A referência actualizou-se. Admite lá, quantos Renault Mégane vês por dia?
O último Mégane que conduzi não é, na verdade, um Mégane. É sim, um carro de corridas ao qual aparafusaram duas matrículas e lhe vestiram um fato que o que faz parecer-se com um Mégane. Só pode ser isso. O Trophy-R é um dos mais espectaculares automóveis que já conduzi e assim, quando o tema é “Mégane”, vão desculpar-me, mas não consigo não pensar imediatamente nele. Nos 300 cavalos, na banda sonora e no seu exímio e radical comportamento dinâmico. Foi por isso com uma mistura de expectativa e uma sensação de “só isto” que levantei na Renault este renovado Mégane com motor 1.3 TCe, a gasolina, portanto, com 160 cavalos. Já escrevi “Mégane” cinco vezes. Com este sexto “Mégane” passam a sete e não me parece que vá ficar por aqui.
Expectativa porque fico sempre contente e curioso quando tenho um automóvel para ensaiar. “Só isto” porque, caramba, depois do Trophy-R, como é que posso avaliar um Mégane que só tem 160 cavalos e, imagine-se, lugar para 5 pessoas e respectivas bagagens? Vai saber a pouco, com certeza. Só que não. Mentalizei-me de que este é o Mégane que as pessoas precisam e de que teria de o avaliar por aquilo que é, um Mégane como os outros e não o carro que serve de base ao incrível Mégane Trophy-R. E vão onze.
Começo pelo design, exactamente aquilo que menos vos importa saber, não só porque as fotos mostram o que poderia descrever, mas também porque o meu gosto não traduz se a Renault fez ou não um bom trabalho. Eu gosto bastante e acho que foi importante que esta actualização não o mudasse muito. Para quê mudar? Funciona bem, é moderno, proporcional e dinâmico, mas sem exageros. Os pára-choques e a iluminação foram retocados e este que conduzi, um R.S. Line, tem um design mais desportivo. Adoro as jantes de 18 polegadas, mas não entendo as ponteiras de escape, duplas e fechadas.
Por dentro, ainda melhor. O painel de instrumentos é agora digital, personalizável e o infotainment é também novo, completo, intuitivo e com excelente grafismo. A posição de condução continua excelente e os bancos deste R.S. Line roçam a perfeição. Não são umas puras baquets, mas são bonitos, robustos, confortáveis e com muito suporte para pernas e costas. Uma vez sentados, dali não saímos ao curvar depressa. A boa qualidade dos materiais já não é uma novidade na gama Mégane, eu é que não conduzia um Mégane “convencional” há já algum tempo. Todos os elementos denotam cuidado na montagem, é um ambiente sólido e robusto. Atrás, o banco mantém o padrão dos da frente, assim como os cintos, com risca vermelha decorativa. Um toque simples, é certo, mas que gostei muito de ver. O banco de trás é confortável, mas o espaço disponível fica ligeiramente aquém do que alguns rivais de segmento já oferecem.
O motor é uma pequena jóia escondida num mercado que, arrisco-me a dizer, continua a preferir o seu Mégane com motor Diesel. Não sabem o que perdem, porque por muito bom e até mais económico que o Blue dCi seja, não tem o pulmão deste 1.3 TCe. Se podes prescindir do Diesel, prescinde mesmo. São 160 cavalos, enérgicos, e 260 Nm de binário, disponíveis bem cedo no conta-rotações. A caixa EDC de 7 velocidades combina bem com este motor e só notei alguma hesitação nas manobras. Talvez, também, por minha falta de hábito, sem ter real noção da carga inicial de acelerador em que a embraiagem “morde”. Mas digo mais, a versão de 140 cavalos com caixa manual deve chegar e sobrar para as encomendas. Mais barata, mais poupada e a diferença de andamento não é, certamente, assim tão grande. Sempre são 2400 euros de diferença. Para os Diesel, então, nem se fala. Com isto tudo, a contagem passa a catorze.
Ao volante, o Mégane volta a surpreender-me sem o fazer. Porque as suas capacidades dinâmicas não são, também, uma novidade, mas eu é que voltei a aperceber-me que não o conduzia há mais de um ano, arrisco-me a dizer. O compromisso entre conforto e dinamismo é, volto a frisar, algo em que a Renault se tem vindo a destacar. Nem os pneus 225/40, nem as jantes de 18 polegadas mancham o conforto oferecido, nem o conforto oferecido prejudica as suas reacções ágeis e rápidas numa estrada mais R.S. Line do que “blue line”. Dispondo de caixa EDC, faltam-lhe umas patilhas no volante, mas a facilidade com que limpou 20 quilómetros de curva e contra-curva, volta a relembrar-me: “ok, para um Mégane normal, isto é mesmo bom”.
A referência e o mais vendido? Não sei para quantos de nós o é, mas sei que vende muito. E sei que para mim é, sem dúvida, uma referência. E se não fosse o fenómeno (interminável, inexplicável, indesejável) dos SUV, mais venderia. Porquê? Porque não sendo, para muitos, o melhor em nada, é bom em tudo. É o modelo que muitos condutores acabam por escolher. Por ser um produto incrivelmente equilibrado. E no fim disto tudo, escrevi dezasseis vezes “Mégane”, é certo, mas tenho a certeza de que o disse em menor quantidade do que o número de vezes que te cruzas com um Mégane no teu dia-a-dia. Aliás, Mégane, Mégane e Mégane, assim fica um redondo “vinte” e posso, na mesma, manter o que disse. Diz-nos lá, quantos vês por dia?