1980: A inesquecível estreia do Audi Quattro, no Algarve
Retomando o tema da estreia em Portugal de novas viaturas para os ralis, a que nos referimos aquando da vitória, na sua categoria, do novo Peugeot 208 Rally 4, no Rali de Castelo Branco, não é a primeira vez que uma equipa com estatuto oficial mostra um carro de competição em provas realizadas em terras lusas. Os exemplos são múltiplos, com carros icónicos de diferentes categorias a fazerem a sua primeira saída competitiva no nosso país, seja logo a doer, ou ainda em modo “último teste”, antes da sua verdadeira entrada em cena.
Foi o que aconteceu com o novo 208 Rally 4, para ao novo patamar que a FIA definiu para os ralis, que, de facto, estreou-se oficiosamente em Novembro último, no Rali Comunidad de Madrid. Foi no então último rali de asfalto do campeonato espanhol que já se vislumbrou algum do potencial deste novo leãozinho que, pelas mãos dos locais Efrén Llarena / Sara Fernández, metidos no meio dos grandes, deu já muitas dores de cabeça à concorrência. Só que, a coisa não contou para o totobola, pois o carro ainda estava em desenvolvimento e a sua homologação oficial apenas aconteceria 6 meses depois, pelo que só a partir de 1 de Maio de 2020 os seus resultados podiam tornar-se oficiais. Hoje, como se sabe, esse estatuto é pertença de Pedro Antunes / Pedro Alves, que com o 208 Rally 4 da equipa PT Racing fez a tal demonstração de capacidades e consequente vitória na categoria no Rali de Castelo Branco a que nos referimos numa edição recente da ‘Garagem’.
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Assim, se os primeiros passos se deram em Madrid, a primeira corrida realmente válida ocorreu por cá, o que, apesar das devidas distâncias, nos trouxe à memória outra estreia de contornos semelhantes, daquela que é uma das maiores referências do mundo dos ralis: o Audi Quattro, com a sua tracção integral permanente. Foi no Rali do Algarve de 1980, palco onde a então recém-formada Audi Sport estrearia um automóvel que revolucionou, para sempre, o paradigma dos ralis.
Inscrito oficiosamente como “Carro 0”, o Quattro pôde, assim, abrir os troços da prova então organizada pelo Racal Clube, evento em que se discutia nada menos do que o título Europeu de Ralis desse ano e, também, a atribuição do ceptro Nacional. Entre os concorrentes apenas havia carros convencionais de duas rodas motrizes, alguns deles referenciais em alguns palcos do Mundial, como o Ford Escort RS 1800 ou o Porsche 911 SC.
Em fase de protótipo quase final – a estreia oficial aconteceria cerca de mês e meio depois, num rigorosamente gelado Rali de Monte-Carlo – o invasor germânico teve ao seu volante um tal de Hannu Mikkola, sendo-lhe as notas cantadas pelo seu inseparável Arne Hertz. E, se a coisa valesse a sério, de acordo com os registos da época, o surpreendente e robusto blindado com mais de uma tonelada de peso (1.150 kg), motor turbo de 2.144 cc de 360 cv (anunciados) e com a novidade das quatro rodas motrizes, teria sido o mais rápido em 25 das 30 especiais do rali, tempos que uma vez somados lhe permitiriam acabar a prova com cerca de meia hora de vantagem sobre os mais directos adversários, que estavam em luta titânica pelos títulos em disputa. A Audi Sport regressou, por isso, a Ingolstadt deveras satisfeita com as promessas obtidas por terras algarvias.
Assim, a enorme aviadela a toda uma concorrência que não era não passou da teoria e nos registos oficiais a vitória final ficou para Antonio Zanini, piloto espanhol a quem Miguel Oliveira, decidiu emprestar o Ford Escort RS 1800 MKII da saudosa Diabolique Motorsport, mantendo-se no banco do pendura a ditar notas, ajudando-o, assim, a conquistar o título europeu de ralis de 1980. Os lugares do pódio completaram-se com Santinho Mendes / Filipe Lopes (Datsun 160 J), que com esse 2º lugar alcançou o ceptro nacional desse ano, um degrau à frente de um dos seus adversários ao título, a dupla Mário Silva / Pedro de Almeida (Ford Escort RS 1800). O outro pretendente era o hoje malogrado Carlos Torres, em carro idêntico e navegado por António Morais, que não foi além do 14º lugar final. Saudades desses tempos…!
Outras estreias em Portugal de carros de ralis
Voltando a um passado mais recente, a anterior estreia entre nós de uma viatura com cores oficiais foi o Skoda Fabia R5 Evo, produto que a divisão de motorsport da marca checa inscreveu no Rali de Portugal de 2019, entregues aos pilotos da casa Jan Kopecký e Kalle Rovanperä. Depois de meses de preparativos, para que a nova máquina de ralis pudesse elevar ainda mais os pergaminhos da geração #1, as derradeiras afinações aconteceriam no shakedown da prova lusa do WRC. Depois, no rali em si, confirmou-se a validade do TPC, tendo a marca de Mladá Boleslav garantido uma tão desejada como saborosa dobradinha 2 na categoria WRC2 Pro, com Rovanperä a bater Kopecký, pilotos que também levaram para casa os troféus da classe.
Dois anos antes, a M-Sport estrearia, também na nossa prova maior, o Ford Fiesta R5 Evo 2, entregando 5 unidades a outros tantos pilotos: Éric Camilli, Teemu Suninen, Pierre-Louis Loubet, Gus Greensmith e Pedro Heller. Falharia a vitória na ultracompetitiva categoria WRC2 por 11,2 segundos, tantos quantos os que separaram Suninen do vencedor… um Skoda. Vá que a formação oficial venceu o rali em termos absolutos, através de Sébastien Ogier, pelo que o desaire foi apenas parcial.
Recuando outros dois anos no calendário, foi de novo a M-Sport a fazer uma estreia por cá, do Ford Fiesta WRC – versão 2015. Foi no Rali de Portugal e também como 5 unidades, 2 para os oficiais Elfyn Evans e Ott Tänak, e as restantes para Martin Prokop, Lorenzo Bertelli e Robert Kubica. O piloto estónio viria a ser o melhor de entre todos, sem que conseguisse melhor do que um 5º lugar!
Pois… nem sempre a sorte protege os audazes!
Fotos: Oficiais / Racal Clube / Artur Lemos – Histórias das Corridas / AIFA / Skoda Motorsport / M-Sport