Carros clássicos, uma paixão cada vez mais cara
Decidi arrumar revistas antigas, acabei por desarrumá-las ainda mais e também com um pouco de lágrimas à mistura. Já repararam que os clássicos estão cada vez mais caros?
Aqui na Garagem adoramos clássicos (acho que posso falar por todos). O cheiro a gasolina, o barulho dos motores, as carroçarias brilhantes e até a ferrugem tem o seu glamour, em alguns casos, claro. Sendo eu a terceira geração de uma família que “transpira” automóveis, era quase obrigatório manter o legado. Como tal, é passatempo comum percorrer as várias plataformas de compra e venda de automóveis à procura de bons negócios. No entanto, tenho percebido que, muito sinceramente, entre 80 e 90% do tipo de carro que procuro tem um preço que me faz chorar para cima do teclado. Já me perguntei várias vezes se estou a ser ambicioso ou se, simplesmente, tenho gostos que a carteira não consegue acompanhar ou talvez um pouco das duas, sejamos sinceros.
Porém, isto agravou-se há uns dias quando decidi remexer numas caixas antigas que o meu avô tem na mala do carro. Lá dentro estavam algumas revistas da Topos & Clássicos, uma paixão antiga do meu avô, e decidi desfolhar até à parte dos anúncios automóveis. Foi exactamente nesse momento que pensei para mim mesmo: “Bolas, o que eu dava para estar em 2002 outra vez”, logo após ver os preços. Depois de um momento de reflexão, percebi que afinal não estou a ser ambicioso, os clássicos é que estão caríssimos! Querem exemplos? Preparem-se, isto não vai ser bonito. Decidi retirar cinco carros clássicos em que a diferença de preços é incrível.
Topos & Clássicos nº 20, Dezembro 2002
No ano de 2002, marcado pela passagem do Euro a moeda oficial em Portugal, o Peugeot 307 foi coroado Carro do Ano. Os U2 actuaram no intervalo do Super Bowl e homenagearam as vítimas do 11 de Setembro, Alícia Keys ganhava 5 Grammys e a Gisele Bündchen brilhava como uma das Angels da Victoria’s Secret. Ok, se calhar divaguei um pouco, vou voltar para os carros.
Volkswagen Golf GTI MK1
Começo a lista por um desportivo que eu adorava ter: Volkswagen Golf GTI MK1 de 1982. O “pai” de todos os GTI do Golf estava, em 2002, à venda por 2990 euros. Sim, leu bem, menos de 3 mil euros e completamente acessível para a minha carteira. “Fast forward” até 2020, tornou-se um carro bem mais raro, claro, e por isso são difíceis de encontrar. Contudo, encontrei uma unidade à venda por 14 mil euros. Ou seja, em oito anos, o Golf GTI MK1 valorizou mais de 10 mil euros. Enfim, vamos continuar.
BMW 3.0 CSi
Sendo eu um fã da BMW, não podia faltar um exemplo da casa bávara. Encontrei um belo BMW 3.0 CSi de 1974, que pelas fotos parecia estar “às mil maravilhas”, por 11 mil euros. Depois de alguma pesquisa não consegui encontrar nenhum à venda em Portugal, mas descobri um exactamente do mesmo ano à venda na Alemanha por 89 900 euros, sendo que o mais barato que encontrei custa 46 950 euros. Mais uma vez, um clássico que, com algum esforço, conseguia trazer para a minha garagem em 2002, mas que hoje está completamente fora de questão.
Renault Alpine A110 1600 S
O Renault Alpine é mais um clássico que dispensa apresentações. Uma verdadeira estrela no mundo automóvel que me marca pelo visual espectacular. Se eu pudesse voltar atrás no tempo, até 2002, talvez cometesse uma loucura para gastar 45 750 euros num Renault Alpine 1600 S de 1973. Principalmente quando percebo que hoje é quase impossível comprar um em bom estado por menos de 100 mil euros!
Porsche 924 Carrera GT
Decidi incluir nesta lista um Porsche 924 Carrera GT por um motivo muito simples: o próprio anúncio. Foi com um rasgado sorriso que li esta bela descrição: “1 Dono – Historial completo – Nunca correu”. Quem nunca leu esta última frase? Incrível. Em 2002 este carro de 1981 que “nunca correu”, um dos 331 exemplares com volante à esquerda (Type 937), estava à venda por 18 mil euros. Curiosamente, encontrei uma unidade com a mesma cor, com as mesmas jantes e do mesmo ano na Alemanha por 60 mil euros. Eu sei, dá que pensar, uma verdadeira pechincha em 2002, principalmente porque “nunca correu”!
Lamborghini Miura P400
Ai, Lamborghini, Lamborghini. Uma das minhas marcas “fetiche”. Se algum dia tiver um, é por milagre, mas sonhar ainda é de borla. Foi com grande espanto e admiração que encontrei nesta mesma revista de 2002 um Lamborghini Miura P400. Pior ainda foi quando vi o preço: 100 mil euros. Para quem não conhece o modelo, talvez esteja a pensar: “bem, talvez este esteja mais barato agora”. Completamente enganados. Este é, para muitos, o primeiro supercarro da história. Quanto à variante P400, produzida entre 1966 e 1969, esta só conheceu 474 unidades e uma delas encontrava-se em Portugal em 2002. Depois de uma longa pesquisa, percebi que há poucas unidades à venda e, em grande parte delas, o preço não está discriminado. Ainda assim, a mais “acessível” que encontrei custava, nada mais, nada menos, do que 900 mil euros. Do ponto de vista do coleccionador, é uma unidade que embeleza qualquer garagem. Mas do ponto de vista do investidor, é uma valorização superior a 800 mil euros em 18 anos.
Em suma, percebi que efetivamente os carros clássicos estão mais caros e claro que o passar dos anos ajuda a este dado e, talvez, a electrificação, cada vez mais presente na indústria automóvel, esteja também a influenciar esta subida vertiginosa de preços. Ainda assim, se por acaso tem um familiar com um clássico que considere interessante, não hesite, quem sabe no futuro este se transforme numa “mina de ouro” na garagem.