!
Já o belga Thierry Neuville, o tal que acaba de conquistar uma inédita vitória no Rallye Monte-Carlo 2020, mantém o “11” que estreou em 2019 nas portas do seu Hyundai, tendo então explicado, via Twitter, que “sempre gostei deste número, sentimento partilhado pelo meu navegador”. Teve-o em 2013, defendendo na altura as cores da Ford, numa temporada que culminou com a conquista do seu primeiro ceptro de vice-campeões…. de um total de 5! Será este ano que o “11” lhe trará aquela pontinha extra de sorte?
Ainda na equipa Hyundai, também o espanhol Dani Sordo voltou a optar pelo “6”,número que tem usado nas épocas em que tem estado com o team oriundo da Coreia do Sul. Ausente de Monte-Carlo como inscrito – esteve lá como batedor – não há ainda foto, tal como também ainda não se viu a imagem oficial do i20 WRC que o recém-contratado Craig Breen vai conduzir na Suécia, piloto irlandês a quem foi simplesmente atribuído o nº “16”.
Na Toyota há aniversários e as outras… conotações
Já o francês Sébastien Ogier, que desde 2013 teve consigo o valioso “1” em todas as viaturas que conduziu e equipas por onde passou – na Volkswagen por 4 vezes, na Ford em 2 temporadas e, no ano passado, na Citroën – tem, no presente ano, um “17” nas portas do seu novo Toyota Yaris WRC. Porquê? A razão não é declarada, pensando-se que possa ter a ver com o dia do seu aniversário, que, já agora, se festeja nesse dia em Dezembro.
No seio da armada nipónica há mais dois números que nada têm a ver com as posições relativas que alcançaram há um ano: o britânico Elfyn Evans trouxe consigo o “33” que tinha na Ford, numa escolha feita há um ano e facilmente explicada: “São as minhas iniciais invertidas”, enquanto o quase rookie japonês Takamoto Katsuta anda com um “18”, numa ponte que se poderá fazer com a idade que tinha quando, em 2011, alcançou o seu primeiro título de Campeão Japonês de Formula Challenge!
O mais peculiar de todos é o número que o muito jovem finlandês Kalle Rovanpera – estreia-se, com apenas 19 anos, no mais alto patamar do WRC, depois de várias temporadas noutras subcategorias dos ralis, em representação da Skoda – escolheu: nada menos do que um peculiar “69” para esta sua primeira temporada com a equipa oficial da Toyota. “É um bom número”, ironizou, que pode ser lido independentemente da posição em que o carro se encontre, com as rodas no alcatrão ou de rodas para o ar. Esperemos que não!
Na Ford é quase uma evolução na continuidade
Na rejuvenescida Ford M-Sport, o finlandês Esapekka Lappi trouxe consigo o “4” que tinha há um ano na Citroën, também ele se justificando com o trocadilho permitido pela substituição da vogal “A” do seu apelido pelo número que, estruturalmente lhe é mais parecido, permitindo a criação do hashtag “L4PPI”.
Também Teemu Suninen optou por ficar com o mesmo “3” nas portas do seu Ford Fiesta WRC, explicação que surgiu num lacónico tweet “Number three it is!”, tal como o jovem demolidor Gus Greensmith, que mantém o “44” de há um ano e que lhe permitiu criar o hashtag “GG44”.
2019, o ano de estreia dos números personalizados
Outros exemplos, da temporada passada, primeiro ano em que a FIA deu toda esta nova abertura na escolha de numeração personalizada, vêm do norueguês Andreas Mikkelsen, então piloto da Hyundai, que escolheu o “89” “por ser o ano em que eu e o meu navegador Anders Jaeger nascemos”, ou de Kris Meeke, na altura na Toyota, optava pelo “5”, não havendo “nada de nostálgico com isso. De facto, nem fui eu que o escolhi, foi a minha filha de 4 anos”, comentou num tweet. Já o finlandês Jari-Matti Latvala optou pelo “10”, número que lhe foi atribuído em 2017, no seu primeiro ano com a Toyota Gazoo Racing, segundo o mesmo, “aquela que foi a minha melhor temporada de sempre no WRC”, acrescentando aquela máxima do “10 noves fora 1”!
Como já se viu, pela primeira vez desde que o WRC foi criado – no longínquo ano de 1973 o campeonato de Marcas e só depois, em 1979. o de Pilotos – do plantel não faz parte um “1”, algo que também acontece há uns anos na Fórmula 1, categoria onde o multi-campeão Lewis Hamilton se tem mantido fiel ao “44” no seu monolugar Mercedes-Benz, um número que lhe diz muito dos seus tempos no karting.
Recorde-se que, em vésperas do arranque da temporada de 2019 do WRC, para dinamização da modalidade e a reboque de outras realidades, nos automóveis e fora deles, a Federação Internacional do Automóvel (FIA) – regente dos destinos das competições internacionais motorizadas, com estatuto de Campeonato do Mundo, ou de Campeonato FIA – decidiu importar a fórmula dessas outras categorias, dando início a uma nova era.
Fê-lo, nomeadamente, a espelho da NASCAR norte-americana, série de enorme sucesso em terras do Uncle Sam, onde, de há uns bons anos a esta parte, se dá aos pilotos a possibilidade de escolha de um número que os acompanha até final das suas carreiras, findas as quais o mesmo é deixado de lado, quando penduram as luvas e o capacete, só podendo ser reatribuído com autorização expressa. São exemplos o “3” de Dale Earnhardt, ou o “43” de Richard ‘The King’ Petty, entre outros, como… o “95” do Faísca McQueen, do franchise “Carros” da Disney Pixar!
No mundo das duas e quatro rodas, há centenas de outros exemplos, como sejam o “46” de Valentino Rossi no circo do MotoGP (e em tudo o resto em que se envolve), ao “53” da estrela de cinema “Herbie – Um Carocha dos Diabos”, ou os “66”, “67”, “68” e “69” usados pelos Ford GT na edição de 2016 das 24 Horas de Le Mans, que mais não são as terminações dos anos em que venceram, à geral, esta icónica jornada de resistência, impondo uma pesada derrota aos rivais da Ferrari! Tudo para ver no filme “Le Mans ’66: O Duelo”, já há muito estreado no cinema e entretanto disponível em diferentes plataformas.
É tudo muito semelhante ao que, por vezes, já há muito se vê muito ao mais alto nível no futebol, desde o “10” em tempos usado pela lenda brasileira Pelé e, mais tarde, pelo argentino Leonel Messi, tornando-o imensamente popular! Há hoje um “7” que se agarra teimosamente a um tal de Cristiano Ronaldo, número que David Beckham também usou no Manchester United, antes de mudar para o “23” no Real Madrid. Esta conjugação numérica também é objecto de culto no basquetebol norte-americano, fruto da campanha de Michael Jordan, nos Chicago Bulls, bem como o invertido “32” de Magic Johnson, dos LA Lakers, ou ainda o eterno “99” da estrela do hóquei Wayne Gretzky, e assim por diante!
Em resumo, temos que…
… no Mundial de Ralis 2020, os chamados Priority 1 Drivers (da categoria maior WRC) podem escolher os números com que correm ao longo de todo o ano, algo que facilita a sua própria comunicação. Estando o nº 1 reservado, em exclusivo, para o Campeão do ano anterior (que este ano não o quis usar), a relação das equipas oficiais é a seguinte:
- Nº 3 – Teemu Suninen/Jarmo Lehtinen – Ford Fiesta WRC (M-Sport Ford WRT)
- Nº 4 – Esapekka Lappi/Janne Ferm – Ford Fiesta WRC (M-Sport Ford WRT)
- Nº 8 – Ott Tänak/Martin Järveoja – Hyundai i20 WRC (Hyundai Shell Mobis WRT)
- Nº 9 – Sébastien Loeb/Daniel Elena – Hyundai i20 WRC (Hyundai Shell Mobis WRT)
- Nº 11 – Thierry Neuville/Nicolas Gilsoul – Hyundai i20 WRC (Hyundai Shell Mobis WRT)
- Nº 16 – Craig Breen/Paul Nagle – Hyundai i20 WRC (Hyundai Shell Mobis WRT)
- Nº 17 – Sébastien Ogier/Julien Ingrassia – Toyota Yaris WRC (Toyota Gazoo Racing WRT)
- Nº 18 – Takamoto Katsuta/Daniel Barritt – Toyota Yaris WRC (Toyota Gazoo Racing WRT)
- Nº 33 – Elfyn Evans/Scott Martin – Toyota Yaris WRC (Toyota Gazoo Racing WRT)
- Nº 44 – Gus Greensmith/Elliott Edmonson – Ford Fiesta WRC (M-Sport Ford WRT)
- Nº 69 – Kalle Rovanperä/Jonne Halttunen – Toyota Yaris WRC (Toyota Gazoo Racing WRT)
Outros eventuais pilotos de primeira prioridade que, eventualmente, venham a ser chamados para as equipas oficiais acima poderão, também eles, escolher qualquer número que não os já atribuídos. Aos restantes inscritos nas diferentes provas do WRC 2020 (ver abaixo o calendário), as respectivas organizações atribuem numerações de acordo com a quantidade de participantes no seu rali, completando as listas com números a partir do nº 20 para as categorias WRC2, WRC3 e WRC4 (e respectivas classes), tentando-se agrupar cada conjunto e, naturalmente, exceptuando-se os números já usados entre os que compõem o crème de la crème da disciplina!
Fotos: oficiais