Sabes a diferença entre um motor boxer e um flat? Eu não sabia
Já uma vez o disse e volto, agora, a dizê-lo: se há coisa que gosto em consumir o máximo de informação possível sobre automóveis todos os dias, é que com isso também todos os dias aprendo algo novo. E esta que hoje aqui partilho é mesmo uma novidade para mim. Não foram poucas as vezes que li e ouvi, ou que escrevi e disse, o “flat 6 do 911”. Um erro que, agora que aprendi a lição do dia, assumo. Porque o motor do Porsche 911 não é aquilo a que estamos habituados a ouvir chamar de “flat 6”. É sim um motor boxer de 6 cilindros.
Mas pelos vistos há quem tenha cometido um erro maior do que eu. E se o nome João Isaac tem pouco peso na indústria que ele adora, já do nome Ferrari não se pode dizer o mesmo. A não ser que a sua indiscutível influência seja de tal maneira grande e abrangente que até se podem dar ao luxo de terem errado de propósito porque ajuda nas vendas. Também é uma hipótese. Vou ligar para Maranello e pedir para falar com alguém do marketing da Ferrari a confirmar se foi estratégia. Só preciso de falar com alguém que lá trabalhe desde, pelo menos, 1973.
Isto porque foi nessa altura que surgiu o fantástico 512 BB. BB de Berlinetta Boxer? Esse mesmo! Só que não. O motor de 12 cilindros da Ferrari não é boxer. Isso! Adivinharam. É um “flat 12”. Ou seja, um motor V12 em que o ângulo entre as bancadas de cilindros é 180 graus. Só por causa disso vou cancelar a transferência de 250 mil euros que já tinha autorizado para comprar o 512 BB dos meus sonhos. Aliás, 512 Berlinetta Flat.
E porquê? Pura e elegante mecânica. Somente isso. Num motor do tipo boxer, as bielas de êmbolos em cilindros opostos não partilham a sua ligação à cambota. Num motor “flat”, essa ligação é partilhada. Ou seja, num boxer, como num Porsche 911, Subaru Impreza ou Alfa Romeo 33, êmbolos opostos aproximam-se na sua descida – na horizontal, na verdade – até ao ponto morto inferior. Tratando-se de um motor do tipo “flat” como o motor de 12 cilindros do Ferrari 512, os êmbolos opostos, por partilharem a ligação mecânica com a cambota, têm movimentos contrários, quando um “desce”, o outro “sobe”. E coloquei entre aspas porque, relembro, estamos a falar de motores com cilindros horizontais.
Quando a electrificação marcar definitivamente a sua posição, nada disto fará muito sentido. E agora que também já perdi o interesse no Berlinetta Boxer – azul escuro, com interior bege, obviamente – vou voltar ao mundo dos três e quatro cilindros. O mundo real e que, na verdade, mecanicamente, me satisfaz plenamente. E poupei 250 mil euros numa mentira. Uma belíssima mentira. Azul escura, com interior bege, ok?