Novo FIAT 500. Um eléctrico que me interessa, finalmente
Como já disse imensas vezes, reconheço a importância do automóvel eléctrico, mas só me vejo ao volante de um, meu, numa de duas situações: se me obrigarem ou se se tratar de algo muito especial. O eléctrico fascina-me do ponto de vista da beleza inerente à electricidade e dos benefícios, alguns, que esta pode trazer à sociedade e ao meio ambiente. Temos de começar por algum lado, bem sei, mas o automóvel eléctrico, para muitos um transporte limpo e responsável porque o ligamos à tomada para abastecer, não me parece que seja, neste momento, a solução para todos os nossos problemas. Não sei qual é e acho que devemos continuar o caminho para esse objectivo, mas comprar um eléctrico e assim resolver todos os problemas da poluição não me parece ser solução mágica.
Do ponto de vista emocional, nem sei por onde começar. Basicamente, um eléctrico não me satisfaz. Falta-lhe o som, o cheiro e as vibrações, tudo aquilo que para muitos são os defeitos dos motores térmicos que os eléctricos vêm, finalmente, resolver. Mas para mim não. Também não quero saber de eléctricos potentes, pois não só não me entusiasmam, como vão contra os ideais que os entusiastas dos automóveis eléctricos dizem defender. Um eléctrico, para mim, tem de ter a potência adequada e o tamanho certo para a utilização a que se destina com a sua autonomia limitada pela capacidade das baterias. E, se possível, tem de ser bonito, com um design apelativo e distinto para que consiga, assim, convencer-me. E o Novo FIAT 500 convenceu.
Absolutamente irresistível
Eu sei que gostos não se discutem, mas já olharam bem para ele? Também sei que esta edição La Prima tem tudo e mais alguma coisa, mas a base do design do 500 é comum a qualquer outra versão da gama. Com mais cromado, menos cromado, jantes maiores ou mais pequenas, o Novo 500 é um automóvel vistoso. E está cheio de pormenores deliciosos. Desde a silhueta da cidade de Turim ao centro do tablier, aos pequenos 500 escondidos nos forros das portas e ainda no detalhe mais giro de sempre, mais um elemento que distingue o 500, que o diferencia dos restantes e que destaca, uma vez mais, a paixão e o orgulho que os italianos têm na sua história: o som com que o 500 alerta os peões para a sua passagem. Não podia ser apenas o som da nave utilizada pelos Jetsons ou algo como o ruído de um contador Geiger nas imediações de Chernobyl. Essa não é a “FIAT way”. A “FIAT way” é reproduzir breves segundos de uma música italiana, Amarcord, de Nino Rota. Adoro.
O 500 cresceu, mas felizmente não muito. É assim que gosto dele. Pequeno, perfeito para a cidade. Muito maior do que o original, mas adequado ao segmento dos citadinos do século XXI. E se não cresceu muito, não podemos esperar grandes melhorias na habitabilidade, algo que para mim também não é um problema, pois eu gosto é de conduzi-lo. E nos lugares da frente, condutor e passageiro são agora envolvidos por um tablier completamente renovado, mais moderno e equipado com dois displays digitais, um a servir de painel de instrumentos e outro de um completo infotainment. Embora bonito, tenho pena que se tenha perdido a originalidade do desenho do tablier do 500 anterior – que na verdade ainda se vende, relembro – com a mesma cor da carroçaria e com o seu look retro, em perfeita ligação com os seus antepassados. Perdeu a sua vertente mais nostálgica, mas ganhou em conteúdo.
Também cresceu em postura
Ao volante, o 500 é um eléctrico muito divertido de conduzir, muito ágil e enérgico. Os 118 cavalos ajudam, é certo, mas este Novo 500 pisa a estrada de uma forma mais crescida, mais robusta, como se de um automóvel maior se tratasse. Nesse aspecto, comparando com o 500 “não Novo”, gostei da evolução que senti. Gostei de encontrar um carro pequeno com o pisar de um maior. Por outro lado, e embora quase sempre confortável, achei-o, em determinadas situações, um pouco saltitante, sensação talvez explicada pela sua curta distância entre eixos e pelo peso elevado justificado pela presença das baterias. Quanto a modos de condução, estão disponíveis três: Normal, Range e Sherpa. E mesmo sem me focar demasiado nos que dão prioridade a uma superior capacidade de regeneração de energia, não me foi difícil manter o consumo do 500 nos 12 kWh/100 km, um dos valores mais baixos de todos os eléctricos que conduzi. Ainda ao volante, gostei de me sentir um pouco mais baixo no banco, não ficando com a sensação de que estou a pisar os pedais em vez de os empurrar, tal como tinha sentido até então a bordo de todos os pequenos 500 que guiei. Bom trabalho, FIAT.
Eu sei que este La Prima é caríssimo, mas há mais níveis de equipamento, bem como uma motorização menos potente disponível. Este fabuloso Cabrio é, igualmente, mais caro do que as versões fechadas, de 3 portas e a inédita 3+1. Há por isso outras opções a ter em conta dentro da gama se estes quase 38 mil € te assustam. Mas o que me assusta nem é o preço. O que me assusta é o facto de eu ter conduzido um eléctrico e estar entusiasmado com ele, com a possibilidade de ser uma adição mais do que válida e desejada à minha garagem. Não digo que seja o melhor eléctrico do mercado, não o posso afirmar pois não os conheço a todos, mas é bom e é, de longe, aquele que mais feliz me deixou, que mais gozo me deu de utilizar e que mais gostei de observar, enquanto o fotografava a levar com um belo sol de final de tarde. Um eléctrico que gostava de ter e do qual teria orgulho em ter a chave no meu bolso. Chave que podia, na verdade, ter mais “pinta”. Mas pronto, gostei tanto do Novo 500 que tinha de lhe apontar alguma coisa menos boa para que a FIAT volte a elevar a fasquia no próximo, tal como fez, e muito, neste.
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