Alpine de regresso aos ralis com… François Delecour
Primeira Campeã do Mundo de Ralis – Construtores de sempre, título alcançado há 47 anos, no que foi o primeiro ano do agora WRC, a francesa Alpine parece estar de regresso aos ralis, embora (ainda?!) não apontando ao patamar mas alto. A curto prazo, a aposta recai num dos agrupamentos intermédios, o R-GT, tendo como base um Alpine A110 Rally, estando o seu desenvolvimento a cargo dos gauleses do Team FJ e dos especialistas da Signatech, num processo que conta com um ajudante de campo: um tal de François Delecour.
Com testes já realizados em vários pontos de França, foi na região de Savigny que mais recentemente se ouviu o doce ronco da versão final para os ralis, assente no A110 Rally de produção. O objectivo inicial aponta para a participação no Campeonato de França de Ralis 2020, série que regressará às estradas – assim a pandemia o permita – em Setembro próximo, para a segunda prova da vertente de asfalto francesa, palco onde o modelo pretende lutar pela vitória na tal categoria R-GT e entre os 2 Rodas Motrizes.
Uma estreia a meio gás premiada com duas vitórias à classe
Praticamente meio século depois, o processo assenta nos desenvolvimentos do A110 Rally do presente, carro que a Alpine mostrou em Setembro do ano passado, confirmando o que havia anunciado meses antes. Desenhada e desenvolvida pela equipa técnica do Team FJ e pelos especialistas da Signatech, a partir do modelo de estrada, a nova versão de ralis tem como base a excelência do chassis em alumínio, sendo-lhe associadas suspensões hidráulicas de 3 vias, travões mais potentes e os obrigatórios elementos de segurança (roll cage, baquets Sabelt, cintos de 6 pontos de fixação, etc), entre outras necessidades dos ralis.
Um ano após a apresentação formal do projecto, 47 anos após o seu único título de âmbito mundial e cerca de 20 anos após o seu gradual desaparecimento dos ralis tradicionais – apesar da ainda marcante presença em provas de regularidade histórica, ralis de clássicos ou encontros do tipo RallySpirit Altronix – a Alpine quer tudo menos desiludir com este regresso.
Numa altura em que ainda estava no caminho da conclusão do processo de homologação, o A110 Rally deu-se a conhecer aos seus pares pouco tempo antes do confinamento, no pretérito Rali do Touquet, 1ª prova do nacional francês de asfalto. Ali alcançou a 11ª posição da geral e a vitória entre os carros de 2 rodas motrizes, tendo ao volante nada menos do que o Vice-Campeão do Mundo de Ralis de 1993, de seu nome François Delecour, agora acompanhado de Jean-Rodolphe Guigonnet. Assista a um resumo dessa prestação aqui.
Hoje, findos os mais de 5.500 km de testes por terras de França, o herdeiro da ‘Berlinette’ (alcunha dada ao modelo original dos anos ‘70) está, por fim, 100% operacional. O próximo desafio será enfrentado no Rali de Mont-Blanc Morzine, nos primeiros dias de Setembro, e onde, de acordo com Jean Galpin, responsável do Team FJ, deverão ser nada menos do que 5 os Alpine A110 Rally R-GT à partida! Os felizes contemplados serão conhecidos até lá, num grupo em que contará, de novo, com os préstimos de François Delecour.
O A110 Rally R-GT e os seus (ainda poucos) rivais
Do BI mecânico do novo produtoda Signatech Alpine e do Team FJfazem parte os seguintes elementos: motor 1.8 turbo de 330 cv; sistema anti-lag ajustável; caixa sequencial de 6 velocidades, com patilhas; volante do tipo F1 com display e comandos integrados; diferencial de deslizamento limitado; controlo de tracção e de arranque; suspensão de 3 vias, ajustáveis, com batentes hidráulicos Alp Racing e barra estabilizadora regulável.
A travagem faz-se por discos com 4 pistões Brembo, sistema ABS Bosch Motorsport e travão de mão hidráulico, que operam sobre as rodas de jante 18, à frente e atrás. O conjunto, que tem um peso de 1.080 kg, conta com um arco de segurança e baquets com cintos de 6 pontos de fixação e o depósito de combustível de 70 litros, ambos com homologação FIA.
Com certificado de homologação passado pela FIA no passado dia 20 de Julho, o novo A110 Rally R-GT pode participar nos mais diversos campeonatos e séries, nacionais e internacionais, passando a debater-se com ainda poucos rivais, à data. São eles o Abarth 124 R-GT, produto que raramente se vê por cá mas que tem a sua própria taça europeia, e o Porsche 997 GT3 Cup, exemplares que podemos ver em competição no Nacional de Ralis (‘Mex’, Adruzilo Lopes, Vitor Pascoal, Carlos Vieira, etc.) e no Regional da Madeira, tendo sido 2 os exemplares inscritos na mais recente edição do Vinho Madeira, disputada no início de Agosto, conduzidos pelos locais Filipe Freitas e Gil Freitas.
Está ainda homologado pela FIA um improvável Lotus Exige R-GT, carro que fez a sua première mundial na edição de 2012 do Vinho Madeira pelas mãos do português Bernardo Sousa, que abandonou cedo após uma saída de estrada. Sem que alcançasse grandes feitos, para além do impacto visual, esse rali até parece ter sido um mero one-off, já que o modelo não mais voltou a ser visto em ralis, em qualquer ponto do planeta.
Quanto à chegada a Portugal do novo A110 Rally R-GT, ainda nada se ouviu por estas paragens, mas poderá ser uma questão de tempo, até que o som de um Alpine volte a troar numa qualquer classificativa nacional, quem sabe se já na próxima edição do Rali de Portugal, agendada para 2021, em data a anunciar!
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