Ford Focus ST: quando o resultado é maior que a soma das partes
Estive uns dias com a versão mais desportiva do Ford Focus – o ST – e não tive saudades nenhumas de uma versão RS. Não só é fantástico na maneira como nos faz sentir atrás do volante, como é um verdadeiro familiar compacto com espaço, conforto e tecnologia.
Quando vou ensaiar um carro desportivo é normal haver uma certa antecipação. Aliás, com qualquer carro, mas mais ainda quando a receita diz que tem um motor 2.3 litros, sobrealimentado, com 280 cavalos. Mas até aqui não há nada de extraordinário. Tirando o valor da cilindrada superior à concorrência, nada prevê um carro melhor ou mais espectacular que os outros hatchback desportivos. O caso muda de figura quando me sento e percebo que, embora tenha duas saídas de escape assim grandinhas que fazem um som grave e forte e umas jantes de 19 polegadas em cinza mate, é surpreendente o quão adequado ao segmento este Ford Focus ST é. O quão confortável e fácil de conduzir é, sem ser demasiado leve ou condescendente.
Regresso ao Presente
O habitáculo recebe-nos de uma maneira muito “de agora”. Não sei se me faço entender. Não é futurista nem é antiquado. É de agora! Os bancos Recaro seguram-nos muito bem, sem serem desconfortáveis ou só permitirem uma meia hora lá sentados. Opá, eu ali sentado ia até onde fosse preciso. Horas e horas naquilo. Pelo menos até ter de parar para abastecer, porque o motor bebe um pouco, mas isso era de esperar num desportivo destes. A coisa anda ali nos 10 litros aos 100 km. Também não é assim tão mau se virmos as prestações e o comportamento. 250 km/h de velocidade máxima e 5,7 segundos até aos 100 km/h. Não está nada mal! Ainda para mais com aquele que é, provavelmente, o melhor chassi do segmento. Mas já lá vamos. Ao nível do interior, é o mesmo do Focus “normal”. O ar condicionado automático, o sistema de infoentretenimento Sync 3 fluído e capaz de ligar aos telemóveis, as ajudas à condução como a travagem automática de emergência, o lane assist e por aí fora. E tudo isto num habitáculo singelo, sem exageros nem coisas tiradas da ficção científica ou de um avião supersónico. Juntem-lhe, também, muito espaço para os passageiros e um sistema de som a Bang & Olufsen de 8 colunas como extra.
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Curva “Nas Horas”
Sejam elas quais forem! Um comportamento exemplar em curva, fruto de um diferencial electrónico e de um sistema de controlo adaptativo de amortecimento que lê o carro e a estrada e adapta a suspensão conforme a necessidade. A electrónica vai também aos travões, com um sistema eléctrico de compressão que facilita a travagem, embora este seja o único ponto negativo. Percebo que seja mais barato fazer um sistema destes – até porque o carro não vai andar a ser esganado a toda a hora e daí a fadiga não ser uma questão – do que meter uns travões de competição. Mas não vai faltar potência na hora de travar… até porque ele curva “nas horas”.
A resposta do motor é completamente linear e praticamente não se dá pelo turbo. Usa um sistema twin-scroll que foi inspirado no do Ford GT e isso fá-lo parecer um atmosférico. Ali a partir das 3000 rotações, quando o binário atinge o valor máximo de 420 Nm, é sempre a subir de forma progressiva, sem puxões ou atrasos. E isso nota-se no comportamento dinâmico. Não é preciso estar sempre em alta rotação para se conseguir extrair potência do motor e os regimes médios ficam mais fortes, o que me faz sentir que sou melhor condutor do que a realidade e que estou a conduzir de forma super dinâmica sem precisar de estar com a faca nos dentes. Mas se assim o desejar, os sistemas electrónicos no diferencial, nos travões e na suspensão ajudam a que eu não enfarde uns rails de protecção ou um muro. Eu agradeço.
A Soma das Partes
Resumindo: um carro com competências familiares, bastante espaço e muito confortável. Um carro com tecnologia, um design singelo mas impactante e muita qualidade. Um carro com um motor e um chassi que são uma delícia. Um carro que, não sendo o melhor em cada uma destas características, é muito bom em todas elas, o que o torna, portanto, quase perfeito.
O preço de campanha começa abaixo dos 40 mil euros, o que só me dá mais argumentos.
Nota: no vídeo digo que também existe a possibilidade de caixa automática, o que não é válido no nosso mercado.
Fotos: Automotiva