Citroën AX: O carro que há 30 anos podia ter sido um dos meus de agora
Este título está uma tremenda confusão a nível de português, bem sei, mas o Citroën AX podia ter sido, desde 1991, um dos carros da família, se o meu Avô não tivesse comprado, nesse ano, o SEAT Ibiza que por vezes aparece nos trabalhos desta vossa Garagem. É desse que eu gosto, é esse que guardo e estimo e do qual jamais me separarei. Mas se o meu Avô tivesse optado, há 30 anos, pelo francês no lugar do espanhol, tenho a certeza que o carinho que por ele teria não seria menor, pois teria sido essa a sua escolha ponderada, como todas as que fez na vida.
E para mim, seria igualmente um prazer herdá-lo, pois sempre gostei, desde criança, do AX. Mais gostaria se ele tivesse sido do meu Avô. Mas do AX, não gosto só dos GTi, dos GT ou dos Sport. Gosto de todos eles. Acho-o incrivelmente original. E originalmente simples. Sem grandes loucuras a nível de design, mas indiscutivelmente um Citroën, a mais louca e irreverente das marcas ditas generalistas.
Pormenores como o símbolo dianteiro descentrado, o pequeno aileron integrado na tampa da mala e os manípulos de abertura de porta ocultos, todos eles pormenores giros, todos parte integrante do charme do AX. E por dentro, um habitáculo relativamente espaçoso, prático, com muita arrumação e aquele tão característico volante de um braço apenas, mas para o qual, nas manobras, seriam certamente precisos dois para o rodar, apesar da leveza e dos pneus estreitos do AX.
O AX foi apresentado no Salão de Paris de 1986 e veio substituir o Visa – outro Citroën que passou cá por casa – embora este tenha continuado nos concessionários da marca até 1988. Destacava-se pelo seu design aerodinâmico, com um Cx de apenas 0,31, característica que, em conjunto com a sua leveza, permitiam-lhe declarar consumos muito baixos para a época. Inicialmente estava apenas disponível na carroçaria de três portas, mas a de cinco chegou pouco tempo depois do seu lançamento.
Quanto a versões, o AX foi lançado com as 10E, 10 RE, 11 RE, 11 TRE, 14 TRS e 14 TZS. O motor Diesel chegou dois anos depois do seu lançamento nas versões 14 D, 14 RD e 14 TRD, esta última, nos mercados anglo-saxónicos, era designada por 14 TDR. Tirem as vossas conclusões. Eu acho que percebo porquê. Pista: acrescentem um “U”. E por falar em “pista”, o AX Piste Rouge foi uma versão especial do pequeno gaulês equipada com tracção às quatro rodas. Já as muito apreciadas versões desportivas incluíam o Sport, o GT e o GTi que acima referi, cujos motores apimentados aliados à sua ligeireza faziam dos AX, pequenas, mas temíveis máquinas.
A versão Diesel entrou inclusivamente para o Livro dos Recordes do Guinness ao ligar a cidade de Dover, em Inglaterra, a Barcelona, em Espanha, gastando 45,5 litros de gasóleo para percorrer 1609 quilómetros. Sim, a média final foi de apenas 2,7 l/100 km. Eficiente e poupado, mas igualmente endiabrado. O Troféu AX fez, também, as delícias de muitos fãs de corridas, com provas competitivas e coloridas em que o pequeno AX dava sempre um grande espectáculo.
O AX deixou de ser produzido em 1999, tendo sido substituído pelo Saxo, após mais de 2,5 milhões de unidades produzidas. Andei em vários exemplares, dos mais humildes 11 RE a um mais espigadote GT, mas nunca conduzi um AX. Se o meu Avô se tivesse decidido pelo Citroën em vez do SEAT, não estávamos a ter esta conversa. Ou estávamos, mas com as personagens a trocarem de papel. E se assim fosse, já tinha, de certeza, feito muitos quilómetros ao volante do giríssimo AX da Citroën.
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Fotos: Citroën