Renault Clio E-Tech Hybrid: fala-se pouco de um dos carros mais importantes do momento
O Renault Clio é, desde 1990, uma referência no seu segmento. Passaram-se três décadas desde que assumiu a responsabilidade de substituir o 5, com igual número de gerações lançadas ao longo destes recentes e acelerados 30 anos. É, neste momento, o segundo modelo mais vendido na Europa, é líder do seu segmento e é, igualmente, o preferido dos portugueses, também cada vez mais convencidos de que a electrificação é o caminho a seguir, por muito que as recentes notícias tentem, agora, orientá-los noutra direcção que, na verdade, já não sei qual é.
E como eu sou também um português fã dos argumentos do Clio, acho que não está a ser dada a devida importância ao lançamento da sua versão híbrida, num momento em que, cada vez mais, condutores e respectivas famílias ponderam hibridizar a sua garagem quando comprarem o seu próximo carro. Com mais de cinco mil Clio vendidos em Portugal de Janeiro a Agosto de 2020, o utilitário da Renault foi responsável por quase 5,5% das vendas nacionais de carros novos. A chegada ao mercado da versão E-Tech Hybrid é assim, sem dúvida alguma, um momento importante.
Para electrificar o seu Clio, a Renault optou por simplificar a abordagem, deixando a configuração plug-in para o Captur e para o Megane. O Clio é assim um full hybrid, uma versão capaz de circular exclusivamente em modo 100% eléctrico durante algum tempo mas que vê a sua bateria ser sempre carregada ou pelo motor 1.6 litros a gasolina ou pela energia recuperada devido ao efeito de travagem regenerativa, mas nunca por ligação à rede externa. A Renault promete 4,5 l/100 km de consumo médio e a verdade é que nos primeiros 150 quilómetros que fiz, a média foi exactamente essa.
Depois disso, mais por culpa minha do que do Clio, pois decidi seleccionar o modo Sport e apertar um pouco com ele, a média resvalou para os 5 l/100 km, um valor que é, ainda assim, bem aceitável considerando algumas das experiências que fiz. Apesar do modo Sport estar disponível e, também, do E-Tech Hybrid ser o Clio mais potente que podes comprar – 140 cavalos – relembro-te que este não é um Clio desportivo, é sim, um Clio mais eficiente, mas que mantém intactas, apesar do seu peso superior, todas as suas qualidades dinâmicas.
Comparativamente a um Clio TCe com motor 1.3 litros de 130 cavalos e caixa EDC, o híbrido pesa mais 80 kg, mas quer o nível de conforto, quer o comportamento, continuam a ser dois pontos muitos fortes deste Clio branco e “verde”. A direcção rápida e os movimentos da carroçaria contidos contribuem para a muita agilidade demonstrada e mesmo não sendo um Clio muito rápido a acelerar – 0 a 100 km/h em cerca de 10 segundos – é na mesma um Clio bastante divertido de conduzir.
O propulsor híbrido E-Tech junta o já mencionado motor a gasolina a dois outros eléctricos, um deles capaz de transmitir potência às rodas e de funcionar como gerador de energia e o outro com a função de arrancar o motor térmico, quando necessário, para além de também conseguir gerar energia, obviamente. A caixa de velocidades é inovadora por prescindir de embraiagem e igualmente de sincronizadores. Quem faz esse trabalho são actuadores e o motor eléctrico mais pequeno, que ajusta as velocidades do motor e do carreto a engrenar.
Ligado ao motor eléctrico principal – 49 cv/205 Nm – está um segundo veio secundário com duas relações. Esta caixa consegue assim funcionar nos modos eléctrico, híbrido ou térmico, justificando a designação “Multimodo” dada pela Renault. Se necessário, o motor a gasolina consegue também carregar a bateria, tal como um híbrido em série. Pronto, fiquemos por aqui, não te vou maçar com demasiado detalhe técnico, mas a verdade é que há beleza e mérito no trabalho da Renault que merece ser analisado ao pormenor.
Na prática, o Clio Hybrid arranca em modo eléctrico sempre que possível, ou seja, desde que a bateria de 1,2 kWh disponha de energia suficiente. E em ambiente citadino, a prioridade à propulsão eléctrica é notória, com o Clio a rolar quase sempre em modo furtivo graças especialmente a uma boa capacidade de regeneração de energia. Quando necessário, o motor térmico entra em acção e ajuda a carregar a bateria (com alguma rapidez, diga-se).
Fora da cidade, conseguimos rolar a 80 km/h só com o contributo do motor eléctrico durante algum tempo, mais até do que o esperado. Já a ritmos mais elevados, nomeadamente em autoestrada, o 1.6 litros de 91 cavalos é quem manda, podendo ser momentaneamente ajudado pela dupla eléctrica. A velocidade de 120 km/h é mantida sem ruído exagerado do motor e a capacidade de recuperação conjunta, principalmente para iniciar uma ultrapassagem, convence. Falta apenas alguma linearidade no funcionamento desta transmissão inovadora, mas esta apenas se faz notar em situações pontuais de muita exigência sobre o pedal direito.
O Clio continua a assumir-se como uma das referências no seu segmento, agora no essencial âmbito das motorizações electrificadas onde modelos como o Toyota Yaris – que tem igualmente uma nova geração e que visitará a Garagem em breve – têm sido pioneiros. Mas esta primeira tentativa da Renault está mais do que aprovada e é assim merecedora da nossa atenção, enquanto condutores preocupados com consumo de combustível e consequente redução das emissões. Depois do ataque aos motores Diesel, parece que a nova moda é colocar em causa as vantagens irrefutáveis de modelos híbridos como este Clio, líder de vendas na Europa e o automóvel que os portugueses mais compram, agora ainda mais eficiente.