Audi quattro: 40 anos de máxima (a)tracção
Quarenta e quattro. Parece um, mas são dois números. O primeiro é, na verdade, o aniversário do segundo. Só que o segundo não é apenas um número. É um nome. E para além disso não é um nome qualquer. É um nome que ocupa um lugar muito especial na história do automóvel. A sua introdução, no longínquo ano de 1980, trouxe consigo uma tecnologia de tracção às quatro rodas que viria a redefinir os limites do que era possível em termos de motricidade e veio, consequentemente, elevar a fasquia ao nível do comportamento dinâmico dos veículos de alta performance da época.
O Audi quattro, revelado no Salão de Genebra há exactamente 40 anos, foi o responsável pela sua introdução e estreou, segundo a marca, este sistema entre os desportivos. Assim, foi ele o grande culpado desta obrigatória redefinição do conceito de máxima tracção e daquilo que era possível alcançar em termos de aderência e passagem de potência ao asfalto, minimizando as perdas de motricidade a um mínimo.
Pode ler-se, aliás, num comunicado oficial da marca datado de 1981: “Revelado originalmente no Salão de Genebra de 1980, o Audi quattro destrói os actuais padrões ao nível do comportamento dinâmico e segurança no segmento dos desportivos. O seu segredo é o inovador e desenvolvido sistema permanente de tracção às quatro rodas capaz de oferecer um elevado nível de aderência e favorecendo o comportamento dinâmico independentemente das condições climatéricas, permitindo ainda reduzir o consumo de pneus e de combustível.”
Arrisco-me a dizer que quase tudo no parágrafo anterior é verdade. Quase, porque duvido bastante da redução do consumo. Quanto ao resto, não tenho a mais pequena dúvida de que fosse a mais pura das verdades, principalmente se recuarmos até 1980. O motor de cinco cilindros tornou-se igualmente um ícone, não só pelo andamento e empurrão dos 200 cavalos, mas principalmente pelo ronco característico daquele arranjo ímpar de cilindros que viajou até 2020, sendo hoje um pilar no seio da oferta desportiva da marca dos quatro mágicos anéis.
Sabias que…
Não sendo, na verdade, um veículo desportivo, existe um outro anterior ao Ur quattro que não deixa de ser igualmente de alta performance e já usava a tracção às quatro rodas? O FF de 1967, um magnífico gran turismo produzido pela Jensen.
A ideia do quattro original surgiu durante os testes do todo-o-terreno Volkswagen Iltis que, durante o Inverno de 1976/1977, estava a ser desenvolvido pela Audi para o exército alemão. O passo seguinte foi adaptar a tecnologia num Audi 80 e os testes realizados foram encorajadores, resultando na versão final coupé quattro que passou a usar uma versão mais potente do motor 2.2 litros com cinco cilindros que a marca tinha apresentado no ano anterior. Inicialmente, a Audi planeou apenas produzir cerca de 400 unidades, mas até ao início da década de 1990 foram vendidos quase 11 500 quattro. Se a performance explica uma boa parte do sucesso, as suas linhas elegantes e, ao mesmo tempo, agressivas, fazem o resto.
O novo alvo a abater
Mas o Ur quattro não inovou apenas entre os veículos de estrada, tornando-se rapidamente no alvo a abater nos duros troços do campeonato do mundo de ralis. A sua estreia no mundo da competição não podia ser melhor. Deu-se no Jänner Rallye de 1981, uma prova realizada em solo austríaco e que o quattro venceu “sem espinhas”. No meses seguintes, este mesmo quattro venceria o International Swedish Rally com Hannu Mikkola ao volante e terminaria o Rallye de Portugal – Vinho do Porto no quarto posto com Michèle Mouton aos comandos.
No entanto, a lista de pilotos que fizeram carreira com o mítico Audi inclui ainda Walter Röhrl, campeão do mundo de ralis em 1980 e 1982 que levou a última evolução do carro alemão, o Sport Quattro S1 E2, à vitória na rampa de Pikes Peak, no Colorado, EUA, em 1987. No total, o Audi quattro conquistou dois títulos de construtores no WRC e outros dois de pilotos, um para Mikkola, em 1983, e o outro para Stig Blomqvist no ano seguinte.
O quattro original abriu o caminho para uma tecnologia que evoluiu não só nos modelos da Audi, como também nos de outros fabricantes que com ela foram igualmente bem sucedidos, quer comercialmente, quer no mundo dos ralis. No entanto, nenhum outro soa como o Ur quattro. Nenhum outro grita em tão perfeita sintonia de sons, um bruto e igualmente refinado cinco cilindros, constantemente interrompido pelas intoxicantes descargas da wastegate. O Audi quattro merece, por todas estas razões e outras que não mencionei, ser relembrado como um dos mais importantes automóveis de sempre.
Fotos: Audi