Honda e: fim-de-semana com um eléctrico
Toda a gente tem uma desculpa para ainda não conduzir um eléctrico. Eu até tenho várias e posso começar pela menos racional e importante delas todas: prefiro, de longe, um motor a gasolina. Pronto, já o disse. Outra vez. Mas eu não sou exemplo para ninguém. Um automóvel, para mim e para qualquer outra pessoa, serve para ir de um sítio até ao outro, mas isso é, também para mim, secundário. O meu automóvel particular serve para muito mais. E se não consigo, ainda, ver no eléctrico a mesma emoção que retiro da utilização de um motor térmico, começo, porém, a ver alguma luz ao fundo do túnel, admito.
Reconheço-lhe, no entanto, inúmeros argumentos. O silêncio, a baixa manutenção, a condução sem emissões ou a facilidade de utilização. Mas as vibrações de um motor de combustão, o calor que emana e o som que produz têm um significado muito especial. Sim, chamem-me o que quiserem. Cidadão egoísta ou assassino ambiental. Não sou nem um, nem outro. Sou um tipo que gosta de automóveis, somente isso.
Mas infelizmente, nos tempos que correm, gostar de carros parece ser isso mesmo, ser uma pessoa que não respeita as demais e o planeta que partilham. É o que me fazem sentir, por vezes, e isso é parvo. E, também, por vezes, apetece-me, sem querer ofender, chamar à atenção alguns condutores que, no seu direito, conduzem um eléctrico e perguntar-lhes em que carro tiraram a carta pois parece que se esqueceram de que conduziram durante 30 anos um carro que vibrava, poluía ao circular e emitia ruído. A memória parece ser, várias vezes, curta. Aplausos para que já aderiu, mas, por favor, não assobiem quem não conduz um eléctrico. Uma vez mais, isso é parvo.
Lembrem-se, igualmente, que a transição energética não é para todos nós. Pelo menos, agora, já, hoje. Não me vou focar em tempos de carregamento, cada vez menores, nem na autonomia, cada vez maior, nem tão pouco na oferta de postos de carregamento, cada vez mais alargada. O meu problema não é o carro eléctrico, cujo preço é ainda puxadote. Bem puxadote, na verdade. O problema é, sim, a casa. Um apartamento, configuração que, arrisco-me a dizer, partilho com mais de 80% da população. E não tenho garagem. Tenho a Garagem, sim, mas não tenho um espaço físico onde instalar uma wallbox ou onde ligar o “meu” Honda e à tomada para o abastecer de electrões.
Honda fez all-in no design
Parece-me que é agora que vou começar a falar do automóvel que me trouxe aqui, um dos eléctricos com mais pinta do momento e um dos principais responsáveis pela forma diferente como começo a encarar a ideia de conduzir um eléctrico no meu dia-a-dia. Já olharam bem para ele? Gostos não se discutem, bem sei, mas na Honda parece que também não se discutiu muito o design final, pois este modelo de produção parece um concept, um estudo de como o seu primeiro eléctrico poderia ser. Parabéns à Honda pela coragem que demonstrou ao ter cancelado essas 47 reuniões e avançado para a produção, bem como pelo orgulho na sua história ao lançar um modelo inspirado no seu passado e herança. Querem apelar às emoções de um petrolhead que, para já, não se imagina, diariamente, ao volante de um eléctrico? Estão a consegui-lo, também, pelo design, Honda. E não são os únicos.
Carregamento rápido: “Assim, sim!”
Pois bem, peguei no meu cartão de acesso aos electrões limpos (ou não), acedi à minha app para seleccionar um posto de carregamento potente e funcional e lá fui eu. Primeira tentativa, um carregador rápido em Cascais. Cheguei lá e estava ocupado. Segunda tentativa, outro posto rápido, também em Cascais, também ocupado. Felizmente, o senhor do Tesla apercebeu-se da minha chegada e como já tinha o seu Model 3 praticamente “atestado de electricidade”, partiu rápida e silenciosamente e deu o seu lugar ao Honda e. Recuperei rapidamente alguns quilómetros de autonomia e regressei a casa.
Não me preocupei com potências e tempos de carregamento. Quis apenas perceber como seria um fim-de-semana com um veículo eléctrico, estando dependente dos postos públicos que, diga-se, em pleno confinamento, têm poucas visitas. A caminho de casa, tentei ainda um outro posto normal, mas quando vi o tempo que ia demorar para carregar os 20% finais, sempre os mais demorados, fui mesmo para casa, evitando chegar atrasado a um compromisso que tinha na semana seguinte.
Na cidade é quase perfeito
O Honda e é um quase perfeito carro de cidade, ideal para essas deslocações urbanas diárias, ou um excelente segundo carro para as voltinhas curtas em que não se justifica passear 50 litros de gasolina ou gasóleo no depósito. Enquanto eléctrico, o Honda e tem poucos defeitos. A autonomia é curta quando comparada com a de outros modelos? Sim, talvez o seja, mas a Honda assume o carácter citadino do “É” e eu faço os seus 200 quilómetros de autonomia por semana e por isso, se tivesse carregador próprio, por que não? Os obstáculos que persistem estão, cada vez mais, do nosso lado. Precisamos de mudar. Eu também. Mas para já, sem ele ter culpa, o Honda e não me serve. Pelo menos como único carro, mesmo andando pouco. Adoro o design, a condução divertida e o habitáculo quente e acolhedor e, ao mesmo tempo, tecnológico e futurista. Mas são sensivelmente 40 mil euros. É uma pena este preço, sempre o preço.
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