O meu Ferrari preferido. São 10, na verdade
“Qual o teu Ferrari preferido?” Não deve haver, no mundo automóvel, uma pergunta de tão difícil resposta quanto esta. Mais ainda quando nunca conduzi nenhum, pois tenho a certeza de que se já tivesse posto as mãos num Ferrari, antigo ou moderno, restaurado, estimado ou desgastado, seria esse o meu eleito. Tenho também a certeza de que se já tivesse conduzido alguns ou fosse proprietário de vários – e sou, de uns Bburago e outros Hot Wheels, pelo menos – poderia escolher, entre eles, aquele com o qual mais me identificava. Mas assim, com zero conhecimento prático, resta-me escolher com base naquilo que leio, vejo e oiço. O problema é que, ainda assim, escolher um é, uma vez mais, impossível. Por isso fujo à pergunta com a mesma rapidez com que um Ferrari acelera e escolho um e outros nove dos meus Ferrari preferidos.
166 MM – 1948
O mais antigo da minha lista e aquele que melhor representa as origens da Ferrari. A designação MM, de Mille Miglia, não engana, pois esta é uma máquina pensada para provas de longa distância como essa mítica corrida italiana que fazia a ligação Brescia-Roma-Brescia e na qual a Ferrari saiu vitoriosa por diversas vezes. A carroçaria é da responsabilidade da Touring e é linda de morrer. O motor V12 com 2.0 litros produz cerca de 140 cavalos, mas com um peso de apenas 650 kg, a velocidade máxima do 166 MM é 220 km/h. Foram construídas apenas 32 unidades. A RM Sotheby’s leiloou um exemplar, em 2017, mas o lance de 5,7 milhões de euros não chegou para atingir o valor de reserva.
Roma – 2020
Do mais antigo para o mais recente. O novo Roma entrou imediatamente para a lista dos meus Ferrari preferidos de sempre. Tive oportunidade de o ver ao vivo e resulta ainda melhor do que em qualquer fotografia ou vídeo que a marca italiana tenha divulgado. Uma interpretação moderna de um design intemporal, onde a digitalização do habitáculo tem também um lugar de destaque. O motor V8 tem 620 cavalos e a aceleração de 0 a 100 km/h faz-se em apenas 3,4 segundos. Números que impressionam, mas que são, também, para mim, secundários. Uma obra-prima com rodas que até podia ter um motor “mil” com três cilindros.
456 GT – 1992
Um dos primeiros Ferrari que adquiri, à escala 1:18, obviamente. Um belíssimo coupé 2+2 com motor V12 dianteiro, cujo design foi assinado pela Pininfarina, casa associada a grande parte das criações de Maranello. E vou fazer uma afirmação que, certamente, deixará muitos dos seus fãs chocados: não consigo gostar do 456 GT em vermelho. Este carro tem de ser azul escuro. Representou o regresso da Ferrari aos motores dianteiros, algo que não acontecia desde o 412 de 1985 e o seu integralmente novo V12 a 65 graus produz quase 450 cavalos e é capaz de o levar a superar os 300 km/h. Encontrei um à venda, na cor certa, com 40 mil quilómetros, por 60 mil euros. Volto já!
250 GTO – 1962
Fazer uma lista de modelos Ferrari, independentemente da temática, e não colocar o 250 GTO seria criminoso. Um modelo de recordes, cujos montantes pelos quais as suas raras unidades trocam de mãos chegam sempre às dezenas de milhões de euros. Neste aspecto, o 250 GTO é, talvez, “O Ferrari”. Segundo consta, foram apenas construídas 34 unidades desta bela e monstruosa máquina, da autoria de Giotto Bizzarrini. O mítico motor Colombo V12, com três litros de cilindrada, produz 300 cavalos. O Gran Turismo Omologato é um dos melhores – se não mesmo o melhor – Ferrari de todos os tempos. Até mesmo, um dos melhores automóveis de sempre. Pela sua beleza, raridade, performance, currículo e valorização. Roça a perfeição.
458 Speciale – 2013
Um nome que assenta que nem uma luva a muitos outros modelos da Ferrari, todos eles, à sua maneira, especiais. Mas o mais radical dos 458 é mesmo muito especial, muito apreciado pela rapidez de resposta do seu motor V8 atmosférico com 4.5 litros, muito embora a Ferrari seja, actualmente, dos construtores que melhor consegue reproduzir essa imediata disponibilidade nos modernos motores sobrealimentados. O som do oito cilindros do Speciale é qualquer coisa de outro mundo e quanto a cores, este sim, vermelho com faixa azul e branca. Jantes douradas, por favor. Uma arma. Uma lindíssima e eficaz arma.
FXX – 2005
Sei que me estou a focar muito nas cores, mas o FXX, tal como o bem mais discreto 456, para mim, tem de ser azul escuro. Admito que não seja o Ferrari mais elegante, mas é, indiscutivelmente, um dos mais agressivos, ainda antes do motor V12 acordar e acordar, também, toda a gente num raio de 20 quilómetros. Não resisto ao seu grito e à monstruosidade do andamento que mostra em circuito. São “apenas” 800 cavalos, capazes de o levar aos 345 km/h. Não tenho muito mais a dizer. Só um conselho: quando acabarem de ler este texto, vão até ao Youtube e procurem por “FXX”. É de borla. Ainda.
F40 – 1987
Este sim, vermelho. Ou verde escuro. Ou completamente preto. Ou às bolinhas amarelas ou até mesmo com aqueles autocolantes foleiros que simulam buracos de bala. Quero lá saber. Conduzir um F40 deve ser uma experiência verdadeiramente indescritível, embora já tudo tenha sido dito sobre o modelo mais emoldurado de sempre – eu pertenço ao clube – e assim não há muito a acrescentar, portanto. Foi o último modelo de estrada apresentado pelo próprio Enzo, antes do seu falecimento, apenas 14 meses depois. O design é, uma vez mais, “culpa” da Pininfarina e celebra o 40º aniversário da Ferrari. Como diria um bom amigo meu, “Top Estrondo!”.
328 GTB – 1985
Um Ferrari do meu ano. Não sei se o 328 GTB partilha esse prazer, pois infelizmente nunca nos cruzámos, mas eu tenho um “fraquinho” por ele. Gosto da elegante simplicidade do design e do andamento “suficientemente Ferrari” que não assusta o comum dos mortais. São 270 cavalos, capazes de o levar até uma velocidade de 263 km/h, produzidos por um V8 3.2 litros com quatro válvulas por cilindro. A aceleração de 6,4 segundos de 0 a 100 km/h não lhe permite ganhar num arranque contra um moderno desportivo compacto, mas isso conta para alguma coisa? É um Ferrari dos anos 1980 e isso para mim é o que realmente importa. Isso e ter uma cassete dos Duran Duran no autorádio.
F355 Berlinetta – 1994
A música “Eu queria um Ferrari amarelo” já o dizia. Não é de minha autoria, mas podia ser, pois o fabuloso F355 é mais um dos Ferrari que considero que beneficia ao não ter a sua carroçaria pintada de vermelho. Amarelo é a sua cor, a que melhor lhe assenta. Longe de mim dizer que o vermelho é feio, mas o amarelo é “de loucos”. Tal como o GTS. É lindo, mas prefiro o Berlinetta. O motor é um V8 de 3.5 litros com 5 válvulas por cilindro. Dá 380 cavalos ao F355 e dá-lhe, igualmente, uma voz arrepiante ao longo de toda a subida do conta-rotações. Um som irreproduzível pelos seus irmãos mais novos e que, infelizmente, jamais voltará à Ferrari.
330 GTC – 1966
Comecei o texto a dizer que é impossível escolher o meu Ferrari preferido e mantenho, de certa forma, o que disse. Por outro lado, estando tão longe de poder ter um, é mais fácil gerir o dinheiro e escolher em que modelo o investir. E no meio de tanta tecnologia, tanta performance, tantos belíssimos modelos, talvez seja uma surpresa aquele que seria, muito provavelmente, a minha escolha de entre estes 10 que destaquei e outros tantos que não incluí, o Ferrari 330 GTC de 1966.
Apresentado no Salão de Genebra desse ano, partilha o chassis com o 275 GTB Berlinetta e herdou o motor Columbo V12, aqui com 4 litros de cilindrada, do 330 2+2 Coupé. São 300 cavalos às 7000 rpm a ecoar dentro de uma das mais belas carroçarias alguma vez desenhadas e construídas, pelo menos na minha opinião. Esteve em produção até 1968 e foram produzidas apenas 600 unidades. Só preciso de uma. É simplesmente fantástico.
Fotos: Ferrari