Ford Puma 1.0 EcoBoost MHEV: O epíteto da evolução das espécies
Estávamos em 1859, ano em que o naturalista britânico Charles Darwin publicava o livro “A Origem das Espécies”, mudando radicalmente o conceito de biologia com a teoria da evolução das ditas, desconstruindo a alegada origem do ser humano a partir de uma concepção divina, que vigorou até meados do Século XIX, mesmo entre os mais reputados cientistas ocidentais. Darwin defendeu – e comprovou – a existência de lutas pela sobrevivência na natureza, em que o que sobrevive não é necessariamente o mais forte, mas o que melhor se adapta às condições do ambiente em que vive.
Eis-nos agora em 2020 e, passe-se a analogia, acompanhados por uma espécie evoluída do outrora pequeno e irrequieto coupé Puma, lançado em 1997 e (alegadamente) extinto em 2002. Para a Ford a espécie Puma evoluiu e ressurge num formato SUV, engrandecido em musculatura, com um coração a gasolina que, ao sabor dos tempos, se vê ajudado por uma solução de contornos eléctricos.
O Puma que vos trazemos é, por isso, um conceito diverso do de há 23 anos, apenas mantendo a denominação, a construção sobre a estrutura de base do utilitário Fiesta, de quem também herda alguns elementos mecânicos e equipamentos, tal como aconteceu na altura, e ainda os faróis da frente tipo asa, naturalmente mais estilizados e agora com tecnologia LED. E pronto, é tudo!
O novo felino inside & out
Vamos, assim, debruçar-nos sobre esta evoluída espécie do Puma, aqui presente no nível de equipamento semi-desportivo ST-Line X e dotada do multipremiado motor minimalista 1.0 EcoBoost (998 cc) com tech mild hybrid, numa versão de 125 cv (92 kW). Também o há com 155 cv (114 kW), mas fica para uma próxima.
Despachemos a questão do preço, para depois entrarmos nos pormenores: 27.446 € (sem despesas) é quanto se tem de dar por esta versão que ensaiámos, incluindo cerca de 2.000 € de opcionais (pintura premium, faróis full-LED e barras de tejadilho). A aproveitar são as campanhas de apoio à compra que a Ford tem a decorrer, descritas no final do texto deste ensaio. Há, depois e ainda, que contar com o IUC anual (103,12 €) e os gastos inerentes à sua utilização e manutenção… nada de novo neste capítulo!
Um dos opcionais é, como disse, a cor ‘Metropolis White’ que o reveste, pela (nada) módica quantia de 864 €! Embora elegante – os actuais brancos já não são aqueles tons frigorífico sem piada nenhuma – preferia outra mais chuaáááá, como o ‘Desert Island Blue’ ou o ‘Lucid Red’, mas preferências à parte, esse branco contrasta com os pormenores preto ébano (ou piano) das grelhas da frente, frisos laterais, pára-choques traseiro e barras de tejadilho, até fazendo pandan com o habitáculo, de tom ambiente escuro.
Ainda em termos exteriores, este Puma ST-Line X vem de série com um spoiler traseiro que lhe dá um kick mais sporty, ou não fosse ele uma (re)criação, bem mais em conta, da linha ST da Ford Performance, braço desportivo da marca norte-americana, aqui também responsável pelos acertos da suspensão – desportiva, claro! – com amortecedores e molas específicas. Ah, não esquecer as bonitas jantes de liga leve de 18 polegadas, que centram pneus Continental EcoContact 6Q, de medida 215/50 R18 V, também parte do equipamento de série.
Abertas as portas, com a função Ford KeyFree, somos recebidos por um Puma que, embora (ainda) não nos rosnando, encanta pela animação gráfica que surge no cluster, por detrás do volante. Uma vez sentados, nuns bancos de conforto assinalável, com estofos em couro parcial Ebony e fácil ajuste manual, depara-se-nos uma estrutura central tipificada da Ford. De aplaudir o volante em couro, de base horizontal e costuras em vermelho, tom que aparece aqui e ali noutros pontos do habitáculo, entrecortado a azul na animação do cluster e no ambiente. Pedais em liga leve e topo da manete da caixa em alumínio compõem o ramalhete.
De base Fiesta, o Puma parece algo acanhado em termos de espaço interior. Se à frente não há grande margem para os braços de condutor e passageiro andarem para cá e para lá, até se atropelando um pouco se ambos usarem o apoio de braços central, atrás para acomodar 3 pessoas a coisa complica-se um bocadinho, pelo que será melhor usar o novo Puma, como um 4 lugares… e 1/2!
Bagageira com um mega-brinde extra
No extremo oposto está a bagageira. Grandinha q.b. para um SUV do segmento B, com os seus 401 litros se carregado até ao nível da chapeleira, ou 1.161 litros, aproveitando o rebatimento dos bancos traseiros e com tralha até ao tejadilho, dotada de um portão traseiro que integra uma chapeleira moldável que se eleva com o dito, assegurando um acesso sem entraves à área, e um piso ajustável com uma mão em 3 posições.
Mas é sob o mesmo que se revela uma espécie de um tesouro escondido, uma Ford MegaBox (que faz jus ao nome), espaço profundo de 80 litros para objectos mais verticais, para esconder muita coisa de olhares indiscretos, ou para colocar equipamentos sujos ou enlameados. Forrada com tecido sintético e com abertura de drenagem, permitem-se lavagens in loco. O que lá pus coube tudo, de compras a equipamentos para a praia, sem que se sujasse a base, podendo até depois lavar tudinho para ficar impec quando o devolvesse ao dono!
Apenas o já habitual ‘senão’: o kit de reparação de pneus, em vez da roda suplente… Se há coisa com que embirro é com esta solução de custos elevados. Isto porque na eventualidade de um furo, a coisa nem sempre é aplicável, pois depende do grau de destruição do pneu (que há-de ser sempre para deitar fora), obrigando à compra de um novo (ou até dois, por questões de segurança) e um novo kit, etc. À moda do (recente) antigamente, um simples pneu estreito – já não digo um igual – daria para o desenrascanço até que o original fosse recuperado ou reparado. Mas como isso implica perder-se espaço na bagageira…!
Um multi-premiado 998 cc, à la downsizing
Bom… o melhor é dar à chave – perdão – premir o comando “Ford Power” e sair para a estrada. Ah, sim, depois de desfrutar, por algum tempo, do delicioso ronronar deste felino de 4 rodas e tracção dianteira, à medida que se sucedem as passagens de caixa, a determinada altura, quando o processo se tornar mais rolante, não deverá esquecer-se de desfrutar das características do áudio premium da Bang & Olufsen. É qualquer coisa!
O tal ronronar do felino deve-se a um pequenino 3 cilindros EcoBoost, de 998 cc, consagrado, ao longo das suas diferentes evoluções em termos de espécie, com nada menos do que 3 títulos de “Motor do Ano” em termos absolutos (de 2012 a 2014) e mais 7 vezes em categorias (de ‘12 a ‘17 nos “Sub 1.000 cc” e em ‘19 no grupo “Sub 150 cv”). É um mini-coração que se torna grande graças a um turbocompressor e, agora, ainda maior pela assistência eléctrica de binário do sistema mild hybrid de 48 volts, permitindo-se a recuperação de energia (da travagem ou em coasting) e o seu armazenamento para alimentação de diferentes sistemas eléctricos e para quando o ‘1.000’ precisa de um kick adicional. Sempre que o sistema reconheça o potencial do tipo e condições de condução, a desactivação de cilindro permite algumas poupanças, nos consumos e emissões e no próprio desgaste da mecânica.
Sendo a Ford uma das marcas que apostou no downsizing – menores cilindradas, com a ajuda extra de um turbo – o pequeno/grande bloco gera uma potência de 125 cv (92 kW) às 6.000 rpm e conta com um binário de 170 Nm, entre as 1.400 e as 4.500 (200 Nm em overboost e mais 10 Nm com o tal kick e-assist sport, ambos às 1.750 rpm). Montado no Puma, permite-se alcançar uma velocidade máxima de 191 km/h e cumprir os 0 aos 100 km/h em 9,8 segundos e a reprise 50/100 km/h em 9,6 segundos.
Uma boa ajuda são os modos de condução do Puma – do ‘Normal’ ao ambiental ‘Eco’, o sempre atractivo modo desportivo ‘Sport’, passando ainda pelo ‘Slippery’ e ‘Trail’, para percursos mais agrestes – que permitem adaptar as excelentes ligações à estrada em conformidade e, com isso, maximizar a reconhecida experiência de condução permitida pela vasta maioria (senão todos) dos chassis que a Ford concebe, de acordo com as condições das estradas, condições climatéricas e até mesmo do tipo de terreno. Apresentam-se, à nossa frente no cluster de instrumentos de animação 100% digital, de grafismo específico, onde se agrupam as informações necessárias, das mais básicas, às decorrentes dos sistemas de apoio à condução e, naturalmente, dos de segurança (alertas e afins).
Dependendo do modo como se conduza e do equipamento adicional presente, a Ford aponta valores médios (WLTP) para este Puma ST-Line X de jante 18 na ordem dos 5,4 l/100 km (nos consumos) e 124 g/km (nas emissões). No caso desta nossa unidade, utilizando-o em percursos tradicionais – localidades com o trânsito habitual e auto-estrada sem entrar em loucuras – não consegui baixá-lo dos 6,8 litros de média, sendo, ainda assim, uma média interessante, já que também não andei com ele ao colo.
Acrescente-se a vasta dotação de equipamento deste nível ST-Line X, com uma vasta gama de soluções de apoio à condução (ex.: reconhecimento de sinais de trânsito, manutenção de faixa, etc) e de segurança (ex.: alerta de pré-colisão, trânsito cruzado com travagem activa, etc) que são transversais à grande maioria dos modelos que compõem a oferta nacional da marca da oval azul. Pena que esta unidade não contemple câmara traseira de estacionamento, apenas surgindo no ecrã central, de 12,3 polegadas, um grafismo de aproximação por demais pobre face ao restante e elaborado conjunto gráfico, nomeadamente a atractiva animação do cluster, frente ao condutor. Esse módulo central integra ainda, e entre outros, a operação do B&O Sound System, da navegação e do infotainment que, na Ford se chama SYNC3, tudo em modo touch/swipe/pinch, seja com o veículo em andamento e em modo estacionário.
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A escolha é sua!
Voltando aos preços e se quiser uma alternativa à versão acima, a gama Ford Puma está disponível em Portugal em diferentes configurações num intervalo de preços que vai dos 22.483 € aos € 29.292. São 3 os níveis de equipamento – Titanium, ST-Line e ST-Line X – e 3 os motores, havendo duas variantes do bloco 1.0 EcoBoost MHEV de 125 CV (92 kW) ou 155 CV (114 kW), ambos disponíveis com caixa manual de 6 velocidades ou automática de 7 (neste caso sem o conceito MHEV), mais um motor Diesel 1.5 EcoBlue de 120 CV (88 kw), aqui só com caixa manual.
Note-se ainda que, até 30 de Setembro, o Puma conta com uma campanha que envolve uma oferta a clientes no valor de 2.680 €, acompanhada – se for o caso – de outra de apoio à retoma que vale mais 800 €. Como dizia o outro, é só fazer as contas!
Se comprava? A acontecer, seria na tal outra cor, se bem que o Puma original tenha, para mim, uma espécie de essência do tipo “primeiro amor”…!
Fotos: Garagem/Oficiais