Mais um hot hatch nunca será um hot hatch a mais
Não tenho qualquer tipo de ódio pelo formato crossover, SUV, CUV ou qualquer outra sigla que lhes decidam aplicar no futuro. Já lhes reconheci algum apelo, alguma funcionalidade extra e, em alguns deles, alguma pinta. Mas são, em quase todos os casos, um mesmo carro que a própria marca vende, mas com um estilo diferente. E a verdade é que a fórmula “calças arregaçadas” ou do “salto alto” funciona mesmo.
Mas os carros de que gosto mesmo são esses que normalmente lhes servem de base, os compactos familiares ou os utilitários. Tenho um de cada e mesmo o mais pequeno, com as devidas limitações dos seus 30 anos, é todo o carro que uma pequena família precisa para 90% do tempo que anda de automóvel. Há 30 anos, logicamente. Mas isto para dizer que o actual segmento B está cheio de propostas interessantes, com toda a tecnologia, segurança e conforto de que precisamos.
E como a grande maioria dos portugueses não é propriamente abastada, quando querem comprar um automóvel novo é para os segmentos B/C que olham primeiro. E é assim que deve ser. No entanto, vêem-se cada vez mais viaturas premium, quase sempre com 4 anos e 120 mil quilómetros em cima e a dizerem “Achtung” em tudo o que é aviso ou então novas, mas do patrão, com um localizador por GPS ligado à OBD, não para controlar a utilização do carro, mas para que na reunião mensal se possa perceber se foi o departamento comercial no A180 CDi ou o financeiro no 116d aquele que conseguiu dar mais vezes 230 km/h. O empregado do mês, portanto.
Como já me desviei substancialmente do que me trouxe aqui – só me apercebi agora porque escrevi “230 km/h” – voltemos ao segmento dos utilitários onde estão alguns dos meus automóveis preferidos, uma espécie em vias de extinção. Versões que mantém a versatilidade e compacidade dos modelos base, mas que trocam os seus motores ajustados ao dia-a-dia, mais económicos, por outros em que essa não é a sua prioridade. Não é preciso muita potência para se ter um grande gozo ao volante e um bom exemplo disso é o Ford Fiesta 1.0 Ecoboost. Mas guiem, se puderem, um ST. Ou se preferirem igualmente algo mais “premium” um Volkswagen Polo GTI. Não há nada como um bom hot hatch para transformar por completo o nosso quotidiano – muitas vezes, entediante – entre A e B, principalmente se pelo meio houver um S.
Mas estes têm de se preparar para a chegada de um potencial candidato à liderança deste segmento cada vez mais limitado na sua oferta. Falo do i20 N, o segundo desportivo da Hyundai e que virá, tenho a certeza disso, preparado para estragar a Fiesta ao Ford e colocar também o Polo em território digno de um Achtung! em letras gordas. O i30 N já mostrou o que vale e não espero menos do i20 N. Longe vão os tempos dos Accent que empurravam, à sua passagem, crianças de 10 anos para o colo das suas Mães, principalmente naquele rosa metalizado lindíssimo que muito se viu em Portugal.
Clica aqui para veres a nossa review ao mais quente dos hot hatch, o Renault Megane RS Trophy-R.
A Hyundai está fortíssima e prepara-se para lançar aquilo que é a sua ideia de um automóvel utilitário e desportivo. Aquilo que é para um petrolhead como eu, que gosta de um carro compacto para todos os dias, a melhor receita de todas e em que, infelizmente, já são poucas as marcas a apostar. Nem Cupra Ibiza, nem Peugeot 208 GTI parecem vir a caminho. Resta-me assim a Hyundai, uma marca a atravessar um excelente momento de forma e que, embora apostando e bem, na electrificação, não se esquece dos amantes de automóveis mais puristas. E com ela, ainda mais a leste, a Toyota. A marca dos híbridos, das CVT, da razão toda e da emoção zero. Excepto no GT86. No Supra. E no GR Yaris. Esse monstro que nem posso incluir nesta crónica. Ainda há esperança para a emoção em formato compacto e parece vir do oriente.