Renault Mégane R.S. Trophy-R: o exótico mais barato do mercado
Como qualquer fã de automóveis, também eu quis, quero e vou continuar a querer ser um piloto de competição. Vontade tenho muita, talento tenho zero, mas a bordo do Trophy-R senti-me na pele de um. E foi bom, muito bom. Para além da rapidez, faltou-me apenas o capacete, isto porque o Renault Mégane RS Trophy-R é um verdadeiro “full package” de emoções fortes. E a emoção começa logo ao olhar para ele. Ah e tal, as jantes vermelhas e os autocolantes e isto e aquilo. Hein? Já olharam bem para ele? Para ser um verdadeiro carro de corridas só lhe falta mesmo um número na porta e sendo este o exemplar 4 de 500 – sim, porque este é um Mégane de produção muito limitada – era esse o número que lá punha. Gozem à vontade, a sério. Ele já dá tanto nas vistas que na verdade pouca diferença faria. Aliás, em apenas 24 horas este carro apareceu por diversas vezes nos habituais grupos de “car spotting” do Facebook. Não é, por isso, o carro indicado para passar despercebido. Fui só beber um café e tive 300 gostos. Se tivesse postado uma foto da “bica”, tinha tido 2, e por pena.
Acordar o motor é desde logo uma experiência graças à ligeira aceleradela com que imediatamente se mostra. E admito que não resisti, de quase todas as vezes que o liguei, a colocar imediatamente o modo Sport em acção. Os modos Comfort e Neutral são bons para os dCi desta vida e o Race mais indicado para condução em pista, com a electrónica a ser mandada janela fora – pelas da frente porque as das portas traseiras não abrem – e a obrigar as mãozinhas a entrarem ao serviço. O Sport é por isso o meu modo de eleição. O escape da Akrapovic é, literalmente, um estrondo. Ou melhor, um monte deles! O tiroteio infernal que de lá sai é um constante convite a esmagar o acelerador, ímpetos que nos são abrandados pelos não menos impressionantes travões carbo-cerâmicos com discos de 390 milímetros. Trezentos. E noventa. A chiadeira com que trabalham transformaram as entradas na minha praceta em travagens para a curva 1 do Estoril. Adoro. E vinha a 40 km/h.
O motor mantém os 300 cavalos do RS Trophy “não R”. E chega bem. A Renault Sport focou-se em reduzir o peso, esse sim, o maior obstáculo à aceleração, travagem, comportamento dinâmico e, por que não, consumos. Não há segunda fila de bancos. Não há eixo direccional traseiro. Para quê? Ele não precisa. A suspensão regulável é da Öhlins e é garantia de que em curva as únicas coisas que saem da trajetória são os nossos órgãos internos. Não há qualquer sinal de adornar de carroçaria e nas travagens fortes, umas atrás das outras, não há sinais de fadiga. E há um segundo set de jantes, totalmente em carbono, que valem 15 mil euros e que reduzem ainda mais o peso não amortecido. É um carro de sensações, daqueles em que se sente a roda traseira interior à curva a regressar ao solo quando abrimos a direcção e apontamos à seguinte, com o autoblocante constantemente a incentivar-nos a acelerar mais cedo e os Brembo a travar mais tarde. É um carro vivo que, quando provocado via volante ou acelerador, solta a traseira, para depois de novamente alinhados, voltarmos à carga. Em aceleração pura, o motor “explode” acima das 3000 rpm e cola-nos nas baquets Sabelt. Não sei que dizer mais.
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80 mil euros por um Mégane? Só podes estar louco.
Agora que já não o tenho comigo, estou louco para o ter de novo. Quando o conduzi, louco estava. Mas querê-lo muito não faz de mim um louco. Em grande parte porque posso dizer que o quero muito não estando minimamente tentado. A conta bancária fala por si. Mas quem pode largar a nota, se o conduziu, sabe o que está a fazer. Loucura não se aplica aqui. São 10 os Trophy-R com matrícula portuguesa e são assim 10 as pessoas em território nacional que podem dizer que conduzem um carro de corridas para estrada. Porque é isso que ele é. Uma arma. Um automóvel que desafia a física como poucos, com uma dinâmica ágil, eficaz e entusiasmente. Não tem bancos atrás e ali, como referi, as janelas nem sequer abrem. O capot é em fibra de carbono e tem uma enorme entrada de ar. Atrás está um escape que custa os olhos da cara e, certamente, os tímpanos do ouvido, mas ainda bem.
Os mais de 80 mil euros que a Renault – Sport, neste caso – pede por esta sua mais recente criação não compram um carro. Compram duas matrículas que lhe permitem sair dos circuitos mundiais onde bate recordes e das classificativas de asfalto onde daria certamente muita dor de cabeça a verdadeiros carros de ralis. No circuito de Nordscheleife, o recorde foi batido mas a diferença foi pequena porque, segundo Laurent Hurgon, o piloto de serviço responsável pelo seu desenvolvimento, não lhe foi possível “pôr temperatura” nos pneus traseiros num dia em que o termómetro marcava 1 grau negativo. Já em Spa, na Bélgica, um traçado bem mais pequeno, o Mégane retirou 5 segundos ao recorde. E entretanto já foi também ao Japão, à pista de Suzuka, provocar novamente a Honda e, em particular, o seu Civic Type R.
É desconfortável, barulhento e pouco prático. É um segundo carro, a solução para uma crise de meia idade, um brinquedo caro e que nada tem de discreto. E eu não o queria de maneira diferente. É muito dinheiro? É. Mas se não incluíssemos as jantes em carbono e os poderosos e infatigáveis Brembo, o preço já descia para uns menos dolorosos 57 mil euros. Menos preparação, é certo, mas ainda assim uma relação euros/cavalos/emoções muito tentadora. Mas não tenho quaisquer problemas em admitir. Dar 57 mil euros ou ligeiramente mais de 80 mil euros é-me neste momento indiferente. Por isso, quero tudo! Oito jantes, travões carbo-cerâmicos e, principalmente, as duas matrículas que transformam este Mégane de corridas num carro de estrada.
Fotos: Automotiva