Entrevista Garagem: Nuno Markl e as suas aventuras ao volante
Cá está ela! A primeira entrevista da Garagem. E abrimos em grande com o Nuno Markl. Aqui na Garagem estávamos curiosos para saber como umas das personalidades mais queridas de Portugal se liga ao mundo automóvel. Falámos com o Nuno Markl, que gosta de carros assim mais de “raspão”, não fossem as portagens e o estacionamento do Ikea alguns dos seus sítios de eleição para deixar a tinta do carro. Tirou a carta há, apenas, 10 anos e na sua garagem estacionou a sua grande paixão: todo o universo da cultura pop e nerd que forma a incrível Cave do Markl.
Olá, Markl, e sê bem vindo à Garagem. Qual é a tua ligação com carros?
Durante anos e anos da minha vida era algo em que eu andava enquanto passageiro e tudo estava bem. Quer dizer: nem tudo estava bem – eu odiava os momentos em que estava dependente de pessoas para, por exemplo, abandonar uma festa que estava a ser uma valente estucha. Nesses momentos eu pensava que já devia ter tirado a carta. Depois, quando o meu filho nasceu, tornou-se mesmo imperativo ter carta e partilhar todas as deslocações com a Ana, com quem era casado na altura.
Qual é a primeira memória que tens com um carro?
Tenho uma muito forte: a do Mini verde escuro da minha mãe. Foi o carro em que andei mais na minha infância. Tornou-se icónico. Lembro-me de estar agarrado ao gradeamento da minha escola primária à espera do momento em que ela chegava nesse carro. E lembro-me que a matrícula começava por “EL”, mas não me lembro do resto.
O que tens na tua garagem?
Toda a minha cave. A minha cave, que já tenho usado para fazer directos e ter artistas a cantar, era, originalmente, a garagem da casa em que vivo. Optei por estacionar o carro à porta (há quase sempre lugar) para poder meter lá em baixo todo o meu aparato nerd: figuras, Lego, peças de colecção…
Tiraste a carta há, apenas, 10 anos. Porque demoraste tanto tempo? Gostavas assim tanto de transportes públicos?
Achava que não ia precisar. Que podia perfeitamente usar os transportes, os táxis, e não tinha de me preocupar em aprender uma coisa extra numa altura em que, arrogantemente, achava que já sabia fazer tudo o que era essencial para viver. Foi o nascimento do meu filho Pedro que mudou tudo. De facto, é uma sobrecarga muito grande para uma pessoa quando é a única com carta em casa e há um bebé na família. Por isso, lá fui. Não foi um processo pacífico, inicialmente. Achava que não ia ter jeito nenhum para conduzir. Ainda hoje fico espantado como tudo hoje me é intuitivo no acto de conduzir. Nunca me passaria pela cabeça que acabaria por ser uma coisa natural.
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És um conhecido embaixador da SEAT. Como começou a tua relação com a Marca?
Pouco depois de tirar a carta. Nessa altura algumas marcas chegaram-se à frente para eu experimentar os seus carros, mas foi com a SEAT que se deu um clique e uma amizade que vai para além de contratos e burocracias. É uma empresa muito humana, feita de pessoas calorosas e esse tem sido o segredo para a nossa ligação durar tanto. A verdade é que, ainda antes de eu tirar a carta, a SEAT apoiou o meu espectáculo Caderneta de Cromos ao Vivo e desde então tem-me ajudado em vários projectos. Quando fizemos a série 1986, eles cederam um SEAT Ibiza clássico daquela era para a personagem da Teresa Tavares, a Professora Alice.
E gostas muito de portagens, não gostas?
Tantos anos a passar por elas e a cumprimentar as pessoas que lá trabalham criaram grande simpatia por elas. E grande parte delas eram ouvintes das Manhãs da Comercial e comentavam o que tinham ouvido na rádio. E quando passei a ter Via Verde fiquei com uma espécie de sentimento de culpa por já não passar lá a cumprimentá-los.
Também dominas o estacionamento do IKEA, segundo sabemos.
Isso foi uma das histórias mais arrepiantes dos meus primeiros tempos com carta. Estacionei demasiado perto de um pilar no parque do IKEA. Por demasiado perto entenda-se: não cabia ali uma folha de papel. Sinto que há pilares a mais nos estacionamentos, essa é que é essa! Toda a odisseia de tirar de lá o carro, de o sentir a raspar contra o pilar quando tentei tirá-lo em marcha atrás e de o sentir a raspar sonoramente e prolongadamente quando se abriu espaço à minha frente foi material de que são feitos os pesadelos. A parte gira é que aproveitei toda essa história e todos os seus embaraçosos detalhes e conto-a hoje em dia nos meus espectáculos. A comédia consegue ser muito terapêutica.
Depois de tanta agressão aos SEAT, com que cara devolves o carro à marca?
Tento evitar ao máximo essas agressões, mas às vezes lá acontece um raspãozinho. Nenhum tão grave como o do IKEA! Devolvo-o envergonhado, mas eles já sabem que estas coisas às vezes acontecem. Esforço-me para que aconteçam pouco. O mais ridículo foi quando fiz um raspão 1 minuto depois de ter o carro, ainda no parque de estacionamento da SEAT, que tem umas curvas bastante apertadas.
Falando agora de algo que ainda está muito presente, sentimos que Portugal vive uma espécie de ressaca emocional depois do “Como é que o Bicho Mexe?”. Bastava fazer scroll no Instagram para ver os imensos ecos partilhados da mítica noite final dos lives. Como foi fazer parte do projecto no geral e desta noite em específico?
Foi mágico, porque não foi calculado. Muitas vezes, as melhores coisas acontecem sem grandes planos. Basicamente, o Bruno tinha dúvidas e angústias como toda a gente, quando o confinamento começou, e falar com os amigos em directo era uma espécie de terapia para ele e para nós. Incrivelmente, começou a ser uma espécie de terapia também para aquelas dezenas de milhares de pessoas que se juntavam a nós todas as noites. Foi um exercício de catarse para todos os envolvidos. E aquela noite final, ao volante do Bichomobile (um dos novos SEAT Leon) foi arrebatadora. Parecia uma obra de ficção. Era daquelas coisas que, se víssemos num filme, diríamos “ui, que forçado”. Como acontece com todos os fenómenos, houve muito amor das pessoas, mas, no dia seguinte, no Twitter, também havia aquela arrogância maldosa dos que se orgulhavam de não ter visto nenhum dos directos e de não saber do que é que toda a gente estava a falar. Depois da alegria e da magia daquela noite, creio que nunca senti tanta pena dos haters. Se lhes acontecesse uma daquelas na vida, acho que odiariam muito menos.
Uma última pergunta para terminar. Tens algum sonho que envolva carros ou o mundo automóvel?
Sou muito modesto: para mim, chegava o clássico “carros que voam”, como nos foi prometido em filmes como o “Blade Runner” ou “O Quinto Elemento”. Digo isto, mas não faço ideia se estaria apto para fazer um carro voar. Provavelmente, se eles existissem, tomaria a decisão de andar só nos carros terrestres, devido à chamada cagufa.
Obrigado, Markl, pelo tempo e disponibilidade para nos dares esta entrevista e vemo-nos em breve. Um grande abraço e boas viagens.
Fotos: Pessoais/Internet