Sir Stirling Moss: adeus, piloto cavalheiro!
Não tive o prazer de ver Stirling Moss correr. Cheguei 30 anos depois da sua brilhante vitória na Mille Miglia de 1955, a dura prova em que, ao volante do magnífico Mercedes-Benz 300 SLR número 722 (porque partiu às 7:22 da manhã, tendo chegado ao final mais de dez horas depois…), deixou Juan Manuel Fangio, colega de equipa e, naquela altura, campeão em título no Campeonato do Mundo de Pilotos, a mais de meia hora de distância no segundo lugar.
Pelos mesmos motivos, não assisti igualmente a nenhuma das suas dezasseis vitórias na categoria máxima do desporto automóvel, com duas registadas no Grande Prémio de Portugal, em 1958 no Circuito da Boavista e no ano seguinte no de Monsanto. Moss foi vice-campeão entre 1955 e 1958 e ficou em terceiro lugar do pódio nos três anos seguintes. É por muitos considerado o melhor piloto de todos os tempos a não alcançar o tão desejado título de campeão e é fácil perceber porquê.
O piloto inglês, a quem foi atribuído o título de Cavaleiro da Ordem do Império Britânico em 2000, ficou também conhecido pelo seu cavalheirismo e inegável fair-play, qualidade a que é imediatamente associado o episódio do GP de Portugal de 1958 em que defendeu o seu rival Mike Hawthorn que tinha sido penalizado – injustamente, aos olhos de Moss – pela organização devido a uma manobra não autorizada após uma saída de pista. Nesse ano Hawthorn foi campeão com apenas um ponto de vantagem para Moss.
Para além da sua carreira com a Mercedes-Benz, Moss conduziu para outros grandes nomes do desporto motorizado da sua época. São disso exemplo a Lotus, a Porsche, a Maserati, a Cooper, a BRM e a Vanwall. Em 1962 sofreu um grave acidente em Goodwood e esteve em coma durante um mês, episódio do qual viria a recuperar mas a partir do qual decidiu também retirar-se do lugar de piloto. Continuou a ser uma presença assídua ao longo das últimas décadas nas mais variadas provas e uma inspiração para fãs e pilotos que o admiravam.
Sir Stirling Crawford Moss deixou hoje o mundo do desporto motorizado mais pobre, menos sorridente e também menos elegante, duas características sempre presentes num campeão que nunca o foi, mas que será para sempre relembrado como um, bem como aquele a que melhor assenta a designação gentleman driver. Na verdade, era exactamente isso que ele era. Um enorme driver e um eterno gentleman. Farewell, Sir!
Fotos: stirlingmoss.com/Mercedes-Benz