Hyundai i20 1.2 MPi – As coisas simples da vida
O entusiasmo que me invade nos dias anteriores ao ensaio de um carro desportivo não é necessariamente superior àquele que sinto quando tenho para testar um modelo novo mais banal, mais apontado às massas. Por vezes, nestes casos, é até maior, pela curiosidade que um modelo totalmente novo desperta e pela sua importância para o mercado. No fundo, são esses os carros que as pessoas compram. O novo Hyundai i20 é disso um excelente exemplo, até porque logo no primeiro dia foi requisitado para que uns amigos meus pudessem decidir sobre a sua compra ou não. É para avançar.
E esta versão de acesso fez-me recuar no tempo e matar saudades dos tempos em que era preciso explorar o motor para dele extrair a potência, mesmo a ritmos normais. Hoje em dia, com os pequenos motores turbinados, os carros quase “andam sozinhos”. Com este 1.2 MPi, a história é bem diferente. É um daqueles casos raros em que as marcas simplificam as coisas, oferecendo motores com provas dadas e cuja performance, embora inferior à média actual, não limita muito a sua utilização diária. É um cliché, mas para as voltinhas do dia-a-dia, estes 84 cavalos chegam perfeitamente. É apenas preciso interagir mais com ele. Usar mais a caixa e os regimes mais elevados. Para quem gosta de conduzir, ainda que devagar, isto nem é necessariamente mau. Gostei de usar mais os pedais e a caixa, gostei de ter que fazer subir mais o ponteiro das rotações, Retirei disso, inclusivamente, algum prazer.
Obviamente, nas ultrapassagens ou em autoestrada, o pequeno quatro cilindros não faz milagres. Esforça-se e vai onde os outros vão, gastando, quase sempre, pouco. Nas tais “voltinhas”, às quais adicionei percursos menos simpáticos para o computador de bordo, este nunca mostrou mais de 7,1 l/100 km. A direcção é muito leve e o comando ligeiro da caixa é também complementado por uma embraiagem suave, elementos que, em conjunto, contribuem, e muito, para a facilidade de condução deste i20 1.2 MPi. A visibilidade é óptima graças à baixa linha de cintura e complementa muito bem a boa posição de condução, facilmente ajustável. O comportamento dinâmico prima pela segurança, com movimentos ágeis e controlados se provocado e com um pisar crescido, superior ao da geração anterior e quase sempre confortável nas irregularidades tão presentes nos percursos urbanos.
A nível de design, o i20 está agora muito mais moderno, com uma frente agressiva e desportiva, uma silhueta bem definida e dinâmica e até mesmo com alguma irreverência à mistura, presente na secção traseira, aquela que reuniu menos consenso por parte de quem com ele se cruzou e onde me incluo. Gosto, mas podia gostar mais. Por dentro, um aspecto bem mais conservador, apesar de actual. Todos os novos i20 contam com um bonito painel de instrumentos digital e com um de dois sistemas de infotainment, sendo que o “nosso”, o menos recheado, conta também com ligação sem fios ao smartphone. Relativamente a segurança, não lhe falta a travagem automática de emergência, bem como o assistente de manutenção na faixa de rodagem.
Ainda por dentro, e apesar desta terceira geração ter crescido apenas um centímetro entre eixos, o espaço para pernas no banco traseiro é superior em quase nove. O túnel central é também reduzido e embora o i20 não disponha de largura suficiente para os ombros de três pessoas, o lugar central é utilizável se o trajecto não for assim tão grande. A bagageira, com 351 litros, cresceu e passa a estar entre as referências do segmento, dispondo, igualmente, de uma solução prática para arrumar a chapeleira junto das costas do banco traseiro. Debaixo do piso há espaço para uma roda suplente que, infelizmente, não está lá. Modernices a que nunca me habituarei, está visto.
Segue-nos no Instagram
O Hyundai i20 deu um bom salto a nível estético e um ainda maior no que à habitabilidade diz respeito. O recheio tecnológico é bem superior, a garantia é de sete anos, sem limite de quilómetros, e o seu preço é, atenção, inferior ao da geração anterior se considerarmos versões equivalentes. Este Comfort com motor 1.2 litros a gasolina custa a partir de 16 500 € e é muito carro para o preço pedido. Chega para as encomendas, mas para o caso de a encomenda ser maior, o 1.0 T-GDi, com 100 cavalos e nível de acabamento superior – Style – por mais 1750 €, parece-me uma proposta ainda mais apelativa. Do i20 N, reservo o direito de esconder, para já, o entusiasmo com que já estou só de me imaginar a conduzi-lo.
Vídeo: Fábio Lopes