Desafio #7: o carro que nos tornou petrolhead
Aqui na Garagem vemos os carros muito para além de um meio de transporte que nos leva do ponto A ao ponto B. Para nós, os automóveis são como aqueles amigos que nunca nos deixam ficar mal (quer dizer, tem dias!). Por isso, utilizamos um estrangeirismo para dar ênfase ao que defendemos e adoramos: petrolhead. No entanto, nenhum de nós nasceu com um volante nas mãos e com a camisola das 24 Horas de Le Mans vestida. Passámos por uma espécie de ritual de aprendizagem em que tivemos a ajuda de um parente próximo ou de um amigo, que tinha não um, mas “aquele” carro, vocês sabem… Aquele carro que ficávamos a admirar e a pensar no que íamos fazer se nos dessem a chave para a mão. Foi também esse carro que suscitou o interesse pelo mundo automóvel e, fazendo um fast forward para o presente, nos tornou naquilo que somos hoje, amantes de automóveis e por isso, neste desafio, decidimos homenagear o carro que realmente nos tornou petrolhead.
D.L. – O miúdo que dava tudo para recuperar o Peugeot 205 GTI do “velho”
A minha “carromania” começou com o pé esquerdo. Ainda eu não sabia dizer Pai e Mãe, já andava na parte de trás do Peugeot 205 GTI 1.6 do meu “velho”. No entanto, as viagens eram atribuladas e o meu estômago não adorava a suspensão firme do pequeno desportivo, o que levou à venda do mesmo para comprar um “carro para a família”. Uns anos mais tarde, quando já andava de kart a pedais em casa (muito à frente, eu sei), fui vendo fotos do carro e ouvindo histórias e peripécias que o meu “velho” passou com ele. Ao início, estranhei como é que o meu Pai trocou um Alfa Romeo que comprou novo no stand por um 205 GTI com alguma idade. Mas depois percebi que deu importância à emoção em vez da razão e, diga-se, ainda bem! Desde passeios que acabaram mais cedo por causa de rodas partidas em buracos, a outras que nem se deviam contar aos filhos. São várias as histórias que me deixaram com o “bicho”.
Toda a adrenalina e felicidade com que se falavam dessas aventuras, tornaram-me no petrolhead que sou hoje. Passei a olhar para o carro como uma coisa divertida, um companheiro de passeios, uma espécie de confessionário para desabafar. É surreal como um simples carro consegue mudar a maneira como olhamos para todo um mundo. Hoje, era um homem feliz se conseguisse descobrir aquele carro de novo. No entanto, decidi investir no meu próprio projecto e tentar experienciar o que ele passou, mas à minha maneira: Volkswagen Golf MK2. Vamos lá ver como isto corre…
João Isaac – GLX, Micro, Cupra e Kit Car. Sim, no meu caso, foi o Ibiza
O carro que me transformou em petrolhead, Sr. D.L.? Na verdade foram quatro. Quatro SEAT. Quatro Ibiza. O do meu Pai, comprado novo em 1993, um cinco portas com motor 1.3 GLXi pintado num belíssimo Rojo Tornado. O Ibiza Micro que com ele saiu do stand da SEAT, uma miniatura telecomandada que os meus pais me ofereceram e que foi a minha “viatura de serviço” aos 7 anos. Vinte e cinco contos de carro. Para vocês, jovens nascidos depois da extinção do escudo, 125 euros há 27 anos era muito dinheiro. Obrigado, Pais. E por último, as versões Cupra e Kit Car do Ibiza, o primeiro como expoente máximo da desportividade do modelo, o último como alvo a abater na classe F2 do Campeonato Mundial de Ralis onde se sagrou tricampeão mundial.
Todos foram importantes, à sua maneira, para a paixão que hoje tenho por automóveis. O 1.3 GLXi foi o primeiro companheiro de estrada quando tirei a carta. O pequeno Micro eléctrico sofreu com as primeiras atravessadelas e experiências “ao volante”. O primeiro Cupra da história é um sonho que espero vir a concretizar a curto prazo. E sim, quero-o em verde, com as jantes brancas. É ele o grande culpado das horas que passo nos sites espanhóis de automóveis usados. Já o Kit Car é um sonho, só isso. Ver um, ao vivo, ou ouvir o grito do motor dois litros atmosférico é um prazer que ainda não senti. Mas o SEAT Ibiza, nesta combinação de variantes, entre os que foram e são efectivamente meus, aqueles com que brinquei e aqueles com que sonho, são os principais responsáveis pelas emoções de petrolhead que muitas vezes não consigo conter. E ainda bem, diga-se. Os automóveis são, para mim, essenciais. Fazem-me sentir bem.
Jota Pê – Do “5” a pedais ao Mini dos meus encantos
Quem nunca começou por ter um carrinho (ou triciclo) a pedais, evoluindo, depois, para algo mais consentâneo com a idade, até à altura em que se tira a carta e obtém o tão desejado acesso à via pública?
Esta história até tem um twist inicial estranho já que, em pequeno, tinha pavor de automóveis acidentados, chorando sempre que deles me aproximava. Felizmente que a coisa foi passando e para isso contribuiu o meu “5” vermelho a pedais, com que acelerava no pátio do meu prédio ou nos estacionamentos dos supermercados. À altura fechados aos Domingos, ali nasciam pistas de corridas disputadas com os restantes petrolheads em miniatura.
Repintado uma e outra vez, aquele simples mas sempre impec conjunto de tubos era o meu mundo, o meu primeiro passaporte para as corridas. Com ele derreti umas quantas rodas brancas em borracha, a cada travagem mais no limite no final da rampa do acesso ao tal parque ou dando gás em curva – ok, ok… na altura parecia, ‘tá?! Findo o período de acelera infanto-juvenil e sem apetência para motos enquanto teenager, socorri-me da bicla, esperando ansiosamente pela dita carta, para, finalmente, ir para a estrada com… o carro do papá! Claro… Quem nunca?
Era um Mini 1000 castanho, artilhado a preceito – na altura não havia cá tunings – com jantes e pneus mais largos do que os limites da carroçaria, set extra de faróis e outros mimos interiores, como um conta-rotações granjola, um manómetro para a temperatura do óleo e até um corta-corrente. Também chegou a ter umas, na altura, populares listas racing brancas…!
Claro que também tive a minha quota-parte de toques, começando logo por esse Mini, pouco dias após ter a tão desejada carta. E antes que os leitores da Garagem comecem a pensar coisas, a culpa não foi minha… claro que não! Eu e o Mini já estávamos bem dentro da rotunda e o outro é que achou que, lá por ter um Porsche, era mais rápido…!
Rafael Aragão – SEAT Cupra GT
Ser petrolhead não é só o ver um carro clássico e dizer “eish, que fixe!”. É ver um carro clássico e saber qual é, o motor que tem, quando foi lançado e o porquê de ser importante para a história automóvel. É passar horas a olhar para os configuradores das marcas à procura de um carro que lhe encha as medidas, embora saiba que dificilmente irá encontrar algum, porque a garagem de sonho teria de ter muito espaço. Mas não é só isto. O que o define é a paixão que sente para com os carros e todo um sector, seja mais para a indústria ou para o desporto. É alguém que vê nos carros ou nas motas, ou nos tratores, uma paixão que o faz sentir-se bem. E existe um momento em que se torna um petrolhead, mesmo que não se recorde.
Para mim a coisa começou obviamente pelos posters dos carros, embora só tenha tido um – que nunca pendurei – de um Lamborghini Countach, obviamente. Antes disso ofereceram-me, numa festa de Natal do Exército – do pai militar – um modelo à escala de um Ferrari 288 GTO, um dos meus Ferrari favoritos, tinha eu uns 6 ou 7 anos. Ainda o tenho e já passaram muitos, muitos anos. Adorava as revistas e passava horas à janela com o meu irmão a identificar as marcas e modelos dos carros que passavam pela rua. Mas lembro-me perfeitamente de, um dia, estar a folhear uma revista e ler uma peça sobre o concept do Seat Cupra GT, um magnífico coupé de corrida com um motor V6 bi-turbo de 3 litros e 500 cavalos com uma asa traseira que mais parecia uma lâmina de barbear. Portas minúsculas e as curvas que determinaram as linhas dos Seat dos anos seguintes. Andou pelos campeonatos Espanhóis de GT e outras provas privadas e nunca foi um sucesso. Mas o atrevimento de uma marca que fazia hatchbacks e sedans em fazer um coupé com aquele estilo e linhas deixou-me apaixonado. E assim continuei. Que fixe seria voltarem a fazer um coupé deste género mas para a estrada.
Fotos: oficiais; arroba.com; Jota Pê