Conduzias um carro com um escorpião dourado no capot? Claro que sim!
Não gosto, nem um bocadinho, de dar nas vistas. Gosto de passar despercebido. Gosto de expressões como “low profile”. Assim, conduzir um desportivo, relativamente sonoro, com um escorpião dourado “tatuado” no capot parece, à partida, algo com o qual não me identifico muito. Mas isso não podia estar mais longe da verdade no caso do Abarth 595 ScorpioneOro.
Como também já assumi, por diversas vezes, gosto muito de carros pequenos. São perfeitos para o nosso dia-a-dia, pelo menos para o de uma grande parte de nós e conseguem, também, com as suas inerentes limitações, ser uma fonte de boas memórias. Como daquela vez em que carregou meio sofá – já que a outra metade vinha pendurada bagageira fora – do IKEA até casa, ou como aquelas férias de Verão em que levou quatro amigos até à Costa Vicentina com o tejadilho cheio de malas.
Assim, é quase natural que goste bastante do giríssimo 500 da FIAT. Aliar estilo e compacidade é uma técnica que os italianos dominam desde há muitas décadas. E o meu FIAT 500 preferido, enquanto produto, enquanto automóvel, não é uma das suas versões desportivas da Abarth. É sim uma das suas versões base, com motor FIRE, para as massas, para as cidades, para todas pessoas e cenários, aquele que melhor simboliza o conceito iniciado em 1957.
O mais belo de todos os Abarth 595
Mas isso não significa que não gostasse de ter um Abarth na minha garagem. Porque a ter, teria de ser este, mais do que qualquer um outro. Este ScorpioneOro, um de apenas 2 mil que a marca italiana vai produzir e que aqui veste um elegante fato negro, complementado por detalhes dourados cheios de classe, mas isentos de “bling bling”, inspirados nos utilizados pelo seu antecessor A112 Abarth Targa Oro.
Enquanto desportivo, algo que, indiscutivelmente, é, o ScorpioneOro partilha com os restantes 595 muitas das suas características. Recorre a um motor cheio de personalidade, disponível e possante, aqui na versão de 165 cavalos do 1.4 T-Jet e a uma suspensão desportiva que o coloca mais perto do solo e que lhe reduz os movimentos excessivos em curva. Os travões contrariam com eficácia os nervosos andamentos de que é capaz de alcançar e a posição de condução, por muitos criticada, só contribui para uma experiência ainda mais especial, puramente 595.
Dinamicamente, o ScorpioneOro destaca-se pela agilidade conferida pela direcção e pelo eixo dianteiro. Este último responde com rapidez ao que lhe pedimos via volante e permite manter, quase sempre, as rodas da frente na linha certa. E digo quase sempre porque a entrega forte do motor interrompe, com alguma facilidade, a ligação da borracha Michelin com o asfalto. Principalmente se não formos meigos com o pedal direito ao sair das curvas mais fechadas, uma situação que se agrava sob piso molhado (aquele que enfrentámos quase sempre neste ensaio) e para a qual o contributo da função TTC, efeito electrónico de autoblocante, poderá ajudar os condutores mais exigentes com a máquina ou nervosos com o pé a delas sair.
O eixo traseiro segue o da frente quase sempre bem plantado, sem hesitações e reacções imprevisíveis, pelo menos em andamentos apenas considerados vivos e inspirados e não noutros ainda mais exigentes, mais perto do limite das capacidades do chassis do 595. Aí não cheguei, mas no mundo dos comuns mortais, talvez seja até demasiado previsível, retirando alguma liberdade de movimentos e ajustabilidade ao 595, uma abordagem segura que talvez tenhamos de aceitar dadas as reduzidas dimensões do ScorpioneOro e demais versões Abarth inspiradas no 500 que rapidamente podem picar o condutor ao levantar o pé a meio de curvas mais rápidas ou nas travagens tardias na abordagem a estas.
Mas mais do que rapidez e eficácia dinâmica, o ScorpioneOro é um pequeno carro de grandes sensações. Não precisamos de ir exageradamente depressa para se tirar prazer da sua condução, nem ele precisa de dar excessivamente nas vistas para ser merecedor de um último olhar nosso por cima do ombro depois de o estacionarmos. Discreto e vistoso, é mais do que suficientemente rápido para a nossa estrada de eleição, sem ser insuportavelmente desconfortável e gastador para trazer gozo às deslocações banais diárias. Um desportivo puro, exclusivo, sem artificialidades e com muita classe. Aos meus olhos, no infindável mundo das versões especiais do Abarth 595, este Scorpione merece, definitivamente, o ouro.
Segue-nos no Instagram