Volvo S60 T8 Recharge – Um avião sobre carris
Mas que bom momento atravessa a Volvo. E não me refiro às suas vendas globais, números muito positivos, sem dúvida, e suportados em grande parte pelo sucesso da sua família XC, os SUV XC40, XC60 e XC90. Refiro-me, sim, aos automóveis em si. Ao design, à tecnologia e à condução, aquilo que mais importa, talvez, para quem opta por um Volvo. Sempre gostei da forma como o símbolo sueco aborda a construção dos seus carros, mas ao olhar para a Volvo da actualidade, há pouco, ou quase nada, para não gostar.
Se me obrigassem a ter um SUV, este seria muito provavelmente um Volvo. Não há um modelo da sua gama actual que não seja bonito, distinto. Mas a Volvo é muito mais do que bons SUV, com uma tradição muito longa e rica no segmento das berlinas mais clássicas e das suas míticas carrinhas. O Volvo de hoje encaixa nesse segmento dos familiares de três volumes, o lindíssimo e pouco visto S60. Pouco visto por duas razões: não é um formato de carroçaria muito procurado e esta é uma fatia do mercado premium completamente dominada por marcas alemãs.
É realmente uma pena, pois por muito bem servidos que esses condutores estejam com qualquer um desses modelos germânicos – e não tenho quaisquer dúvidas disso, que isso fique bem claro – um automóvel como o S60 não merece ser a escolha de apenas 30 condutores portugueses por ano, pois as suas qualidades são muitas e inquestionáveis. E antes dos factos e de relatar a minha experiência com este S60 T8, permitam-me uma opinião, sempre subjectiva, sobre o design: poucas marcas combinam, numa só carroçaria, elegância e classe com robustez e modernidade da forma como a Volvo o faz. Já o disse e está dito.
Por dentro, encontrei neste S60 R-Design um ambiente que já me é, felizmente, bastante familiar, pois partilha com outros modelos o bom gosto das linhas do tablier, bem como a qualidade dos materiais. Os bancos são estupendos, quer em conforto, quer em suporte, sem exageros, tudo na dose certa. Atrás, porém, os passageiros não vão tão bem sentados. Há espaço suficiente para pernas e cabeça e o conforto é elevado, obviamente, mas o assento podia ser um pouco mais comprido, contribuindo com mais suporte para as pernas e ajudando a relaxar nas longas viagens. O lugar do meio é, tal como o nome indica, para meio passageiro. Mas o que importa isso se considerarmos os benefícios das baterias ali colocadas, ao centro? E quantas vezes levas 5 pessoas no carro?
Voa baixinho, imperturbável
Esta motorização topo de gama, em configuração híbrida plug-in, combina a potência de um motor quatro cilindros, a gasolina e espevitado por um compressor e por um turbo, com a de um outro, eléctrico, colocado no eixo traseiro. Tudo somado, o T8 oferece números de outro mundo, com nada mais nada menos do que 390 cavalos e 640 Nm. Estes, aliados à tracção integral, fazem-nos sentir pequeninos, bem enterrados no conforto do S60, ao chegar aos 100 km/h em menos de 5 segundos, continuando a puxar com enorme vigor até que se atinjam os 180 km/h de velocidade máxima, limite agora imposto pela Volvo. Caso contrário, não quero imaginar onde o velocímetro pararia de subir.
Recorrendo exclusivamente à bateria e ao motor eléctrico, consegui percorrer 41 quilómetros sem acordar o motor de combustão. Um valor que fica aquém do anunciado pela Volvo, é certo, mas que ainda assim me permitiu chegar ao fim dos primeiros 100 quilómetros com uma média de 4,8 l/100 km. Para o resto do ensaio, decidi não fazer aquilo que um utilizador de um veículo plug-in deve fazer, sempre: carregar a bateria. Não o fiz porque não tenho um posto de carregamento particular para o fazer rapidamente e com muita gasolina no depósito, pude dar-me a esse luxo. Mas este é um procedimento obrigatório para se usufruir em pleno das vantagens de um híbrido com esta configuração. Também não o fiz porque queria fazer outros 100 quilómetros em modo híbrido e assim medir o consumo real de uma utilização em que damos ao S60 T8 a responsabilidade de gerir a recuperação e utilização da energia eléctrica como bem entender. Os resultados surpreenderam-me, pois cheguei ao fim do teste com uma média de 8,2 l/100 km.
Extras valem quase 6.000 €
Ainda a bordo, apesar do andamento impressionante, não nos podemos esquecer das duas robustas e electrificadas toneladas de peso deste “azulão”. Longe de ser um desportivo, o S60 é um rolador nato, um autêntico devorador de quilómetros mais focado no conforto e na segurança do que numa dinâmica envolvente, mostrando-se, sim, imperturbável nas longas distâncias, transmitindo a confiança e serenidade que esses percursos tanto exigem. E para garantir que a viagem não nos satura, está lá, também, muito equipamento de segurança e conforto. De série, por exemplo, não lhe falta o painel de instrumentos digital, o assistente de faixa de rodagem, a travagem automática de emergência e os faróis LED. Já os packs Power Seats, Driver Assist e Navi Tech & Park Assist custam 4.281 €, valor a somar ao de mais alguns opcionais, ao das jantes de 19” e à belíssima cor Bursting Blue, elevando o preço base de 62.726 € do S60 T8 Recharge para os 68.581 € deste lindíssimo “AE08FT” do parque de imprensa da Volvo.
É muito dinheiro? Sim, é. Neste segmento e com esta motorização, o S60 T8 Recharge não é, efectivamente, um automóvel para qualquer carteira. Mas considerando tudo o que oferece, a performance, a eficiência, o conforto, o equipamento e a segurança, bem como uma curiosa facilidade de se adaptar a diferentes estilos de condução e cenários – desde os mais calmos e silenciosos, nas cidades em modo eléctrico, até ao mais apressado “modo TGV”, encurtando distâncias em vias mais rápidas – é difícil não esquecer o valor dos quase 70 mil € pedidos e focarmo-nos, apenas, no valor global de um automóvel tão completo e tão bom como este. Já não peço 70 mil € para o comprar, algo que me deixaria muito feliz. Não peço tanto. Já ficaria muito contente se me cruzasse com mais do que um S60, pontualmente, quando ando por aí. E se eu tivesse um S60, garantidamente, andaria muito por aí, de um lado para o outro, a ligar capitais europeias, em estilo e em segurança, rápida e eficientemente, a bordo do meu jacto particular de estrada.
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