Desafio #6: carro até 1000 euros para road trip de sonho
A ideia para este desafio foi bastante simples: um destino e um carro. Mas se para o primeiro não foi definido nenhum limite, já para as estrelas deste desafio foi imposto um preço máximo de 1000 euros. Não importa se é um automóvel pouco fiável, lento, velho e esburacado porque este é um desafio de aventura, de bermas de estrada de capot aberto e de telefonemas para a oficina mais próxima ou para a assistência em viagem. Daquelas que se recordam, vinte anos depois, à mesa do pub com os amigos. É verdade que esta minha road trip seria lenta, mas assim passo mais tempo ao volante a explorar o desconhecido. E isso, meus caros, é tempo de qualidade, garanto-vos.
João Isaac – SEAT Marbella pela North Coast 500
Não precisei de procurar muito tempo para encontrar um carro até 1000 euros que é, para mim, muito importante e perfeito para este desafio. Foi o primeiro carro comprado novo pelos meus pais e é por isso um modelo do qual tenho imensas memórias e que espero um dia vir a ter para o guardar junto do Ibiza. Falo do pequeno SEAT Marbella. Um automóvel simples, barato, fácil de manter e reparar, embora poucos componentes tenha para avariar. É o bólide perfeito para a road trip deste desafio. Sem dúvida que no destino que elegi, a North Coast 500, no “topo” da Escócia, preferia desfrutar de um Porsche 911 “novinho em folha” ou de um clássico MG B GT (verde escuro, por favor), mas tenho a certeza que a bordo do Marbella a viagem transformar-se-ia numa aventura simplesmente memorável.
Música a bordo? Levo a coluna Bluetooth. Ar condicionado? Borrifador de água se tiver calor ou manta nos joelhos para me isolar de algum do frio escocês. Fácil. Não quero luxos. Quero guiar! Até já o estou a imaginar com uma grade no tejadilho e com dois enormes faróis suplementares na frente para me lançar aos cerca de 800 rigorosos quilómetros de caminho. De Inverness até ao ponto mais a norte, na costa este, apontando depois a Oeste e fechando o circuito muitos dias depois. Pelo meio, a paisagem impressionante, as praias, as florestas, a vida selvagem e as tão típicas vilas para encostar o Marbella, petiscar e beber uma cerveja artesanal. É difícil imaginar melhor plano para as férias. Já só me falta isto: um Marbella, gasolina com fartura, fazer a playlist “Road Trip by Isaac”, dinheiro no bolso e, o mais importante de tudo, tempo.
D. L. – Great Ocean Road de BMW 323i de 1997
Para conseguir cumprir as regras deste desafio tive de pensar fora da caixa. É que fazer uma viagem com apenas 1000 euros para gastar num carro não há muitas escolhas possíveis. Começando pela estrada, optei pela Great Ocean Road situada no Sudeste da Austrália. Tal como o nome indica é um pedaço de asfalto com vista para o mar numa paisagem que transmite calma e paz de espírito e nos deixa de queixo caído praticamente de quilómetro a quilómetro. É certamente uma viagem que vou realizar. Ela é “curtinha” já que tem apenas 243 quilómetros numa ligação entre Melbourne e Adelaide.
Sinceramente já oiço o som do mar e das ondas… Ou será que estou a ouvir o ronco do seis cilindros 2.5 litros do “charuto” que escolhi? No meio de toda esta confusão sonora, apresento o carro: BMW 323i de 1997, que é como quem diz a geração E36. Para quem segue as diferentes plataformas de venda de carros, deve estar a pensar “este gajo pensa que é mais esperto do que os outros e já está a fazer batota”. Calma, passo a explicar. Tendo em conta que a estrada é na Austrália, porque não comprar carro lá? Depois de uma breve pesquisa percebi que as escolhas eram bem mais ricas! Até que me deparei com um BMW 323i com 414 mil quilómetros no odómetro e que é, segundo o anúncio, “a escolha perfeita para primeiro carro!”. Ao nível de equipamento é uma ostentação total! Tem cruise control, espelhos e vidros eléctricos e ainda ar condicionado. E sabem que mais? Tudo isto por 1000 dólares australianos, qualquer coisa como 607 euros. O resto chega para pagar o combustível e talvez uma estadia minimamente aceitável numa estância daquelas da “moda” e sempre dá para tirar umas fotos para o Instagram ao lado da minha “bomba” alemã.
Jota Pê – Um Citroën Visa 1.1 Leader de 1986 para percorrer a Europa
Sem jeito para restos de colecção fui ao portal AutoUncle e, entre os que cumpriam o repto, encontrei um Citroën Visa 1.1 Leader (1986) baratucho... 500 €! Esperando não terminar pendurado num qualquer ponto desta road trip e certo de que ele teria tudo no sítio para tão abrangente jornada (documentos e seguro), levei comigo o outro VISA… de plástico!
Carregado q.b. porque a idade já pesa, num conta-quilómetros que me jurava só ter 125 mil quilómetros, levo o essencial para 30 dias: uma mochila granjola, roupa leve de praia, itens de higiene, mais um chapéu-de-sol emprestadado de uma esplanada e uma toalha, XXXL, pelo distanciamento social. Num habitáculo de padrão axadrezado e totalmente despido de modernices – o smartphone e o tablet têm de dar para os gastos, tendo apenas de não me esquecer dos carregadores e adaptador para isqueiro, mas um de cada vez, pois a bateria não deve aguentar grandes exigências – e dos pi-pi-pis a que nos habituámos, saio de casa pela fresca, pois ar condicionado é algo que também não tem.
Aponto-o a norte, a Vigo, local de origem de alguns dos seus meios-irmãos, depois Coruña e Bilbao, antes de chegar a Barcelona. Depois, pela orla, atingi Monte-Carlo, estacionando-o frente ao Casino, junto aos milionários superdesportivos, surpreendidos pela inoportuna invasão de campo! “Onde já se viu tal desplante?”
Inspirado e com uns euros extra da roleta, visito três museus de rajada – Ferrari (Maranello) e Porsche e Mercedes-Benz (Estugarda) – numa viagem que acaba em Rennes: o meu boguinhas cinza pérola, marcado pelo tempo, voltou a casa, 34 anos depois de dali ter saído, entre um lote de 12 mil irmãos produzidos pela marca!
Segundo o Via Michelin fiz uns 5 mil quilómetros de grandes deslocações e gastei uns 800 € em portagens e gasolina, numa média de 7,7 lt/100 km do Visa com motor 1124 cc (4 em linha, 8 válvulas) e caixa manual de 4, gerindo os 50 cavalos (e 84 Nm de binário) sem preocupações com radares e afins (velocidade máxima de 144 km/h).
Cansado da epopeia, pensei: “Pena que ainda não há teletransporte”, abrindo, de seguida, os olhos e ver que, afinal, esta improvável road trip foi apenas um sonho fantástico!
Rafael Aragão – Audi A4 Avant 1.6 para ir ao Mónaco
Para este desafio, o menino Isaac decidiu complicar a vida aqui à malta. Primeiro, porque não é fácil encontrar um carro até 1000 euros que esteja em condições. Segundo, porque por muito boas que sejam as condições, não estão boas o suficiente para pegar nele e fazer uma road trip pela Europa. Ainda assim, lá fui eu aos sites dos usados e de todas as várias dezenas de carros por que passei, houve dois que me fizeram parar. O primeiro foi um Audi A3 de 1997 com o motor 1.6 litros e 100 cavalos com cerca de 250 mil quilómetros. 1000 euros certinhos. Achei que seria uma boa escolha porque a construção da Audi é conhecida por ser boa e ainda é carro para aguentar mais umas poucas dezenas de quilómetros. Problema: junta da cabeça do motor queimada.
Pronto, siga para o próximo. O problema não é nada de maior. Uma junta para aquele motor custa uns 30 ou 40 euros, mais mão de obra. O problema é que, normalmente, esse problema traz outros atrás, e bem mais caros. Sistema de refrigeração, de lubrificação, etc.. Facilmente os 30 ou 40 euros passam para uns 2 ou 3 mil se não se tiver cuidado. Decidi escolher o outro que vi. Mantemos a escolha na marca alemã, desta vez com um A4, carrinha, também de 1997 e também com o mesmo motor e “só” 200 mil quilómetros. Este, pelo menos, não tem problemas anunciados. O que não melhora o caso. Ainda assim, é vendido por um stand, o que traz outra segurança. E por 999 euros ainda me sobrava dinheiro para as pastilhas. De mentol, não dos travões. Esses iam como estivessem. Era esperar que aguentassem. A viagem? Coisa curta, para não arriscar. Ir pela costa do Mediterrâneo até ao Mónaco e voltar… provavelmente de avião ou assim.
Fotos: National Geographic; North Coast 500; Passeios e Roteiros; COLcorsa; SEAT; BMW; Citroën; Audi