Fangio: o melhor piloto de todos os tempos?
Calma, que este artigo não é para deixar ninguém chateado. Pelo contrário! É, primeiro, para celebrar um dos melhores pilotos de todos os tempos: Juan Manuel Fangio. Depois, para gerar um pouco de debate, que também é preciso. Por último, serve para completar um artigo que publicámos há uns dias com uma selecção de 10 séries e filmes sobre automóveis para ver durante a quarentena. O documentário “Fangio: o Homem que Dominava as Máquinas” já está disponível na Netflix.
Juan Manuel Fangio Deramo nasceu a 24 de Julho de 1911, em Argentina, e desde cedo mostrou interesse nos carros, tendo largado a escola para se dedicar à mecânica. Para além disto, também mostrou uma grande apetência para o futebol – onde ganhou a alcunha de “El Chueco”, ou o perna torta, tal era a maneira como dobrava a perna quando rematava – tendo recebido propostas para jogar profissionalmente. Cumpriu o serviço militar e foi motorista do seu comandante. Depois do serviço militar, abriu a sua garagem e começou a arranjar e montar carros. Um desses carros foi um Ford Model A com que começou a sua carreira de piloto, aos 23 anos. As corridas em que participava eram muito longas e duras, e algumas atravessavam a America do Sul inteira. Esta talvez seja uma das razões pelas quais foi tão bom na Fórmula 1. Face à sua prestação no automobilismo, teve o apoio do governo argentino para seguir carreira na Europa. Chega à F1 no fim da década de 40, quase a chegar aos 40 aninhos. Foi rival de nomes tão grandes como Alberto Ascari e Stirling Moss.
Na época, a Fórmula 1 era uma verdadeira luta. Não apenas com os restantes pilotos, mas, principalmente, com as condições e com o carro. Sem nenhuma ajuda electrónica, e praticamente sem segurança nenhuma – tanto no carro como nas pistas – terminar um grande prémio era, por si só, uma vitória. Ainda mais se estivesse vivo para contar a história.
Muitas coisas devem ter ajudado no sucesso de Fangio: o talento, indiscutível, mas também as provas longas na América do Sul, que, comparativamente às, ainda assim mais longas do que agora, curtas provas dos grandes prémios, eram um passeio no parque para alguém que fazia regularmente provas com alguns milhares de quilómetros em carros que eram tábuas com rodas. Um passeio no parque, mas um parque cheio de pedras, buracos, sem correctores de trajectória ou pneus e sempre “prego a fundo” a mais de muitos quilómetros por hora. Travar era um conceito bastante relativo na altura. Para ganhar era preciso saber conduzir, conseguir aguentar uma coça descomunal e tê-los no sítio.
Fangio não só conseguiu ganhar 5 campeonatos – um recorde que durou 47 anos até Schumacher – ter a maior percentagem de vitória (46,15%, que ainda se mantém) como conseguiu isto tudo ao serviço de 4 marcas – Ferrari, Mercedes, Alfa-Romeo e Maserati – e só morrer, sossegadinho, aos 84 anos. Pelo caminho fintou a morte umas quantas vezes, ao volante e não só, e ficou para a história como um dos maiores pilotos de todos os tempos. Como disse Senna: “Todos os anos alguém se consagra campeão do mundo. Mas é circunstancial. O verdadeiro campeão é um só. É Juan Manuel Fangio”.