SEAT Leon 1.5 eTSI FR – Pode ser em vermelho, pode ser este
Passamos a vida a querer mais e melhor. Na dose certa, sem entrarmos em loucuras e irresponsabilidades, acho que só nos faz bem pensar assim. Querer mais não tem necessariamente que ser visto como algo mau ou que não nos contentamos com o que temos e não o valorizamos. Acho que não. Se mantivermos essa consciência, de respeitar e valorizar o temos, querer mais e melhor é apenas sinónimo de ambição, de querer algo que nos fará feliz. E os automóveis fazem-me feliz. Um objecto, é verdade. Lamento a desilusão, mas é o que é.
Este discurso todo para dizer que vivi durante anos a admirar o SEAT Leon nas corridas do Campeonato Mundial de Turismos e a pensar que um dia que pudesse dar o salto, trocaria o meu antigo Ibiza por um Leon. Não o fiz, não estou arrependido da minha escolha, mas o Leon actual continua a apelar-me como as anteriores três gerações fizeram. Visualmente é um estrondo, mas será que agora que conheci a mais recente evolução de um dos meus heróis da adolescência, fiquei desiludido? Esperava mais? Ou diferente? Esperava muito, isso sim.
Esta quarta geração do Leon faz virar cabeças. Oh!, se faz. Principalmente à noite, ambiente onde o quisemos mostrar e ver as reacções das pessoas com quem nos cruzámos. O design exterior está, na minha opinião, muito bem conseguido. Uma evolução natural do da geração que saiu agora de cena, com a nova grelha dianteira e iluminação de formato em tudo idêntico àquele estreado pelo Tarraco e que se estenderá, em breve, ao Ateca. No entanto, no que ao exterior diz respeito, o grande destaque está atrás.
Depois de ter reaparecido no Tarraco e de nos ter sido confidenciado por um alto responsável do design da marca em Barcelona, já em 2018, que é uma solução que regressou para ficar, a iluminação volta a ocupar toda a largura da traseira, sendo que no novo Leon é funcional e não apenas uma solução estética, recebendo-nos inclusivamente com uma original animação luminosa que complementa o “Hola!” projectado pelos retrovisores exteriores no chão. Pormenores que fazem a diferença. Esta solução da iluminação traseira remete-nos, igualmente, para o primeiro Toledo e para a segunda geração do Ibiza e do Cordoba.
Por dentro, as diferenças são bem mais notórias, desde logo pelo espaço disponível no banco traseiro. O Leon cresceu, mas mantém a capacidade da mala. No entanto, quem viaja atrás tem agora muitos centímetros livres para viajar em conforto, sendo que este Leon que conduzimos dispõe também de controlo independente de temperatura para o banco traseiro, um luxo pouco visto no segmento dos compactos familiares. Passemos, então, para onde realmente eu mais queria estar sentado: ao volante.
Basicamente, tudo muito diferente, muito mais tecnológico. Desde logo por uma solução que, embora muito apelativa do ponto de vista das gerações mais novas, poderá não agradar aos mais conservadores. Falo da ausência de botões físicos para controlo, por exemplo, da climatização. Há sim zonas táteis que controlam a temperatura e volume do som, mas à noite falta-lhes a iluminação que as destaque. Tudo o resto está centralizado no infotainment, um sistema com óptimo grafismo, rápido e recheado, mas que por isso mesmo requer alguma habituação.
No que à condução diz respeito, o Leon nunca desilude. A SEAT jamais correria o risco de lhe retirar dinamismo. Por essa mesma razão também não fiquei supreendido quando senti a resposta rápida da direção e o atirei para as curvas sem pedir licença. A compostura mantém-se inalterada mesmo com alguns exageros pelo meio e o Leon curva que se farta, sempre. Até mesmo quando colocamos o amortecimento no modo mais brando. A carroçaria mexe mais e o Leon quase consegue flutuar em autoestrada e disfarçar, até certo ponto, o mau piso de muitas das nossas estradas. Mas mesmo nesse modo, as rodas continuam a estar no sítio certo à hora certa e a velocidade de passagem em curva impressiona.
Conduzimo-lo com o motor a gasolina 1.5 eTSI de 150 cavalos, com tecnologia mild hybrid, e gostei da suavidade com que entrega a potência, bem como da do sistema de arranque do motor. Não será, felizmente, o topo da oferta da gama Leon em termos de performance e também, de eficiência, mas quer num, quer noutro, é um motor que merece elogios. Permite desfrutar do excelente chassis do Leon, conseguindo ao mesmo tempo um consumo combinado que pouco foge dos 7 litros aos cem.
Então, “vamos a contas”. De um lado está um infotainment de aspecto muito moderno, incrivelmente completo e agradável de utilizar, mas que engloba praticamente todas as funções do carro e que, por isso, me fez sentir falta de botões físicos como os da climatização, os “mais” e os “menos” e ainda os sempre práticos rotativos. Do outro lado está um carro lindíssimo, com um motor que combina performance e economia, com um chassis muito eficaz e com muito espaço a bordo. O Leon é agora mais familiar, mas isso não o fez menos emocional, menos Leon. As contas são fáceis. Eu nem uso assim tanto o ar condicionado. Pode ser em vermelho. Pode ser este.
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Fotos: Automotiva