Citroën DS: a obra de arte que voava com Francisco Romãozinho ao volante
Tenho uma nota no meu caderno de apontamentos há já alguns meses para não me esquecer dos 65 anos do Citroën DS, aniversário que se celebra este ano, mais precisamente, no mês de Outubro. É, na minha opinião, um dos automóveis mais belos e inovadores de sempre. E sei que não sou o único a pensar assim. Não só pela enorme quantidade de entusiastas que não resistem à elegância das suas linhas – imaginem este carro a atravessar Paris na década de 1950 – mas também pelo simples facto de, logo no dia da sua apresentação ao público no salão da capital francesa, terem sido encomendados 12 mil DS. Este número subiu para cerca de 80 mil até ao final do salão, garantindo à fábrica de Paris da marca do double chevron trabalho para três anos.
O design aerodinâmico, futurista e irreverente do corpo do Déesse nasceu do génio do italiano Flaminio Bertoni, igualmente responsável pelos icónicos Traction Avant e 2CV. No entanto, o fabuloso DS destacou-se também pela inovadora suspensão hidropneumática em ambos os eixos, capaz de autonivelar a carroçaria, independentemente do peso da carga a bordo, e de oferecer um surpreendente nível de conforto mesmo sobre as, por vezes, muito degradadas estradas francesas no período que se seguiu à segunda guerra mundial. Só a elaborada suspensão e a sua evolução até aos sistemas de modelos bem mais recentes como o Xantia e o C5 mereciam uns cinco mil caracteres adicionais e não foi essa a razão que me fez antecipar a publicação deste pequeno texto.
Foi, sim, o português Francisco Romãozinho, piloto de ralis que, infelizmente, faleceu ontem. Com ele, o DS voava. Com ele, nem a suspensão hidropneumática conseguia manter as rodas no chão. Romãozinho ficará para sempre na memória dos portugueses pela rapidez do seu Citroën DS, máquina que o levou à vitória no Rally TAP de 1969 e que garantiu igualmente o terceiro lugar à geral na edição de 1973, esta ganha pelo francês Jean-Luc Thérier num Alpine. O piloto, nascido em Castelo Branco, foi também o primeiro português a correr com um carro de uma equipa oficial. Já depois de se ter retirado da competição e de se ter dedicado à hotelaria, com o seu projecto turístico Monte da Várzea em Alvega, Abrantes, terra da sua avó, Romãozinho não resistia ainda a acelerar na sua pista de autocross. Recordá-lo-emos assim, sempre a fundo. O teu DS vai continuar a voar, Francisco.
Aceda aqui a imagens do arquivo RTP
Fotos: Citroën e Anselmo Teixeira