Peugeot 205 Turbo 16: o rei dos pocket rockets
Se, hoje, esse título vai para o fantástico Toyota GR Yaris, fica a saber que a receita não é nova. Motor pequeno, turbo, tração integral e leveza. Já os franceses o faziam há quase 40 anos. O verdadeiro rei dos pocket rockets é o fenomenal Peugeot 205 Turbo 16.
Os anos 80
É indiscutível a supremacia francesa durante os anos 80, especialmente em relação a carros pequenos e utilitários. Ela é Peugeot, Renault, Citröen, todas com carros utilitários com várias versões e todas elas a bater recordes de vendas. Os alemães faziam carros maiores, os italianos (ainda) mais pequenos. Digamos que se fossem mais pequenos, tinham de lhes pôr uma argola para prender chaves. Felizmente, compensavam na beleza. É pena eu não ser italiano. Só o Peugeot 205, o carro que me fez escrever esta crónica, em 15 anos de produção vendeu mais de 5 milhões de unidades!
Tudo começou… há um tempo atrás, na ilha do sol. Desculpem a partida. Não começou nada aí. Mas agora vão ficar com essa música na cabeça. Lamento. Começou, isso sim, na terra do queijo e da baguete, no ano de 1977, quando os executivos da marca decidiram substituir o Peugeot 104. O projecto, de nome M24, começou e em 1981 já havia um protótipo. O 205 foi lançado em 1983.
GTi e electrões e turbos
O 205 teve 15 anos em produção e várias versões, sendo as mais desejadas as GTi, tanto com o motor 1.6 litros ou 1.9. Esta última é, provavelmente, um dos carros de sonho de qualquer petrolhead… perdão, tête d’essence. Houve, até, uma versão eléctrica não comercializada com autonomia para 140 km. Nada mau. No entanto, a melhor de todas foi, sem dúvida nenhuma, a version d’homolagation do carro de rally. Ditavam as regras da FIA que, para homologar um carro para rally era necessário fazer 200 versões de estrada. Maravilha!
Mãos à obra na fábrica de Mulhouse e, 27 meses depois, via a luz do dia o fabuloso e absolutamente incrível Peugeot 205 Turbo 16. Uma autêntica besta com motor central traseiro de 4 cilindros de 1.8 litros, turbo, capaz de 200 cavalos de potência e 255 Nm de binário. O suficiente para atingir 210 km/h. Bastante bom, diriam. Sim, mas a melhor prestação era a aceleração. Menos de 6 segundos dos 0 aos 100 km/h. O peso de 1145 kg e a tração integral ajudavam não só a atingir este valor como a controlar o carro, juntamente com a suspensão independente às quatro rodas. Foram fabricados os necessários 200 e os primeiros 4 foram especiais. Oferecidos a executivos e pilotos da marca, tinham a pintura branca de rally com as respectivas decorações. Os restantes 196 tinham uma pintura cinzenta lisa.
Era vendido, em 1984, por um preço de 290 mil francos franceses, ou 44 mil euros, o que, a preços de hoje, daria algo como 88 mil euros. Seria impensável uma marca colocar um carro deste tipo à venda com este preço. Mas a verdade é que vendeu. Todos.
A versão de competição era ainda mais brutal que a de estrada. Não só tinha todos os apêndices aerodinâmicos necessários, como o motor tinha uma potência de 450 cavalos e pesava menos de 900 kg. Venceu 16 corridas do WRC e foi campeão de construtores e de pilotos por duas vezes, ultrapassando o Audi Quattro, tornando-se o mais bem sucedido carro do Grupo B. Os seus pilotos e co-pilotos mais conhecidos foram Ari Vatanen com Terry Harryman e Timo Salonen com Seppo Harjanne.
Alguns exemplares têm sido leiloados, tendo alguns atingido valores na ordem das centenas de milhares de euros. Eras capaz de dar tanto por um clássico destes? Eu talvez não. Acho que ter um carro destes é um privilégio, sem dúvida, mas só se o tivesse comprado na altura. Cuidar dele ao longo do tempo, aproveitá-lo com os amigos e família, viver aventuras com ele e passá-lo para as próximas gerações.
Comprar um carro clássico – ainda para mais a preços que não fazem sentido e na maior parte das vezes só para os deixarem parados na garagem a apanhar pó “para valorizarem” – passados muitos anos é como chegar atrasado a uma festa. Bem sei que as coisas não são tão lineares assim e que há muita gente que adorava ter um clássico deste tipo para usufruir dele, para reviver um pedaço de história e criar a sua. Pensando bem, se calhar até eu.
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