Renault Clio: as memórias dos meus últimos e dos seus primeiros 30 anos
A minha história com o Clio da primeira geração escreveu-se em várias frentes. A memória mais antiga que tenho dele é a do bonito 57-65-AQ (se a memória não me falha) dos meus primos, da mesma cor deste aqui partilhado mas infelizmente sem as típicas luzes amarelas dos franceses. Andei várias vezes nele e recordo-me igualmente, anos passados, de o seguirmos nas viagens de família em “comboio” e do fuminho azul e respectivo cheiro que já deitava pelo escape ao fim de tantos anos de serviço. No entanto, lembro-me também que muito aguentou ele, não me recordando de ter ficado na berma da estrada uma única vez ao longo de tanto tempo a acumular quilómetros.
Também na faculdade lidei de perto com um dos primeiros Clio, este ainda com caixa de quatro velocidades, sempre conduzido com o maior dos empenhos por um amigo próximo. Felizmente, não dispunha ainda de conta-rotações, pois tenho a certeza que o habitual redline de pouco serviria quando o pequeno 1.1 já estava certamente acima das 7000 rpm ao furar os túneis da Avenida Infante D.Henrique e nas provas de arranque na recta do autódromo do Estoril. A paixão pelo Clio conduziu-o eventualmente à compra de um 1.8 16 válvulas, carro em que, infelizmente, nunca andei. Por outro lado, através de um outro amigo também ele completamente viciado na Renault, tive o prazer de conduzir algo verdadeiramente especial: um Clio Williams, alvo de um restauro minucioso, um trabalho simplesmente inacreditável.
Com a segunda geração, lançada em 1998, tenho igualmente memórias muito marcantes. Foi não só um dos primeiros carros do meu grupo de amigos na fase louca da adolescência, da péssima música alta e dos escapes demasiado barulhentos. Agora que penso nisso, até me dá vontade de rir. Lembro-me igualmente de irmos em grupo ao cinema num destes Clio, mas em versão comercial. A viagem na bagageira era curta e, felizmente, por turnos. Por outro lado, foi igualmente o primeiro carro de uma ex-namorada minha dos tempos pós-liceu e por isso guardo também muitas recordações deste mais arrojado Clio. Embora tenham sido apenas dois os “Clio dois” que conduzi, conheço muitas pessoas que tiveram ou têm, ainda, um à porta de casa. Desta geração, só lamento duas coisas: nunca atinei com aquele vidro traseiro curvo e claro, nunca conduzi um V6.
A geração seguinte é talvez aquela com que tive menos proximidade, recordando-me apenas de ter andado num 1,5 dCi preto comprado novo pelo meu amigo que tinha já tido o 1.1 e o 1.8 16v da primeira geração. Lembro-me igualmente das voltinhas que com ele dei à pendura num track day no Estoril, já com o Clio devidamente rebaixado. No final, os pneus estavam mais para lá do que para cá, mas o Clio esteve à altura do tratamento, sempre com zero queixas. Passei também uma tarde com um fabuloso 2.0 16v RS F1 Team, mas no meio de tanta fotografia que quis fazer para aquele trabalho, acabei também por não aproveitar para dar um voltinha. Que falha tremenda…Para além destas recordações, só aquelas que tenho da altura em que trabalhei numa empresa de telemática e gestão de frotas, sendo um veículo extremamente comum de encontrar nas mais variadas empresas nacionais, económico, prático e fiável, e com o qual trabalhei, à distância e no local, por diversas vezes.
Pela quarta geração tenho um carinho muito especial, principalmente por marcar o início da relação que tanto estimo com a Renault Portugal. Foram eles os primeiros a ceder-me o primeiro carro para ensaio e depois do Clio 0.9 TCe que conduzi durante dois turnos nas míticas 72 horas Renault no Autódromo do Estoril, um deles à noite e sob chuva, o primeiro Clio que trouxe para a estrada foi logo um RS, na edição Monaco GP, com o qual me voltei a cruzar por aí, anos mais tarde, até mais do que uma vez. Foi uma estreia inesquecível! Seguiram-se outros Clio IV, pelas mais variadas circunstâncias da vida, quer por trabalho, quer por lazer. Mais tarde, tive inclusivamente a sorte de guiar um Trophy, puxadinho pela Renault Sport para 220 cavalos. Que brinquedo maravilhoso!
Com a quinta geração, o contacto foi, por razões óbvias, mais reduzido. Ainda assim, a grande conclusão e elogio que posso e devo fazer após tê-la conduzido é a forma como a Renault conseguiu, ao longo dos últimos 30 anos, evoluir o Clio, mantendo intacta a sua identidade e carácter. O design moderno, a muito superior habitabilidade, um excelente compromisso entre conforto e dinâmica, a dotação de equipamento tecnológico e ainda a recente aposta nas motorizações electrificadas, essenciais para a cada vez mais importante eficiência, bem como para a manutenção do seu estatuto de referência dentro do seu segmento, são disso exemplo. Estas são as minhas memórias com o Clio, um nome que, depois de mais de 15 milhões de unidades vendidas e por tudo o que conquistou, vai-nos acompanhar, certamente, por outros 30 ou mais anos.
Fotos: Renault e Garagem