5 SUV que vendem mais do que o modelo em que se baseiam e outras 5 curiosidades do mercado
Já falei sobre o fenómeno SUV/crossover umas 784 vezes no último ano e por isso fazê-lo uma vez mais não tem importância. Não me vão levar a mal. Já admiti, igualmente, que embora goste de alguns modelos, raramente prefiro um SUV ou crossover ao modelo que lhe serve de base. É uma questão de gosto pessoal e o design é sempre quem fala mais alto. Mas neste fenómeno, que já não podemos apelidar de recente, para além do design, o formato da carroçaria também conta muito. Assim como a posição de condução elevada e as rodas grandes. Sim, tudo estético, porque isso de ser mais prático e seguro não é bem assim.
Eu sou fã de utilitários, dos modelos do chamado segmento B. Modelos como o Clio, o Ibiza, o 208, o Fiesta e o Rio. Uns mais do que outros, é certo, mas todos eles nomes consagrados deste segmento de mercado. Uns com excelentes registos comerciais, como é o caso do 208, e outros com desempenhos bem mais discretos, como o Rio. No entanto, no primeiro trimestre de 2021 do mercado automóvel português, todos eles foram batidos pelos seus meio-irmãos de formato crossover. Os números da ACAP não mentem.
O líder absoluto do mercado foi o Peugeot 2008, modelo que com 1545 unidades vendidas, relegou o 208 para o segundo lugar da tabela com 1451 matrículas registadas. Ainda nas marcas francesas, a Renault vendeu 872 Captur e 643 Clio, mais um exemplo das preferências “crossoverísticas” dos portugueses. Também a SEAT comercializou mais unidades do Arona – 572 unidades – do que do Ibiza, modelo que registou 450 exemplares comercializados. Outro exemplo vem da Ford, com o Fiesta a ser a escolha final de 176 condutores, um valor baixo quando comparado com os 437 que optaram pelo crossover Puma. E para fazer uma mão cheia de exemplos, passamos à Kia, marca que entregou 142 unidades do Rio e quase o dobro de exemplares do Stonic, com 260 matrículas. Tudo isto sem sair do segmento B.
5 curiosidades do primeiro trimeste de 2021
Uma vez que notícias como esta já não são propriamente uma surpresa para ninguém, decidi fazer outra mão cheia de comparações que, pelos menos aos meus olhos, não podem ser vistas como algo normal.
Extinto vencedor
A Alfa Romeo não está a atravessar um momento fácil. Tudo indica que a recente criação do gigante Stellantis vai ser a salvação da mítica marca italiana, mas até à chegada do muito aguardado SUV Tonale, a “Alfa” dispõe apenas de dois modelos na sua gama, os fantásticos Giulia e Stelvio. Ainda assim, o já extinto Giulietta foi o modelo que vendeu mais. O que se passa, mercado? Já olharam bem para o Giulia e para o Stelvio?
Electrões superam VTEC
Um nome outrora fortíssimo como o Civic, começa a não ter expressão no mercado dos compactos familiares. Um dos melhores carros do seu segmento. Não é isento de falhas, como qualquer outro modelo, mas é muito bom. A Honda vendeu 33 unidades do Civic. A Porsche vendeu 38 Taycan. Avançando…
SUV premium vs. best seller
Outro exemplo de como os SUV, e neste caso de segmento premium, são incrivelmente apelativos para o condutor português. O modelo que se segue é, na verdade, um dos poucos SUV de que seria efectivamente comprador, o lindíssimo XC40. Mas ainda assim, não consigo entender como a Volvo conseguiu vender mais unidades do seu SUV mais pequeno do que a Renault do seu incrivelmente completo best-seller – e bem mais barato – Megane.
Musk faz “checo-mate”
Tenho pena que a Skoda não seja em Portugal o sucesso que é noutros mercados. O design dos seus modelos pode até ser, por vezes, excessivamente sóbrio e conservador, mas a qualidade dos seus automóveis é inquestionável. Uma gama completa, em modelos e motorizações, que não convenceu tantos portugueses quanto o Model 3 de Elon Musk. Sim, a Tesla vendeu mais Model 3 do que todos os modelos da Skoda juntos.
Mais coincidência do que surpresa. Ainda assim…
Esta última não é um “elefante na sala” como as anteriores. É mais uma curiosidade, ainda que com valores que considero baixos para a força dos nomes em causa. A Volkswagen vendeu exactamente o mesmo número de unidades do Polo e do Golf. Esta é a coincidência. Mas com apenas 189 automóveis de cada um destes modelos, não deixa de ser surpreendente.
Muitas destas comparações e constatações são ainda a consequência do, esperamos nós, irrepetível ano de 2020. Os seus efeitos são ainda bem notórios nos números agora divulgados e podem, sem dúvida alguma, explicar alguns dos factos estranhos que aqui expus. Ainda assim, a pandemia não explica tudo. Os SUV, ou crossovers, ou CUV ou qualquer outra designação que venham a adquirir já não são um fenómeno. São líderes, sem surpresas, e a electrificação, mais ou menos presente sob as carroçarias dos nossos automóveis, é também uma certeza, algo cada vez mais presente. Disto, já não há dúvidas.
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