Colin McRae: o destemido Campeão do Mundo de Rally
Parece impossível mas já se passaram quase 25 anos desde que Colin McRae se sagrou Campeão do Mundo de Rally. Recordar este momento, significa, também, que esse quarto de século já passou igualmente por mim. No entanto, embora com uma visão diferente das coisas, não fico hoje menos extasiado do que ficava enquanto criança ao ver as imagens do mítico Impreza azul de McRae a desbravar terreno pelas intensas classificativas do sempre entusiasmante Campeonato do Mundo de Rally.
Estávamos, portanto, em 1995 quando o escocês atingiu o tão desejado título mundial, um objectivo que cumpriu pouco tempo depois de ter ingressado no WRC. Colin McRae sempre se destacou pela sua espectacular condução de tudo ou nada, estratégia que, na verdade, lhe garantia impressionantes vitórias por larga margem ou, por vezes, acidentes graves (e igualmente espectaculares…) que o deixavam fora de estrada ou até mesmo, fora de prova.
A temporada de 1995 do WRC ficou marcada por vários episódios inesperados. Por um lado, a lesão de Carlos Sainz, rival interno de McRae na equipa Prodrive e Bi-Campeão do Mundo em 1990 e 1992, que o deixou longe da competição durante algumas provas. Por outro, o afastamento da Toyota por irregularidades técnicas encontradas no restritor do turbo dos até então incrivelmente rápidos Celica.
Este conjunto de peripécias fez com que a duas provas do fim, os ralis da Catalunha e da Grã-Bretanha, o título se decidisse entre os Impreza de McRae e Sainz, pilotos separados por apenas cinco pontos, com vantagem para o jovem escocês. Antes do final da prova catalã, David Richards, patrão da Prodrive, deixou bem claro que o vencedor seria o piloto que terminasse o penúltimo dia em primeiro lugar, evitando lutas no último dia que pudessem colocar em causa a chegada de ambos os carros ao final da prova, bem como o título de construtores que ficaria assim garantido. Sainz foi mais rápido, mas Colin não aceitou que a luta não pudesse ser travada até ao fim…
“Tira pé, Colin!”
E quem o tentou travar foram mesmo os seus colegas de equipa que, a partir das bermas das estradas espanholas onde estavam a ser disputadas as classificativas, bem tentaram abrandá-lo e afastá-lo da vitória. Estas imagens têm tanto de perigoso e espectacular como de esclarecedor relativamente ao espiríto vencedor de McRae que se recusou a levantar o pé. No entanto, à chegada, foi-lhe dada a ordem de ceder um minuto e dar a vitória a Sainz que viria a vencer o “seu” rali. Assim, os pilotos da Subaru arrancaram para o Rali da Grã-Bretanha em igualdade de pontos. Só que agora era a vez de McRae correr em casa e deixar bem claro, no cronómetro, quão rápido era, desta vez também motivado pela fúria e sentimento de injustiça que trouxe do asfalto de Espanha.
A prova britânica não começou bem para Colin, com um furo num pneu do Impreza que o fez perder muito tempo. No entanto, o empenho e talento falaram mais alto e o sonho de McRae concretizou-se, finalmente, depois de ter vencido 18 das 28 classificativas que compunham o 51º Network Q RAC Rally. Com apenas 27 anos, em Novembro de 1995, McRae sagrou-se no mais jovem campeão do mundo de ralis, um recorde que ainda hoje lhe pertence, ficando também para a história como o primeiro britânico a consegui-lo.
McRae viria a falecer em Setembro de 2007, juntamente com o seu filho e dois amigos, após a queda do seu helicóptero. Colin Steele McRae será para sempre relembrado como um dos maiores talentos a escrever o seu nome na história do desporto motorizado, particularmente no WRC. O seu lema “When in doubt, flat out” não podia também ser mais esclarecedor sobre a sua forma de encarar as provas em que participava, pois era sempre a fundo, mesmo quando havia ordens em contrário. Desde o arranque da classificativa até ao momento em que magistralmente desequilibrava o Impreza para atacar uma curva, feita depois com o acelerador esmagado contra o fundo. Sempre com o canto dianteiro interior à curva a beliscar gentilmente o apex enquanto o motor boxer do Impreza L 555 BAT enchia as florestas com o seu inconfundível e descompassado som, sempre a pedir mais, procurando tracção numa perfeita e interminável escorregadela às quatro rodas. É-me muito difícil, mas mesmo muito!, imaginar um cenário melhor do que este no maravilhoso mundo do desporto motorizado. Colin, sempre!
Fotos: Garagem e Autowp.ru