Este FIAT é um Tipo fácil de se gostar
A curiosidade era muita, pois nunca tinha conduzido um dos novos Tipo da FIAT. Mas ainda antes de passarmos para a experiência ao volante, permitam-me uma observação, pois acho que, neste caso, é importante começar pela avaliação que menos interessa àqueles que estão a ler este texto porque procuram um carro novo: o seu design. O que é visualmente apelativo para uns, não o é para outros. E ainda bem que assim é. Mas não posso deixar de partilhar que admiro a homogeneidade e proporcionalidade das linhas do Tipo.
É um carro bonito, e fá-lo parecer fácil, sem exageros de linhas e vincos que por vezes só complicam. Daí estranhar as opiniões que o consideram algo anónimo e banal. Respeito, mas permitam-me discordar, mais ainda se considerarmos este mais vistoso Sport, devidamente equipado com spoilers adicionais e com o tejadilho e jantes pintados de preto a constrastar com o Branco Gelato da carroçaria, um dos dois extras deste “nosso” 25-ZQ-59 que para além da pintura só dispunha da câmara traseira como equipamento opcional. Tudo o resto é “oferecido” de série, nesta nova e recheada gama “More”.
Passando às avaliações menos subjectivas, as boas notícias continuam assim que nos aproximamos do Tipo. E começo pelo acesso ao banco traseiro, onde é impossível não reparar na abertura a quase 90 graus das grandes portas, facilitando a entrada e colocação de cadeirinhas. Já instalados, não nos podemos queixar da falta de espaço e até os vidros descem totalmente, desaparecendo dentro da porta. O passageiro do meio não se senta, obviamente, com o mesmo conforto que os dois a seu lado, mas até aqui o Tipo surpreende, com um túnel central pouco intrusivo. O rebatimento do encosto, na relação 60:40, não cria um plano de carga horizontal, mas a bagageira com formato muito regular, na configuração normal, dispõe de uns muito respeitáveis 440 litros de volume, um número excelente para um veículo deste segmento.
Passando para a frente, agradaram-me imediatamente as amplas regulações do banco e volante, bem como o desenho do banco, com suporte adequado e bastante confortável. O volante de aro grosso também merece nota positiva. O tablier utiliza materiais agradáveis ao toque na sua metade superior, mas abaixo da sua linha média e também nas portas e consola, os plásticos são claramente mais rijos, uma solução também partilhada por outros modelos bem mais caros e com outras ambições que este italiano não tem. No entanto, nada a apontar a nível de acabamentos e montagem, não tendo identificado quaisquer falhas de construção ou ruídos desagradáveis no tempo que passei com ele.
Relativamente ao motor Diesel, o 1248 cc Multijet é um velho conhecido do mercado, aqui na sua configuração de 95 cavalos. Não é de todo uma potência que permita grandes malabarismos com o acelerador, mas a verdade é que o seu desempenho surpreende e está mais do que ajustado à utilização a que o Tipo se destina. Por vezes pouco progressivo na forma como “acorda”, mostra-se com mais vigor a partir das 2000 rpm e tal como quase todos os motores Diesel pede por uma relação acima pouco depois na escalada do conta-rotações. A caixa de cinco velocidades tem um funcionamento correcto, com actuação fácil e leve, e juntamente com o Multijet permite que as médias de consumo raramente fujam dos 5 litros por cada 100 quilómetros.
Ainda ao volante, o Tipo mostra-se equilibrado e seguro na forma como curva, sem reacções imprevísiveis. O seu foco não é, obviamente, um comportamento dinâmico de topo e isso fica bem claro na resposta da direcção e nos pneus que calça, ambos revelando cedo que não gostam de grandes pressas. O Tipo é sim, um automóvel para todas as ocasiões, para todos os dias. Confortável, espaçoso, com um motor económico e com uma lista de equipamento onde só faltam os mais avançados sistemas de assistência à condução de nova geração pois este Sport traz consigo, por exemplo, os faróis de xénon, o infotainment com compatibilidade Apple Car Play e Android Auto, o ar condicionado automático e os sensores de luz e chuva.
O objectivo da FIAT com o Tipo, parece-me, foi criar um produto global, capaz de responder de uma forma transversal a tudo a que um condutor procura num automóvel. O Tipo não quer ser premium, não quer ser o mais rápido ou a referência nisto ou naquilo. Não quer ser um ícone do design, não quer ser um SUV “all show and no go” ou uma montra tecnológica do que aí vem. Quer ser, apenas e só, um automóvel para automobilistas do dia-a-dia. Sem grandes inovações e novos conceitos e sem querer criar novos segmentos que nascem e morrem uma geração depois. É, simplesmente, um automóvel. Isso agrada-me.
Agrada-me igualmente a facilidade de utilização. Agrada-me a disponibilidade de motores. Há Diesel e há a gasolina, e em ambos os casos, há uma versão mais económica com 95 cavalos e outra mais despachada com 120. Há também três formatos de carroçaria. Um Tipo do tipo mais clássico, de três volumes, outro para o tipo que já foi Pai, por exemplo, em formato familiar do tipo station wagon, e este Tipo hatchback para os restantes tipos. Mas o que me agrada ainda mais é o seu preço, neste caso, os 25 550 euros pedidos por tudo isto que aqui vêem. Pode não ser o melhor do seu segmento, mas é certamente um dos modelos com uma das melhores relações entre preço e qualidade/equipamento/espaço do mercado. Disso, não fiquem dúvidas. É todo o automóvel de que precisamos, acreditem.
Fotos: Pedro Francisco