Ford Kuga 1.5 EcoBoost: um SUV com curvas e cheio de espaço
Esta semana estive a testar o novo Ford Kuga, na sua versão a gasolina, 1.5 EcoBoost de 150 cavalos e caixa manual de 6 velocidades. O veredito é fácil: gostei. Gostei eu, a esposa, a vizinha e imensa gente que o viu na estrada e ficava a olhar para ele.
Se é para ser, que seja assim
Nem mais! Já que se faz um SUV, então que seja, efectivamente, para cumprir a promessa de veículo desportivo utilitário, i.e., um carro que seja prático na utilização, que dê para transportar muitas coisas e pessoas com muito conforto, e que tenha características que o permitam ser divertido e competente na parte lúdica.
O Ford Kuga cumpre. Já o modelo anterior cumpria. Tinha um ar mais radical, digamos, com arestas pronunciadas e um aspecto a fazer lembrar um jeep da polícia, ou algo assim. Este perde – e bem – as arestas e os vincos, e ganha um design muito mais sensual, digamos. Não é a melhor palavra, concordo, mas é a que me vem à cabeça agora. Todos os ângulos o favorecem. Há uma boa proporção, embora a frente pareça muito baixa (ou o habitáculo demasiado grande, talvez, não consigo perceber). No geral, tem um aspecto robusto sem perder elegância. Se olharmos para ele assim de 3/4 na frente, faz lembrar quase um Aston Martin DBX. Não sei se isso é bom para a Ford ou mau para a Aston Martin.
Motor
No campo da mecânica, apesar do 1.5 EcoBoost de 150 cavalos e 240 Nm de binário serem mais do que suficientes – em terceira, o carro nem hesita quando é preciso acelerar e puxa bem – sinto que já passámos a fase dos motores a combustão. Não me estou a referir à Ford. Nada disso. Estou a falar de todas. Acabem lá com os motores a combustão interna e deem, apenas, soluções híbridas e eléctricas. Estou curioso para testar o Kuga híbrido, embora o motor que usa seja um 2.5, algo que me parece exagerado. Há marcas que o fazem, é certo, mas, para mim, a versão híbrida deste Kuga devia usar justamente este 1.5 EcoBoost que é uma delícia. Se calhar a solução até é a mais eficiente – os engenheiros lá sabem – mas em países como o nosso, em que o custo de um carro é altamente inflacionado pelos impostos, ter uma cilindrada menor ajuda a vender carros. Por isso é que me parece que este motor 1.5 vá ser o best seller do Kuga. E não se vai nada mal servido. Por 32.800€, que era o custo do carro ensaiado, está top!
Ainda assim…
Esperava um pouco mais. Mas só um pouquinho, mesmo. Talvez tenha sido a combinação e escolha de equipamento desta unidade que foi infeliz, porque por um preço destes, é obrigatório qualquer carro trazer uma câmara traseira, por exemplo. Já nem digo mais nada. Os bancos e o volante aquecido ainda é naquela (se bem que um volante aquecido é motivo de alegria extrema e libertação de umas piguinhas de chichi), mas uma câmara, nesta altura do campeonato, é obrigatório. Para qualquer carro. É facílimo de meter! Um amigo meu comprou uma chinesa, online, e instalou aquilo num Nissan Almera de 98 por uns 20 paus… e tinha ecrã! Há uns 6 ou 7 anos! Ligou o sistema à luz de marcha atrás e cada vez que engrenava a mudança, ligava a câmara. Easy! Agora vão-me dizer que marcas bilionárias não podem? Não querem! Câmara traseira está para 2020 como jantes de liga leve estavam para 1995. Se o teu carro não trazia aquilo de origem, já nem estavas na corrida.
Uff, já tirei isto do peito. Lamento que tenhas assistido a isto. A verdade é que os sensores à volta do carro funcionam perfeitamente, mas é um sistema mais custoso, parece-me. Por isso, se fores comprar um Kuga, compra com câmara traseira.
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Em viagem
Quanto à condução, é simples: a Ford tem dos carros mais fixes de conduzir. Sem esforço, suave mas muito ligado ao condutor, direcção comunicativa, caixa-embraiagem suave e precisa, etc. Pessoalmente, a única coisa que me fez torcer o nariz foi a posição de condução. Como o banco não dava para baixar mais, ficava sentado um pouco alto e eu sou de estatura média, para não dizer relativamente pouco alto, ou até outra expressão qualquer que evite que eu diga a palavra baixinho. Isso fazia com que tivesse de esforçar a perna esquerda para usar a embraiagem e torna a coisa cansativa. Se a utilizares com o pé “no ar” a coisa ameniza. Mas eu gosto de empurrar o pedal, e aqui fiquei com a sensação que o estava a pisar. Gosto de me sentar baixo nos carros, por isso a solução passaria por escolher a caixa automática, que é bem boa, já que o banco não baixa mais.
O interior é de qualidade. Neste campo, a Ford tem sempre um bom compromisso. Materiais bons com boa construção. Nada do melhor, mas também nada do pior. O design é apelativo, simples sem ser minimalista, e cada vez mais a reduzir os botões (embora goste de saber que ainda há marcas que apostam neles. Ufa!). Partilha o aspecto com o resto da gama, bem como o sistema de infoentretenimento, fácil de usar e com um bom ecrã. O volante pareceu-me grande, mas só ao início. No fim do ensaio já nem pensava nisso.
Bem comportado
O comportamento do carro é o que se espera de um SUV competente. Não é para as curvas, mas assume-as. Em frente anda bem, e tem uma boa compostura, especialmente em terceira, quando o motor parece estar sempre pronto a acelerar. É um carro que puxa se for preciso, mas que é capaz de andamentos mais lentos. O consumo ficou-se pelos 7,4 l/100 km, em cidade, o que é excelente para um SUV de 1500 kg que, ainda assim, utiliza muito alumínio para reduzir o peso. Fora de estrada não o testei muito, tirando uma subida de passeio atrevida, eu diria, que a fez sem qualquer esforço e em conforto, muito graças a usar jantes adequada ao tipo de carro, 17 polegadas, em vez de umas de 20 que, para além de ser caro, tornam o propósito de um SUV uma miragem. As protecções laterais da carroceria ajudam a aventuras fora de estrada e dada a sensação que tive neste ensaio, algo me diz que este Kuga é muito bom para isso.
Posto isto…
Se gostas de SUV (lamento) e procuras um que seja competente na proposta que oferece, nas capacidades fora de estrada e que tem mesmo muito espaço para 5 pessoas e muita carga, este Kuga é uma opção a considerar muito seriamente. Não só o preço é competitivo, como o motor 1.5 turbo é muito bom. Se o espaço não é a prioridade – e eu percebo que não seja, porque raramente precisamos assim de tanto espaço – então eu diria que devias olhar para o Ford Puma, especialmente na versão 1 litro, turbo, mild-hybrid, de 155 cavalos (há também a de 125 com o mesmo motor). Não é concorrente, naturalmente, mas com o mesmo nível de potência, a única coisa que perdes é o espaço e a capacidade offroad. Poupas uns 6 mil euros e tens exactamente o que procuras. Quando o ensaiarmos logo te diremos o que achamos. Ah, e fica prometido o ensaio ao Kuga híbrido, porque algo me diz que é uma proposta muito fixe.