70 anos SEAT: três eras, três automóveis, um símbolo
Quando nasci, já a SEAT acumulava 35 anos de vida. Neste 2020 que teima em não começar como desejámos no final do ano passado, chego eu aos 35 e já a SEAT celebrou os 70. Uma vida cheia de histórias que merecem ser relembradas e contadas ao pormenor, mas que passo a homenagear neste texto onde tentarei, dentro das minhas capacidades, fazer-lhe justiça mantendo de fora a forte ligação que tenho com a marca espanhola e que começou quando eu tinha apenas 5 anos ao chegar cá a casa um Marbella Special. São já 30 anos seguidos a andar de SEAT e por isso, conseguir juntar o meu Ibiza a um inesquecível ícone do passado da SEAT, o lindíssimo 124 do meu amigo Nuno Alves, e ainda à mais recente geração do novo Leon, parece-me, desde já, um bom começo para esta humilde mas muito sincera homenagem.
E três, a quantidade de carros que juntámos, é exactamente o número que interessa porque é igualmente o número de eras, fases ou épocas, como queiram chamar-lhes, em que se divide a bonita e septuagenária história da Sociedade Española de Automóviles de Turismo. Numa primeira fase, com a FIAT, depois como marca independente e sensivelmente desde o final da década de 1980 inserida no todo-poderoso grupo Volkswagen. E caso não se tenham apercebido, o 124, o Ibiza e o Leon representam, respectivamente, cada uma dessas fases, todas elas de uma indiscutível importância para aquilo que em a SEAT se transformou.
O corpo de três volumes deste 124 é tão elegante hoje como em 1973, data da sua matrícula e é, ainda hoje e igualmente, um formato inconfundível para quem vive o mundo dos automóveis clássicos intensamente. Foi assim que imediatamente o topei no nosso ponto de encontro naquela manhã de sábado, com aquele perfil que não engana, bem iluminado por um sol que fez das suas perto do meio-dia, quando as janelas fechadas para as fotografias de condução são um sacrifício para os motoristas de serviço.
Com a ajuda do Nuno e do meu “booster”, um bom companheiro de quem tem carros antigos parados por muito tempo numa garagem, fomos acordar o Ibiza para se juntar ao irmão 124. Depois de identificada um possível fuga do líquido de refrigeração – outra vertente sempre presente no mundo dos carros antigos: há sempre algo para reparar – atestei o depósito e com o contributo de uns eletrões emprestados e de depois de alguma insistência, o motor System Porsche começou a cantar e aos poucos a estabilizar o seu ralenti.
Estávamos prontos e assim, rua com ele, pois o terceiro condutor tinha já chegado. O Pedro – outro amigo de longa data e que, tal como o Nuno e o seu SEAT 124, já passou pela Garagem com o seu Porsche 924, um artigo que podes recordar aqui – foi o condutor do novo Leon, trocando o vermelho do seu japonês pelo do mais recente membro da família SEAT. A viagem foi curta, pois escolhemos a zona circundante do Estádio Nacional para os juntarmos e assim fazermos as fotos de família, colocando, lado a lado, os três irmãos e assim destacando as suas diferenças exteriores, um contraste que se acentua quando passamos aos seus habitáculos. Diferentes prioridades, típicas das suas distintas épocas e todos com diferentes inspirações: de um lado, genes mais latinos, do outro mais germânicos e pelo meio o Ibiza, um carro extremamente importante, o responsável pelo final feliz da fase de transição da marca durante a década de 1980, mas todos eles SEAT, à sua especial maneira.
Esta foi mais uma grande oportunidade de ver como os automóveis evoluíram nos últimos anos, uma tendência que não abranda e que não pára de nos surpreender. Se, por um lado, o Leon é um produto indiscutivelmente melhor que o 124 e o Ibiza, mais equipado, mais seguro e mais eficiente, é igualmente verdade que a sua responsabilidade é enorme, a de se assumir como um símbolo da história da marca, algo que vem a fazer e bem, tentando igualar a importância histórica da dupla mais sénior. O pequeno 600 mobilizou os espanhóis, é certo, mas o 124 representa um salto enorme em todos os níveis para a SEAT. O Ibiza, por outro lado, mobilizou Espanha, o país, propriamente dito, pois levou-o além fronteiras, internacionalizando a marca com um grande volume de exportações.
Para além dessas grandes responsabilidades a igualar, a grande prova do Leon, para pessoas como eu, o Nuno e o Pedro, assumidos petrolheads, será daqui a 30 anos: terá o seu tecnológico e recheado habitáculo o mesmo charme dado pelo veludo com 47 anos do 124 e conseguirão as linhas da sua carroçaria manter-se tão actuais quanto as que Giugiaro deu ao Ibiza em 1984? O tempo o dirá e nós, se possível, juntar-nos-emos novamente, de 124, Ibiza, Leon e com esse aguardado descendente que não conhecemos ainda. O centenário será uma festa e nós celebrá-lo-emos, se possível, de uma forma muito especial. Nuno, Pedro e SEAT, não marquem nada nesse fim-de-semana. Só faltam trinta.