O nome é tão importante quanto o carro
Ser confrontado com a pergunta “Que carro tens?” pode levar a dois cenários possíveis porque é muito diferente responder “Ah, tenho um Peugeot 206” do que dizer “Conduzo um Alfa Romeo Disco Volante”. Desde logo pela aplicação do verbo “conduzir” no lugar do “ter”. Ter é essencial, satisfazer o desejo de propriedade da máquina, mas conduzir denota toda uma outra dimensão de ligação para com ela. E isto nada tem a ver com a performance, exclusividade e consequente diferença de preço. O valor aqui está no nome. A Peugeot podia muito bem ter-se esquecido da sua nomenclatura habitual e ter chamado ao seu best seller o Peugeot Disco Volante. Eu comprava, logo, ali, até porque o 206 é um bom carro. Também porque não tenho dinheiro para o Disco Volante da Alfa Romeo, claro.
O nome tem força, causa impacto, e pode tornar a experiência emocionante ainda antes de rodarmos a chave e dos cilindros desatarem aos tiros uns a seguir aos outros. Um bom exemplo está na Kia. O Stinger é um excelente carro, bonito, rápido, emocionante e que infelizmente não pegou, não se conseguiu impor em Portugal. É um segmento difícil para a marca coreana, mas reconheço que fez um excelente trabalho. Até no nome! Stinger! Um carro com nome de míssil e que, na verdade, foi rápido a desaparecer do mapa, com muita pena minha. Mas se ele fosse o Kia 206, o Kia Terzo, o Kia Magentis ou o Kia Shuma, então nem o design, motor e chassis, todos eles óptimos no Stinger, compensariam essa hipotética falha no seu baptismo.
Tudo isto para dizer que até o mais humilde e despretensioso dos automóveis é merecedor de um nome apelativo, um nome que nos encha de orgulho de ele ser nosso e de o conduzirmos diariamente. Outros, no entanto, são de tal forma míticos, que até podiam adoptar o mais patético dos nomes. Ou simplesmente recusar-se a ter um. Um Porsche 911 podia muito bem ser um Porsche Bacalhau com Batatas e o Toyota Corolla podia chamar-se simplesmente carro. Ambos iam continuar a ser o sucesso que são para as respectivas marcas, tenho a certeza disso. E tenho a certeza porque ambos são nomes incontornáveis e muito fortes nos seus segmentos, mas nenhum deles tem um nome particularmente bonito. O primeiro é um número de pedido de ajuda e o segundo é, imagine-se, Corolla.
Por outro lado, há nomes incrivelmente simples e que são, também, incrivelmente geniais pelo seu significado. Um bom exemplo disso é o Toyota Land Cruiser, um todo-o-terreno imparável a atravessar continentes. Outro é o belíssimo Maserati Quattroporte, modelo que é, no fundo, um Maserati de quatro portas. Já o Mini, o nome certo para um carro outrora pequeno, devia agora adoptar o nome do seu primo dos tempos da Austin, o Maxi. Se bem que esse era grande por dentro e o Mini não o é. Sugestão para os senhores de Munique: Maxini. E já que falei de ingleses, o que dizer do Triumph Spitfire? Com um motor de 1.5 litros de certeza que nunca cuspiu fogo, fora obviamente os que se possam ter incendiado, mas e o nome? Triumph Spitfire. Outra vez: Triumph, Spitfire! Um bom exemplo de como a emoção não vem da dinâmica ou da rapidez.
Não posso ter um Jensen, nem um Ferrari. Muito menos um Lamborghini ou um Bugatti. Mas com algum esforço, trabalhando e poupando, posso vir a ter e conduzir um Opel Interceptor ou um FIAT Testarossa. Ou mesmo um SEAT Veneno. Quem sabe até um Renault La Voiture Noire. Mas por favor, BMW, já que detém a marca Rolls-Royce, troquem o nome do novo SUV eléctrico iX por Ghost ou Phantom. Pode ser excelente, não duvido, mas preferia-o invisível.