Alpine A110 Légende GT: um desportivo ainda mais exclusivo
Acabara de começar a chover enquanto o dia, ainda cinzento, contrariava as previsões que a rádio tinha dado esta manhã. René – Renato, na nossa língua – levantou-se, irritado, da sua mesa de esplanada favorita, da sua, também favorita, croissanteria das ruas de Paris. Ficava perto da Îlle de la Cité, com vista para a Notre-Dame, perdoem-me o cliché. A mesa, essa, era de ferro com um tampo em granito claro, a contrastar com o seu semblante. Não que seja importante, mas tinha comido um croissant simples – simple, na língua deles – a acompanhar um café. Jornal em cima da cabeça, para evitar as gotas frias – perdoem-me, novamente o cliché – e deu uma corrida para atravessar a rua. A meio da travessia, e não fosse este um parágrafo romanceado, é parado de sobressalto por um carro que quase o atropelou. O som da buzina chegou-lhe aos ouvidos instantes mais tarde. A bem da verdade, o som move-se mais devagar que a luz. Uns impropérios depois – na língua que não é de Camões, mas igualmente bela – de ambas as partes e seguem o seu caminho. Neste aspecto, os franceses são bastante parecidos connosco. René chega ao passeio e coloca a mão no puxador de uma porta. Com um clique sonoro abre-se e ele entra no seu carro. Ulalá. E que carro! Um belo e rasteiro Alpine A110 Légende GT. Possante, claro, como só umas proporções daquelas conseguem fazer parecer. Um misto de rally com ópera. Um pouco como René, com o seu blusão e camisola de gola alta.
Pressiona o botão start – este já numa língua estrangeira – e o ronco do pequeno e rouco 1.8 litros, 4 cilindros, turbo, faz-se sentir. Parece pouco, eu sei, mas 252 cavalos e pouco mais de 4 segundos dos 0 aos 100 impressiona o mais exigente. A verdade é o carro é leve, ao contrário de René, que estava taciturno, talvez por causa da chuva, talvez por causa do condutor que quase o atropelara há instantes. 1123 quilos de peso, para uma relação peso/potência de 4,4kg por cavalo. Estes números fazem-se sentir nas curvas, claro. Carros leves e potentes são bons para as curvas. Em linha reta consegue chegar aos 250 quilómetros por horas, o que é muito respeitável, tendo em conta que René, na sua corridinha até ao passeio mal chegou aos 10. Diferente da versão normal, este Légende GT, de 400 unidades apenas, tem as jantes 18 polegadas, os faróis traseiros em branco translúcido e a cor Cinzento Mercure, No interior há bancos desportivos da Sabelt, em couro âmbar e alguns elementos em fibra de carbono.
Na bagageira, René tinha a sua roupa e acessórios bem acondicionados no conjunto de três malas exclusivas criadas para maximizar o espaço útil. Depois de apreciar tudo isto – embora me custe a acreditar que René tenha aberto a bagageira só para olhar novamente para as malas – clica no botão “D” da caixa automática de dupla embraiagem de 7 velocidades, o carro engata a primeira e René avança, com estilo, pelas ruas de Paris. Para trás ficam a chuva, o condutor que quase o atropelara juntamente com os impropérios e tudo o resto porque, agora, o que mais importava estava ali, naquele instante. Acelera e rasga as gotas de chuva pela estrada fora. Semáforo vermelho. Pára… mas mantém o estilo.