Extreme E: 10 SUV ligados à tomada eléctrica
Há umas quantas edições, no texto “Choque Eléctrico: O Futuro Próximo do Automobilismo”, referi-me à inevitável electrificação do desporto automóvel mundial, sendo já múltiplos os projectos em avançada fase de testes, entre carros de ralis e de rallycross, viaturas de turismo, de todo-o-terreno e de drag racing, tentando arrepiar caminho para apanhar o comboio do inegável sucesso que a Fórmula E tem alcançado. Isto apesar da notória falta do troar dos diferentes blocos V6, V8, V10 e V12 e do associado cheirinho a combustível queimado…!
Igual objectivo de sucesso tem a nova categoria Extreme E, competição para o todo-o-terreno com bólides 100% eléctricos, cujo arranque estaria agendado para o final de Fevereiro, não fosse uma pandemia que teima em não dar tréguas, obrigando a um primeiro adiamento. Apesar deste constrangimento sanitário, a organização não se roga a esforços para ter tudo a postos para o início de uma série que se pretende fique na memória colectiva, não só pelo seu ineditismo, como por juntar um leque de vedetas.
Neste capítulo, conta-se o envolvimento na disciplina de nada menos do que 9 Campeões do Mundo de disciplinas de motorsport, somando, no seu conjunto, mais de 40 desses galardões:
- Fórmula 1: Lewis Hamilton, o detentor do último dos 7 títulos alcançados na disciplina máxima do desporto automóvel de pista, Nico Rosberg e Jenson Button, com 1 ceptro cada, todos na vertente de responsáveis de equipas, em dupla função no caso de Button que também é piloto;
- Rallycross: Johan Kristoffersson, detentor do título de 2020 e triplo Campeão da disciplina, Timmy Hansen, com 2 troféus, e Mattias Ekström, com 1 título, todos como pilotos;
- Ralis: Sébastien Loeb, icónico francês ainda imbatível nos seus 9 troféus de Campeão do Mundo, e Carlos Sainz, duplo Campeão WRC e também vencedor de 1 Taça do Mundo FIA de Offroad;
- Trial / Enduro: Laia Sanz, Campeã por 11 vezes no primeiro, somando 5 galardões adicionais no outro.
A lista de vedetas continua com Stéphane Sarrazin, híper-versátil piloto francês, duplo vencedor da Le Mans Series (em 2007 a mielas com o nosso Pedro Lamy) e especialista nas 24 Horas de Le Mans (18 participações, das quais alcançando 4 2ºs lugares), ou o norte-americano Kyle LeDuc, Campeão por 6 vezes da Offroad Pro-4 Racing Series Championship (série de bajas que, como é hábito, os americanos gostam de considerar Campeonato do Mundo, apesar de só se correr lá no cantinho deles).
Do lado feminino há, entre outras, a espanhola Cristina Gutiérrez, 6 vezes Campeã de Espanha de TT, ou a alemã Claudia Hurtgen, bi-Campeã do Deutsche Tourenwagen Challenge, a britânica Jamie Chadwick, Campeã da W Series (disciplina 100% feminina de monolugares) e Molly Taylor, em tempos Campeã de Ralis da Austrália, junto com mais uns quantos nomes pouco ou nada estranhos deste universo, num sonante conjunto que não deixará indiferente quem for amante do tema. Quanto à corrente eléctrica associada, como diz o outro, “primeiro estranha-se, depois entranha-se!”.
Quem vai ser quem nos X-Prix da “Extreme E 2021”…
Eram, até há bem pouco tempo, 9 as equipas inscritas nesta “Extreme E – Electric Odyssey”, tendo-se juntado recentemente uma 10ª formação a uma competição que irá visitar 5 pontos inóspitos deste adoentado planeta Terra, ali colocando em confronto directo todas as lendas acima.
Por falar em duplas, prepare-se para inesperadas composições, tudo porque esta série eléctrica de TT obriga à partilha, a bordo dos buggies Odyssey 21, do volante entre um piloto masculino e outro feminino, batendo-se não só com as equipas suas adversárias como até entre si, num mais ou menos complexo processo de qualificações e corridas. À data, essas 10 formações são as seguintes:
- ABT Cupra XE (Alemanha) | Claudia Hürtgen / Mathias Ekström
- ACCIONA | Sainz XE Team (Espanha) | Lara Sanz / Carlos Sainz
- Andretti United Extreme E (EUA) | Catie Munnigs / Timmy Hansen
- GMC Hummer EV | Chip Ganassi Racing (EUA) | Sara Price / Kyle Leduc
- Hispano Suiza Xite Energy (Espanha) | Christine Giampaoli / Oliver Bennett
- JBXE (Reino Unido) | Piloto feminina a indicar / Jenson Button
- Rosberg Extreme Racing (Alemanha) |Molly Taylor / Johann Kristoffersson
- Team TECHEETAH (Indonésia) | Pilotos a indicar
- Veloce Racing (Reino Unido) | Jamie Chadwick / Stéphane Sarrazin
- X44 (Reino Unido) | Cristina Gutierrez / Sébastien Loeb
Entre os donos, CEO ou conselheiros das estruturas encontram-se outros nomes como Andrew Newey, Chip Ganassi, Jean-Éric Vergne, Michael Andretti e Zak Brown. Ou seja, tudo gente com um palmarés bastante robusto e conhecedores de diferentes realidades deste mundo motorizado.
550 cv e 920 Nm entre as credenciais do ODYSSEY 21
Quanto ao bólide ODYSSEY 21, trata-se de uma silhueta SUV – ufff… até aqui senhores!!! – e propulsão eléctrica, num conceito tripartido entre a Advanced Engineering, a Spark Racing Technology e a Williams Advanced Engineering, esta última autora da bateria que o dispara até a uma potência máxima de 400 kW (550 cv) e 920 Nm de binário, podendo propulsionar 1.650 kg e atingir os 100 km/h em 4,5 segundos, em inclinações com gradientes máximos de 130%.
O exoesqueleto destas abelhinhas de TT é comum a todas as formações, compondo-se de estrutura tubular de liga de aço reforçada com nióbio da CBMM Nobium, com suspensões de braços sobrepostos, com mono-amortecedores hidráulicos ajustáveis, de 3 vias, travões de disco e pastilhas, com pinças Alcon de 6 pistões, e pneus especificamente desenvolvidos para a nova série da Continental Tyres. Já a carroçaria exterior pode ser readaptada à imagem das equipas ou das marcas que representam.
O primeiro teste decorreu há cerca de um ano, na derradeira etapa do “Dakar 2020”, com o norte-americano Ken Block a conduzir um dos primeiros protótipos deste SUV ODYSSEY 21, deixando muito boa gente banzada! Depois, mais para o final de 2020 começaram a ser entregues os veículos às equipas, para preparação dentro dos limites do apertado regulamento, até que em Dezembro a organização os voltou a reunir no complexo MotorLand Aragón (Espanha) para um teste conjunto. Já com os logos e tons dos patrocinadores pôde-se, então, apreciar não só o potencial – e alguns limites – deste SUV eléctrico de TT, bem como o que alguns dos pilotos conseguiram dele extrair, exibindo os seus dotes de offroad, num frente a frente já bastante quente! Assista aqui a esses primeiros testes.
5 ambientes: Deserto, Oceano, Ártico, Amazónia e Glaciar
Não havendo mais atropelos ao inicialmente delineado, nomeadamente em termos de limitações e condicionamentos com as viagens intercontinentais, é intenção da organização desta Extreme E FIA International Series começar por levar a caravana destes X-Prix até Al Ula, no deserto da Arábia Saudita (3 e 4 Abril), para depois rumar ao Lago Rosa/Dakar, no Senegal (29 e 30 Maio), e dali para a fria faixa costeira do Glaciar de Russell, nas imediações de Kangerlussuaq, na Gronelândia (28 e 29 Agosto).
Seguir-se-á a invasão do Pará, na Amazónia brasileira (23 e 24 Outubro) e, a terminar o ano, a Grande Final, a realizar a 11 e 12 de Dezembro na Terra del Fuego, na Patagónia, localidade que entretanto substituiu no calendário o igualmente frio Nepal, ficando adiada e apalavrada a visita àquele que é um dos pontos mais elevados do planeta.
Em traçados na ordem dos 16 km de extensão, as equipas irão bater-se entre si num intrincado processo de Qualificação que levará às Semi-Finais e, depois, à Grande Final, num conjunto de corridas que, no final dos 2 dias competitivos dos 5 eventos, sagrará os respectivos vencedores e, no final do ano, o/a Campeão/Campeã da nova disciplina. Cada manga de Qualificação terá só 2 voltas, cada uma delas cumprida por um dos pilotos da equipa, incluindo-se o tempo perdido com a troca de condutores. Outra particularidade é o facto de existir um boost extra de energia – os chamados Hyperdrives – para a equipa /piloto que efectuar o salto mais longo logo na primeira das múltiplas lombas do percurso, entre outras soluções inéditas! Uma coisa é certa: vai ser quente, muito quente!
Dados os locais remotos dos 5 X-Prix, não é expectável a presença de público, pelo que a série terá cobertura a partir de imagens recolhidas por drones ou câmeras do tipo Go-Pro. As corridas serão depois transmitidas pelos diversos canais com que a organização tem chegado a acordo em todo o mundo, muitos deles pagos. Infelizmente Portugal não está nessa lista, nem acreditamos que vá estar, fruto do longo e contínuo virar de costas dos canais portugueses a eventos motorsport – a não ser que se registe alguma desgraça – sendo a melhor hipótese o Eurosport, uma das plataformas já contratadas. Espera-se que o seja em canal aberto, como acontece com a Fórmula E.
Resta, assim, aguardar pelo arranque oficial desta primeira temporada e das demais novidades inerentes a mais esta arrojada ideia de Alejandro Agag, fundador e CEO da Extreme E, mas também da Fórmula E – este ano já com estatuto de Campeonato do Mundo FIA – e ainda da futura “E1 Powerboat Series”, um campeonato eléctrico de motonáutica… Isto no curto prazo, pois parece que quase tudo o que se possa tornar numa competição motorizada a electrões envolve, de algum modo, o toque de midas do imaginativo empresário espanhol de ascendência argelina!
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Fotos: Oficiais / Extreme E