Renault Mégane R.S. Trophy: sai da frente, Guedes!
A versão mais extrema do desportivo Mégane R.S. – a Trophy – esteve uns dias na Garagem e as impressões são as mesmas de sempre: é um carro que sim, senhor!
Emoção vs Razão
Estar ao volante de um modelo R.S. é sempre um desafio. Por várias razões! Primeiro, porque estar com um carro de 1420 kg que atinge 260 km/h é uma responsabilidade. Depois, porque chega lá muito depressa. Demora 5,7 segundos no sprint dos 0 aos 100 e, se não temos atenção, quando “damos por ela” já vamos a mais do dobro. Por fim – e não menos importante – porque uma besta destas bebe que se farta.
Quer dizer, para um motor 1.8 litros, turbo, bebe muito. Se fosse um V12 da Aston Martin, um consumo de 12 litros era muito bom. Mas quem paga um V12 britânico está-se “pouco borrifando” para o consumo. Quem paga quase 50 mil euros por este Trophy tenho a sensação de que vai querer ter um pouco de cuidado. Ou então não!
E isto leva-me à segunda questão na minha reflexão pré- ensaio: quem compra a versão Trophy já sabe o que o espera. Já andou pela internet a ver tudo e mais alguma coisa. É, provavelmente, fã da Renault e, na volta, quer um segundo carro para os track days ou para umas voltas em estradas mais sinuosas. Aliás, espero que saiba o que está a comprar. Porque, confesso-te, se queres um Mégane desportivo para o dia-a-dia, compra a versão R.S. “normal”. A que traz jantes de 18 polegadas em vez de 19, a que tem o chassis Sport em vez do Cup, a que tem travões convencionais em vez de bi-material, a que traz bancos “normais” e não tem o diferencial Torsen. Resumindo, a que é para a estrada e não para a pista.
Porque, em boa verdade, é disso que se trata a versão Trophy. De um carro para a pista. Não tão extremo e exclusivo (e caro) como o Trophy-R que o Isaac testou há uns tempos, mas um carro de pista. A versão normal e a versão Trophy são, na generalidade, o mesmo carro. Excepto em tudo o que são diferentes. E essas diferenças fazem a diferença.
A diferença entre ter um carro relativamente confortável e capaz de ser dócil se for necessário e ter um carro que a toda a hora pensa que está a tentar raspar tempos a voltas imaginárias num qualquer circuito. Se gostares da sensação de estar sentado num tijolo, ah vais adorar este carro. O chassis Cup, juntamente com a afinação da suspensão e as jantes de 19 polegadas, tornam o Mégane R.S. Trophy uma delícia em piso liso. Mas não o mais confortável.
Isto tudo, juntamente com o sistema das 4 rodas direccionais, faz com que o carro curve de uma maneira incrível. Se puxarmos o carro o suficiente para dar trabalho ao diferencial, ele junta todas estas peças e cola-se ao alcatrão de tal forma que faz o teu cérebro questionar-se sobre o que está a acontecer. Se não tiveres cuidado e exagerares, vais parar às silvas. Mas é preciso muito para lá ires parar.
Parece que o carro está a girar sobre o seu centro de gravidade. Não sentimos a traseira da maneira a que estamos habituados e, no entanto, sentimos o carro a “puxar para dentro” nas curvas. Dá a sensação de que estamos a derrapar sem estarmos. O sistema 4 Control leva algum tempo a habituar, mas depois de o entendermos, percebemos as suas vantagens. Se gosto? Não particularmente. Lá está. São coisas para ajudar o carro a ser o mais rápido possível em pista… e eu queria divertir-me um pouco – com responsabilidade e alguma retracção – numas curvas.
R.S. vs Trophy
Com isto chegamos à questão central deste ensaio. Qual a versão que vale a pena. Sim, porque isto é tudo muito bonito mas eu tenho de fazer algum consumer advice. Não é só estar para aqui a falar do carro nas curvas e do equipamento (que praticamente ainda não falei, mas resumidamente, tem tudo o que podemos esperar de um carro da Renault, com bons sistemas de segurança, iluminação LED, sistema de som BOSE, câmara e sensores de estacionamento, chave inteligente e a qualidade de materiais e construção está dentro do que se faz no segmento). Também é preciso ajudar-te a tomar decisões, com base na minha experiência com o carro.
Mas se procuras alguém que tome a decisão por ti, vieste ao sítio errado. Eu, se pudesse, tinha todos os desportivos do mercado na minha garagem. Quer dizer, na minha cabeça tenho-os a todos. Ao novos, aos clássicos, aos menos potentes, aos mais potentes. Mas se fosse para adicionar um Mégane desportivo à “colecção”, escolhia o R.S. Tem o mesmo motor do Trophy e tem coisas a menos que, para a utilização que eu lhe daria, são supérfluas.
Não há necessidade de toda aquela evolução. Mesmo a versão R.S. é capaz de te deixar a sorrir e a suar. E em pista, até! O Trophy é para quem quer – e pode – fazer track days, andar em circuitos, etc. Para o cidadão comum, os 44 mil euros do R.S. são suficientes para, primeiro, te deixarem muito feliz e com um carro que, não sendo o melhor para o quotidiano, não compromete assim tanto e, segundo, ter um preço melhor do que a concorrência e 5.500€ mais barato que o Trophy. Um carrão, portanto.
Curiosamente, durante os dias em que andei com o Trophy vi dois R.S. na estrada, em Lisboa. Deve ser a lei da atracção.
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