De 1997 a 2002: Portugal e o período efémero dos “WRC”
Este dossier dedicado aos 25 anos da categoria “WRC” não ficaria completo sem uma obrigatória referência à sua realidade em Portugal. Sim, também por cá tivemos a nossa gloriosa época desse escalão máximo, efémero período que durou apenas 6 temporadas (de 1997 a 2002). Ficaram para a história dos ralis no nosso país a participação de 5 marcas: Ford, Toyota, Peugeot, SEAT e Subaru, surgidas por esta ordem.
O primeiro WRC luso a surgir no então Nacional de Ralis – hoje Campeonato de Portugal de Ralis (CPR) – foi o Escort WRC de Fernando Peres / Ricardo Caldeira, estreado no Rali TAP (ou de Portugal, como queiram) de 1997, inscrito pela da Totta Peres Competição. Já na temporada seguinte entrava em cena a primeira das estruturas oficiais – o Toyota Telecel Castrol Team – entregando um Corolla WRC a Pedro Matos Chaves / Sérgio Paiva. Em 1999 Rui Madeira / Nuno Rodrigues da Silva tiveram um one-off no Vinho Madeira, num Impreza WRC.
Já o CPR de 2000 via chegar mais duas equipas suportadas pelos representantes nacionais: o Peugeot Esso Silver Team SG, com um 206 WRC de Adruzilo Lopes / Luis Lisboa, e o SEAT Hertz Team, com um Cordoba WRC para Madeira, dessa feita acompanhado por Fernando “Fanã” Prata.
Entretanto, no meio do Atlântico surgia de rompante uma outra viatura “WRC”, no caso um Subaru Impreza WRC que, pelas mãos da dupla Vitor Sá / Ornelas Camacho, partia à conquista do Regional da Madeira. E se bem que o prometeram, melhor o fizeram, exercendo um domínio quase absoluto, vencendo 7 das 8 provas do calendário local de 2000, sendo, também, os “Melhores Madeirenses” no Vinho Madeira, prova então pontuável para o Europeu de Ralis, no seu escalão máximo. Num programa a dois anos, a dupla da Sá Competições repetiria o feito em 2001, com mais 6 vitórias absolutas (em 9 provas) e, de novo, os melhores locais no afamado rali da maior ilha do arquipélago. Sagraram-se, naturalmente, Campeões Regionais nessas duas temporadas. Já no Regional dos Açores não surgiu nenhum WRC em mãos de pilotos ou estruturas açorianas.
Voltando ao continente, em 2001 passariam a ser 5 os pretendentes aos títulos do CPR, naquela que foi a temporada mais recheada e competitiva da categoria: o Peugeot Esso Silver Team SG inscrevia dois 206 WRC, com Miguel Campos e Carlos Magalhães a juntarem-se, a meio da época, à dupla Lopes / Lisboa; a Ford Galp Racing apostava num Focus WRC para Madeira / Prata; o Toyota Telecel/Vodafone Castrol Team evoluía o Corolla WRC de Chaves / Paiva; e o grupo completava-se com os inseparáveis Peres / Caldeira, fiéis ao já bem mais velhinho, mas ainda fiável, Escort WRC da Peres Competições.
O último ano dos WRC portugueses foi 2002, resumindo-se a uma luta entre duas estruturas oficiais, a redenominada Peugeot Total Silver Team SG, com um 206 WRC para Campos / Magalhães, e Ford Galp Racing com um mais evoluído Focus WRC para Madeira / Prata. Em modo esporádico, Adruzilo Lopes e Luis Lisboa participaram no Rali de Portugal desse ano com um Impreza WRC ’99 da equipa Procar.
No ano seguinte, a nossa Federação (FPAK), numa tentativa de cativar mais construtores para o campeonato, direccionava a aposta a propostas de escalões abaixo, impedindo a inscrição de viaturas “WRC” nos ralis portugueses, ou que pontuassem para o CPR, exceptuando-se as provas com cunho internacional.
Então… e as estatísticas?
Ah, sim… faltam os números! Em termos de vitórias lusas absolutas em provas do CPR – excluem-se, por isso, os pilotos estrangeiros que venceram diferentes edições do Rali de Portugal, dos Açores ou do Vinho Madeira – o 206 WRC tem para si, passe a redundância, a dose de leão, com 15 sucessos, divididos entre Campos (9) e Lopes (6). Segue-se o Corolla WRC somou 6 (todas por Chaves), o dobro das alcançadas pelo Focus WRC (Madeira) e mais 2 do Escort WRC (Peres). Há ainda as 13 vitórias que a Subaru alcançou no Regional da Madeira.
Em termos de campeonatos neste período luso de 6 anos “WRC”, os Corolla WRC e os 206 WRC conquistaram dois de Marcas cada, os de 1999 e 2000 pelos japoneses e os de 2001 e 2002 pelos franceses. Os restantes troféus ainda ficaram para os Kit-Car, o Peugeot 306 Maxi (1997) e o Renault Mégane Maxi (1998). Em termos de Condutores e Navegadores, Adruzilo Lopes e Luis Lisboa sagraram-se Campeões em 1997, 1998 (ainda nas temporadas dos 306 Maxi) e em 2001, aqui já com o 206 WRC. Pedro Matos Chaves e Sérgio Paiva asseguraram os títulos de 1999 e 2000 (com o Corolla WRC), fechando-se o ciclo com a chancela “WRC” nacional em 2002, ano em que Miguel Campos e Carlos Magalhães asseguraram os derradeiros ceptros de Campeões Nacionais desta categoria.
Entre os visitantes externos, o “WRC” de maior sucesso é o Subaru Impreza WRC, com 6 vitórias absolutas (Colin McRae, Bruno Thiry, Richard Burns, Markko Martin, Piero Liatti e Juha Kankkunen); o Citroën C4 WRC venceu por 3 vezes (2 por Sébastien Loeb e 1 por Sébastien Ogier), tal como o Volkswagen Polo R WRC (2 por Ogier e 1 por Jari-Matti Latvala); com 2 vitórias internacionais ficaram o Toyota Corolla WRC (Andrea Aghini e Didier Auriol) e o Citroën DS3 WRC (Ogier e Kris Meeke); o Peugeot 206 WRC (Aghini) soma mais 1 sucesso ao seu pecúlio, tal como o Ford Focus WRC (McRae), resultado também depois registado pelo Fiesta RS WRC (Mads Ostberg). Do grupo dos mais recentes “WRC”, com homologação de 2017, o pecúlio é tri-partido entre o Ford Fiesta WRC (Ogier, nesse ano), o Hyundai i20 (Thierry Neuville, 2018) e o Toyota Yaris WRC (Ott Tanak, 2019). O desempate terá lugar no final de Maio próximo, na edição 54 do Vodafone Rali de Portugal.
Os mundialistas tugas
Regressando aos valorosos lusos – o tema forte desta edição da Garagem – algumas duplas também andaram além-fronteiras com carros da categoria máxima do automobilismo de estrada, tentando levar as cores nacionais cada vez mais alto. Senão vejamos!
- Vencedor da Taça FIA de Grupo N de 1995, Rui Madeira disputou, com Nuno Rodrigues da Silva, parte do Mundial de Ralis de 1998 (5 provas, todas em solo europeu) aos comandos de um Corolla WRC, como piloto semi-oficial da Toyota via equipa italiana HF Grifone. O melhor resultado neste contexto foi um 7º lugar no Rali da Acrópole, intercalando-se uma participação extra no Vinho Madeira, que se saldou por um 4º lugar.
- em 2004 foi Miguel Campos quem fez 2 ralis do WRC com um 206 WRC preparado pela Bozian Racing, curiosamente também tendo Nuno Rodrigues da Silva a cantar-lhe as notas. Se em Monte-Carlo desistiram, no Rali de Chipre terminaram no 8º lugar.
- depois de uma perninha no Rali de Portugal de 2007 com um Mitsubishi Lancer WRC, a dupla Armindo Araújo / Miguel Ramalho defendeu as cores da bandeira nacional nos Mundiais de Ralis de 2011 e de 2012 ao volante de um Mini JCW WRC, nos que foram os únicos portugueses a disputar épocas (quase) inteiras nesta Era #4 do WRC. Foram 23ºs no primeiro ano, pelo Team Motorsport Italia, tendo um 8º lugar no Rali da Alemanha como melhor prestação, e 15ºs na temporada seguinte, pelo WRC Team Mini Portugal, registando um 7º lugar no Rali do México.
Para completar o ramalhete, acrescente-se que o Peugeot Total Silver Team SG internacionalizou-se em 2013, para lutar pelo título Europeu de Ralis desse ano, com um 206 WRC para Miguel Campos e Carlos Magalhães. Terminada a época, Campos ficou empatado em pontos no 1º lugar, decidindo-se o título por número de vitórias, 5 contra 4, a favor do adversário, no caso o belga Bruno Thiry.
Infelizmente, no passado mais recente, ninguém tem tido budget para os imitar, por maior capacidade e mais valores que tenhamos por terras lusas no mundo dos ralis. Vejamos o que a Nova Era dos Rally1 nos poderá reservar…!
Fotos: Interslide (Armindo Cerqueira, João da Franca, Paulo Maria, Paulo Pacheco) / AIFA (Jorge Cunha) / Fernando Peres (Facebook) / Rui Madeira (Facebook) / ERC / Rally de Portugal