Dacia Sandero Stepway TCe 90 – Tanto por tão pouco
Vou começar por referir algo que seria suficiente para deixar bem claros dois pontos: o Dacia Sandero é o automóvel mais vendido a particulares, em Portugal e na Europa. Isto bastaria, por um lado, para mostrar a importância do modelo e a responsabilidade desta nova geração, bem como, por outro, para evidenciar, uma vez mais, como as prioridades dos condutores estão a mudar. A imagem continua a ter um peso enorme na hora de comprar um carro novo, bem como o símbolo que mostra na sua frente, mas não só o preço imbatível dos Dacia tem contribuído para a mudança de paradigma, como a própria imagem da marca tem, também, evoluído, entranhando-se no quotidiano dos condutores e respectivas famílias graças a vários argumentos que vão além do preço apetecível.
Com o novo Sandero, a receita não mudou. O conceito de baixo custo para o comprador continua bem presente, mas o prato é muito mais saboroso porque os ingredientes são melhores. Exteriormente, a terceira geração do Sandero é agora muito mais encorpada e dinâmica, pois cresceu em comprimento e largura, mas a carroçaria é mais baixa. A iluminação principal recorre a tecnologia LED e tem um design bem mais actual do que o da geração que saiu agora de cena. E no caso do Stepway, versão que já representa 71% das vendas do novo Sandero, o exterior recorre a elementos estéticos específicos, as tão apreciadas “cotoveleiras” e “joelheiras” que protegem a carroçaria e as “calças arregaçadas” – mais 41 milímetros de altura relativamente ao Sandero convencional – que lhe dão uma altura livre ao solo de 174 milímetros. Se o Sandero Stepway fosse uma pessoa, seria o Tony Hawk ou o Dave Mirra.
Espaço e equipamento
Por dentro, a abordagem é em tudo idêntica. Mais e melhor, quando comparado com o Sandero anterior. Sim, os plásticos são, todos eles, rijos. É o que é. Se o preço é baixo, é esse o preço a pagar. Ninguém compra um Dacia, ou um premium, na verdade, para massajar o tablier. O que o cliente quer, em especial o de um Sandero, é que tudo aquilo pelo qual pagou, funcione. Que nada salte fora e que seja fiável. Sim, daqui a uns anos talvez faça alguns ruídos parasitas, mas são raros os que não fazem. Ainda assim, a faixa central do tablier do nosso Stepway conta com um acabamento em tecido que ajuda a criar um ambiente um pouco mais quente e acolhedor, material que também encontramos nos apoios de braços das portas. Os bancos são bastante melhores do que os do Sandero anterior, mais bonitos e confortáveis, e nesta versão Stepway são, igualmente, específicos. Atrás, o espaço para pernas e cabeça é bastante convincente. A bagageira tem 328 litros de capacidade e à unidade ensaiada não lhe falta o piso amovível, bem como a roda suplente, ambos opcionais. Este último, seja num Dacia ou em algo com mais um zero no preço, é algo que jamais aceitarei que não seja proposto de série, principalmente quando o espaço está lá.
Quanto a equipamento, para além dos dois opcionais que mencionei, o “meu” Stepway conta, também, com o Pack Hands Free que lhe adiciona o travão de estacionamento eléctrico, o acesso e arranque sem chave e o apoio de braço. Do lado do equipamento de série, o Stepway Comfort conta, por exemplo, com ar condicionado automático, retrovisores eléctricos, câmara traseira, sensores de luz e chuva e sistema de infotainment com ecrã táctil de 8 polegadas, navegação e compatibilidade com Android Auto e Apple Car Play sem fios. Considerando aquilo que é hoje considerado como o mínimo exigível a um carro novo, onde está o compromisso? Não o vejo. E o que também não se vê é a grande novidade deste Sandero: a sua plataforma, a CMF-B, estrutura que partilha com os Clio e Captur. Os novos, sim, os mais recentes Clio e Captur que podes comprar utilizam, também, esta plataforma. E graças a ela o Sandero conta, igualmente, pela primeira vez, com tecnologia como a travagem activa de emergência.
Bons consumos
Mas é na condução que se notam as principais diferenças entre este Sandero e a geração que substitui. A forma como o mais pequeno dos Dacia pisa a estrada denota uma grande evolução a nível de chassis, mais sólido a pisar, mais crescido no amortecimento. É uma proposta claramente orientada para o conforto, para uma condução suave, a ritmos moderados, mas que reage sempre com segurança se o provocarmos. O amortecimento, bem como os pneus, trabalham bem, em conjunto com a maior altura livre ao solo, para que o Stepway enfrente as lombas e calçadas irregulares com grande à vontade. O motor, o já conhecido 1.0 TCe, a gasolina, aqui na sua versão de 90 cavalos, é todo o motor de que o Sandero precisa, com boa disponibilidade desde baixas rotações, vibrações contidas e explorado por uma caixa de 6 velocidades muito confortável de utilizar. O consumo final ficou-se pelos 6,5 l/100 km.
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O Dacia Sandero já não é, simplesmente, uma proposta apetecível do ponto de vista do preço. Não é, somente, um utilitário com uma relação preço/oferta imbatível. É, sim, um segmento B com as mesmas ambições de outros, de outras marcas, que não assumiram a estratégia de baixo custo da Dacia e que agora têm de lutar, com mais e melhor, para baterem uma proposta que evoluiu em todos os aspectos, do design à habitabilidade e da tecnologia à condução. E com um preço base de 14 750 € para o nível de equipamento Comfort, o mais recheado, este Stepway intromete-se, igualmente, no segmento dos pequenos crossovers urbanos. O Sandero, Stepway ou não, foi um sucesso enquanto “low cost”, enquanto Dacia. Agora já não. Agora é, ou vai ser, simplesmente, um sucesso.