Formentor: o chefe da tribo Cupra
O nome Cupra surgiu pela primeira vez em 1996 e eu fiquei rendido desde então. A combinação, para muitos olhos, chocante, da cor verde da carroçaria com as belas jantes brancas representavam um meio termo entre o Ibiza do meu Pai e aquele que dominava os ralis, nos famosos “Kit Car”, no final da década de 1990. Não havia Youtube e os 18 anos ainda estavam longe para ter carta de condução. Aquele Ibiza Cupra, que pontualmente aparecia nas revistas que comprava, guiou-me assim, à distância, da adolescência até agora. Um desejo que mantenho e que espero vir a concretizar. E verde, claro, com jantes brancas e interior vermelho, para chocar, ao melhor estilo daquela época, tal e qual como o primeiro que vi, perto de Cáceres, tinha eu uns 14 ou 15 anos.
A Cupra é hoje uma marca paralela à SEAT, suficientemente independente para ter direito ao seu próprio símbolo e a modelos exclusivos como este Formentor, mas eternamente ligada à histórica marca espanhola pelos vários modelos desportivos que as uniram durante anos, bem como pelos sucessos alcançados no mundo da competição. Temi por esta separação, admito, mas acho que as coisas estão a seguir bom rumo, com uma imagem de marca distinta, moderna e que apela aos entusiastas de automóveis, algo de que muitos fabricantes se esquecem ou simplesmente não colocam na sua lista de prioridades, dar prioridade à emoção. A Cupra é agora uma tribo, uma família, uma casa comum, física e virtual, por todo o mundo espalhada, onde fãs podem partilhar a sua paixão. A oferta inclui modelos como o Ateca e o Leon, bem como versões híbridas, mas no topo da gama está, para já, este Formentor VZ.
VZ de “veloz”, pois com 310 cavalos e 400 Nm, este Formentor deixa muitos “desportivos” presos na queda do verde, sem saber bem o que acabou de acontecer. Quando se aperceberem, já é tarde, e menos de 5 segundos depois o motor 2.0 TSI já levou o CUV a ultrapassar os 100 km/h. A velocidade máxima está limitada a 250 km/h, mas isso pouco importa. O que importa, e impressiona, é a aceleração, bruta, decidida e imparável, e a tracção, eficaz, imediata e constante. O Formentor não calça pneus muito desportivos. Não precisa, na verdade, pois os Bridgestone Turanza 245/40 em jantes de 19 polegadas – mesmo que lhes falte alguma progressividade no limite da aderência – são garantia de velocidades de passagem em curva capazes de por à prova a resistência das pegas do tejadilho do mais nervoso dos passageiros, bem como a integridade do seu sistema digestivo.
A travagem Brembo está lá para nos cortar os exageros (que inevitavelmente surgirão), dando sempre confiança para travar tarde, sem zonas mortas no curso do pedal e sem sentirmos o eixo traseiro perder demasiado contacto com o asfalto, mesmo quando já estamos a colocar a frente na curva que rapidamente se aproxima. A ligeira deriva das rodas de trás permite-nos apontar melhor as da frente para de seguida esmagar o pedal direito contra o fundo, sabendo de antemão que a tracção integral fará o resto, dividindo a potência pelo eixo e roda mais convenientes, a cada instante, conduzindo-nos à próxima curva sem grandes desvios de trajetória. As primeiras impressões de subviragem, sob aceleração relativamente forte, começam a surgir quando o velocímetro já mostra três dígitos e a paisagem outrora nítida começa a ser um mero desfoque na nossa visão periférica.
Um desempenho dinâmico assim só é possível, entre outras coisas, graças ao excelente trabalho da suspensão, a qual, no caso deste Formentor VZ, conta com amortecimento variável que assim permite variar entre um CUV familiar que sabe ser confortável e um desportivo que, embora pese mais de 1600 kg, não mostra atrasos em mudanças de direcção repentinas e em travagens fortes, graças a um eficaz controlo de massas que mantém, ao máximo, o contacto da borracha com o asfalto. E quando a roda traseira interior à curva o perde ligeiramente, é porque as exteriores estão a fazer de tudo para manter o Formentor na linha que lhe pedimos via volante. Por outro lado, tal como o espião que despe o camuflado ao infiltrar-se no covil do mau da fita, transformando-se ao revelar um elegante smoking apropriado para festa a invadir, quando chega a hora de acalmar os ânimos e passar despercebido com o Cupra, basta selecionar o modo de condução adequado e relaxar, encaixado em brutais bancos desportivos enquanto a suspensão, agora bem mais branda, trata do resto. Um chassis com dupla personalidade e que muito faz pelo Formentor e por quem quer performance e usabilidade para todos os dias da semana.
Se um dia me conseguir juntar à tribo, não serei, provavelmente, aceite. Isto porque o velhinho Ibiza não é um Cupra de nova geração. Nada tem a ver com os actuais. Mas foi ele a semente. Ele é, no fundo, um dos grandes responsáveis pelo excelente Formentor que agora conduzi. Uma proposta com imagem distinta e personalizável, com um habitáculo espaçoso e bem equipado, com um motor potente e refinado, e com um chassis com uma ampla faixa de utilização e adaptabilidade às condições e conduções. Entre um Leon e um Formentor? Visualmente, acho que continuo a preferir o Leon. Mas se gosto do Formentor? Um CUV? Gosto. Gosto mesmo muito. E juntava-me à tribo, com ele, com muito prazer.