Toledo: o primeiro SEAT da era Volkswagen está quase “nos 30”
A segunda geração do Ibiza, lançada em 1993, não só foi a principal responsável pelo grande salto que a SEAT deu no início da década de 1990, como foi aquela que se desligou por completo da então já extinta ligação da marca espanhola com a FIAT. No entanto, o Ibiza não foi o primeiro modelo da SEAT a ser desenvolvido após a sua completa integração no grupo Volkswagen. Esse modelo foi o Toledo.
Mas ainda antes do Toledo da SEAT – uma vez mais uma designação geográfica para um dos seus modelos, uma tradição iniciada anos antes pelo Ronda – houve o Toledo da Triumph. Apesar de algum ruído e polémica que, segundo consta, surgiu no mundo automóvel quando a SEAT anunciou que o seu novo modelo teria o mesmo nome do britânico, ao que parece a British Leyland cedeu os direitos de utilização dessa designação, pelo que a SEAT avançou com o seu primeiro modelo 100% Volkswagen, o seu Toledo, em Maio de 1991.
Exteriormente, apesar de não o parecer, o Toledo espanhol é um hatchback, um dois volumes e meio, quase três, cuja bagageira, para além de enorme, com 550 litros de volume, tem um acesso muito facilitado pela grande boca de carga que se mostra ao abrir a porta da mala. Por fora, Giugiaro tentou combinar o dinamismo e salero latinos da SEAT com alguma robustez e frieza germânica no Toledo, destacando-se , visualmente, por elementos como a iluminação de desenho estreito na frente e atrás ocupando quase toda a largura da carroçaria, ainda que aqui não totalmente funcional. O Toledo foi o modelo que abriu o caminho para essa solução estética, presente em modelos como o Ibiza e Cordoba, pouco tempo depois, e outros bem mais recentes como os novos Leon e Cupra Formentor.
Toledo na competição e nos Jogos Olímpicos
Também o coeficiente aerodinâmico de apenas 0,31 é um destaque da primeira geração do Toledo, modelo que derivou do concept TL, mostrado no Salão de Genebra de 1990, e que também ele dava sinais de que a aerodinâmica era uma prioridade, com um valor de apenas 0,24. O Toledo foi, também, o primeiro eléctrico da marca, já que foi construída uma versão especial para os Jogos Olímpicos de 1992, edição que se realizou na cidade natal da marca catalã, Barcelona. Foi ele que transportou a tocha olímpica na cerimónia de abertura e para o fazer recorreu a um conjunto de baterias que pesavam cerca de 500 kg e que eram capazes de uma autonomia de 55 quilómetros. Os 22 atletas espanhóis medalhados nesse ano receberam igualmente um Toledo Podium, uma versão superexclusiva, com pintura a dois tons, acabamento luxuoso e com fax e telefone fixo. Porquê? Porque sim, basicamente. Eram assim as coisas nos anos 1990.
Quanto a motores, o Toledo de produção escondeu sempre debaixo do seu capot motores de quatro cilindros, Diesel e a gasolina, com potências que variavam entre os pouco mais de 65 cavalos do motor atmosférico 1.9 litros a gasóleo – mais tarde chegaram os TDI com 90 e 110 cavalos – e os 150 cavalos do 2.0 litros 16 válvulas, a gasolina, combustível que também alimentava os motores 1.6 e 1.8 litros, bem como outra versão do bloco de dois litros com cabeça de 8 válvulas. No mundo da competição, o Toledo, mais concretamente, o Marathon, aventurou-se no mundo do todo-o-terreno e também nas pistas o modelo da SEAT fez algumas experiências, nomeadamente, no Campeonato de Espanha de Turismos, mas também na Bélgica, França e Reino Unido.
Terão sido construídas cerca de 555 mil unidades do Toledo entre 1991 e 1998 e em 1992 foi, inclusivamente, eleito “Carro do Ano” em Portugal. Não sobram muitos exemplares no mercado nacional de usados, mas encontrámos um Toledo 16V com quase 275 mil quilómetros – bem viajado, portanto – mas completo e com bom muito bom aspecto, por pouco mais de 1000 €. Demos de caras com um outro, uma versão mais baixa da gama (por vezes, injustamente subvalorizadas no mundo dos pré-clássicos ou usados), mas com pouquíssimos quilómetros, por 2500 €.
Este último, exceptuando a cor, é exactamente igual ao único Toledo de primeira geração em que alguma vez andei, o carro dos pais de um amigo meu dos primeiros anos de escola. Lembro-me tão bem desse carro que ainda hoje sei a sua matrícula. E foi por me cruzar com estes anúncios que desatei a escrever estas linhas, ao fim das quais me apercebo de que não me chateava mesmo nada em investir algum dinheiro no 2.0 16V que encontrei. É que só lhe faltam as jantes originais. O primeiro project car da Garagem? Seria uma maneira muito gira de celebrarmos os 30 anos do Toledo. Aceitam-se opiniões.