MG: De súbdita do Reino a conquistadora chinesa

Há dias falámos do regresso da MG à Europa, processo que, no caso britânico já decorre há alguns anos e que está a ser feita com recurso a vários modelos, mas que em termos continentais está a arrancar e que se baseia na novidade mais recente da marca, o ZS EV, versão 100% eléctrica do seu SUV intermédio. Ficou, por contar, um pouco da história que levou um outrora conceituado súbdito do Reino de Sua Majestade a tornar-se numa das vertentes de um dos maiores construtores automóveis chineses da actualidade. Vamos, assim ao “Era uma vez…”!

Apesar de ser nascida e criada num país que se mantém estoicamente de pé, ainda que já com alguma argamassa para reforçar as rachas das suas fundações monárquicas, a história da MG faz-me lembrar o conto “Cinderela”, do escritor francês Charles Perrault (1697), entretanto celebrizado nos ecrãs pela Disney, uma menina que nasce rica, filha de um importante membro de um determinado reino longínquo, mas que com a morte dos pais se vê escravizada pela madrasta e pelas suas duas filhas, vivendo as agruras da vida, pelo menos até que um príncipe e um sapatinho de cristal a salvam de um futuro potencialmente ainda mais sombrio. Passe-se o paralelismo da história de fadas, a MG faz-me lembrar um pouco isto.

Uma curiosidade é o facto de a origem deste conto poder remontar ao Século XVI, pela pena do italiano Giambattista Basile, no seu popular “La Gatta Cenerentola” (ou “A Gata Borralheira”), ou ainda – e aqui está outro paralelismo deste texto – a outro ainda mais antigo, originário da China, escrito por volta de… 860 a. C.! Será um sinal à actual realidade?

Da fundação à (quase) ruína e daí ao salvamento

Fundada em 1924, no Reino Unido por Cecil Kimber, a M.G. (acrónimo de “Morris Garages”) era um pequeno negócio de retalho da região de Oxford, apresentando-se como marca de modelos desportivos, que viria a tornar-se famosa, entre outros, pelos roadsters MGA e MGB, embora do seu portefólio também constassem outro tipo de carroçarias.

CameraCars: Captar aquela imagem… a 300 km/h!

Nascida para dar resposta às necessidades das indústrias do cinema, televisão e da publicidade, a Pursuit Systems muniu-se de um set de maquinaria pesada com variadas centenas de cavalos de potência.

Com contínuos sucessos fantásticos, seguiu-se uma uma história cheia de solavancos, muito pelo facto de a empresa ter sofrido, ao longo da sua história, múltiplas transformações. Tornar-se-ia M.G. Car Company Limited seis anos depois, para nas décadas seguintes se ver integrada em empresas de renome como as (entretanto extintas) Morris Motors, BMC, British Leyland e Austin Rover, entre outras –até chegar a 2005 num já muito moribundo MG Rover Group. Atenta ao negócio e com os olhos colocados no atractivo negócio automóvel europeu, o Nanjing Automobile Group viria a comprar a MG Car (e outros activos do falido grupo britânico), integrando-a no processo que levou ao surgimento da multinacional chinesa SAIC Motor Corporation Limited, hoje considerada como um dos “4 Grandes” grupos automóveis do país.

Ícones inesquecíveis do mundo motorizado

No que se refere a modelos, da sua história fazem parte mais de 20 roadsters, do 14/28, o primeiro, de 1924, até ao bem mais recente TF, cuja produção terminou em 2011, passando pelos icónicos e best-sellers MGA e MGB, propostas que iniciaram o recurso a muitas outras letras do alfabeto, a que se juntaram versões Midget, Magna e Magnette. Mas houve também berlinas e coupés que até resultaram na criação de versões de competição, sendo o MG Metro 6R4 de ralis um dos seus expoentes.

Hoje a entretanto rebaptizada MG Motor regista um sucesso assinalável em mercados a oriente como a China, Índia, Malásia e Filipinas, em alguns países do Médio Oriente e mais a sul, na Nova Zelândia e Austrália, apostando em propostas como o citadino MG3, o familiar médio MG5 (ou MG GT em alguns mercados), a berlina MG6 e o SUV ZS (ambos com motores a combustão e eléctricos), para além de dois outros SUV, o GS e o HS.

Resta-nos, assim, aguardar para ver quais dessa já considerável gama irão chegar ao Velho Continente depois do novo ZS EV, a proposta agora lançada. E, claro, saber se e quando começarão a circular modelos com o selo “made in China” nas nossas estradas!

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